Alcochete: Nelson relata as agressões aos jogadores do Sporting - TVI

Alcochete: Nelson relata as agressões aos jogadores do Sporting

«Ouvi alguém gritar 'isto correu mal, vamos embora'»

Treinador de guarda-redes do Sporting na altura do ataque à Academia de Alcochete, Nelson Pereira relatou nesta quarta-feira, em tribunal, as agressões infligidas pelos invasores do recinto a jogadores e staff.

«Há uma frase que guardo, quando alguém gritou bem alto: ‘Isto correu mal, vamos embora daqui’. E começaram todos a sair do vestiário. Os jogadores estavam em pânico. Fiquei por ali a tentar dar algum apoio aos jogadores, alguns choravam, outros gritavam que iam embora», começou por afirmar.

«Não consigo dizer que vinham para a conversa, mas também não consigo dizer que vinham deliberadamente para agredir. Percebemos que vinham exaltados: vamos marcar posição, algo do género. Nunca me ocorreu que os adeptos, as claques [fizessem aquilo]. Por isso é que me chocou um bocadinho. Alguém dar com um cinto é inconcebível e deixa-me triste. Alguém perdeu ali o discernimento das coisas e acabou assim. Lido com estas pessoas há 23 anos e sempre fui bem tratado», respondeu Nelson Pereira ao advogado do Sporting e citado pela Lusa.

O técnico encontrava-se no ginásio quando se apercebeu de «um grupo de pessoas a correr no exterior, na zona dos campos de treino, com a cara coberta», algo «anormal e estranho».

Por isso, correu para os balneários. «Já deparo com eles muito em cima de mim e, naquele momento, tentei impedir. Quando falo com um deles, diz-me: ‘Nelson, isto não é contigo, é com o Acuña e o Battaglia’. Respondi ‘não deem cabo disto, não brinquem com isto’. Fui empurrado e entraram.»

No depoimento no Tribunal de Monsanto, Nelson Pereira narrou depois as agressões: «Vi o Misic a ser agredido com um cinto, no tronco. Há uma altura que o Rui Patrício e o William Carvalho estavam de pé no meio daquilo tudo e foram empurrados. Mas havia muito fumo devido às tochas deflagradas e atiradas para o meio do vestiário. Eu apaguei uma delas e há outra que foi lançada e que atingiu o professor Mário Monteiro, já no corredor, quando já estavam a sair.»

O ex-guarda-redes do Sporting só verificou mais tarde que Bas Dost estava ferido e que tanto o treinador Jorge Jesus como o fisioterapeuta Ludovico Marques tinha marcas de violência.

Nelson falou ainda que seu carro foi atingido por uma tocha e por um cinto e que teve de pagar 3.000 euros pelo reparo.

O antigo jogador dos leões lembrou que durante os cinco anos em que foi um dos capitães de equipa esteve presente em reuniões com as claques, sobretudo quando os resultados eram negativos, mas que as mesmas «eram programadas, autorizadas e acompanhadas».

Antes de concluir, Nelson Pereira também abordou a reunião da véspera do ataque com o líder leonino da altura, Bruno de Carvalho.

«O presidente disse-nos que teria de tomar medidas, pois tínhamos falhado um dos principais objetivos da época [acesso à Liga dos Campeões, após derrota 2-1 no Marítimo]. Queria saber do 'staff' quem estava com ele, que quem não estivesse que saísse, pois ia tomar medidas. E lembro-me de ter dito que ainda tínhamos uma taça [de Portugal] para ganhar. Quando entrámos para essa reunião, as notícias que circulavam eram de que o treinador tinha sido despedido. Nós, o 'staff', éramos a equipa que já vinha a trabalhar no clube, independentemente do treinador», explicou Nelson Pereira.

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