Guterres quer apoio internacional à luta contra corrupção em África - TVI

Guterres quer apoio internacional à luta contra corrupção em África

  • ALM com Lusa
  • 9 fev 2020, 13:50
António Guterres

Falava este domingo na sede da União Africana, na sessão de abertura da 33ª cimeira de Chefes de Estado e de Governo da organização, que decorre até amanhã a capital da Etiópia, Adis Abeba. Organização rejeita "plano Trump" para conflito israelo-palestiniano

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu hoje à comunidade internacional mais determinação na luta contra os fluxos financeiros ilegais para complementar os esforços de combate à corrupção dos países africanos.

Tenho testemunhado os esforços de muitos países em África para eliminarem a corrupção, reformar os sistemas de impostos e melhorar a governação das instituições, mas a comunidade internacional deve complementar estes esforços com uma determinação mais forte em combater a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e fluxos financeiros ilegais", disse.

António Guterres falava hoje na sede da União Africana, na sessão de abertura da 33ª cimeira de Chefes de Estado e de Governo da organização, que decorre hoje e segunda-feira na capital da Etiópia, Adis Abeba.

O secretário-geral das Nações Unidas sublinhou que estes flagelos "estão a privar os países africanos de recursos essenciais para o desenvolvimento".

Convidado a participar na reta final dos encontros anuais da organização africana, António Guterres sublinhou também na sua intervenção a importância da cooperação entre as duas instituições, assegurando "apoio total" das Nações Unidas à implementação da agenda de desenvolvimento da UA, a Agenda 2063.

Afirmando-se convicto de que "os desafios de África só poderão ser resolvidos com lideranças africanas", Guterres elogiou a organização por ter assumido como objetivo acabar com os conflitos no continente.

"Silenciar as armas não é apenas sobre paz e segurança, mas também sobre desenvolvimento inclusivo e sustentável e direitos humanos", disse.

Apontando como outras "prioridades urgentes" o combate à pobreza e aos efeitos das alterações climáticas, António Guterres sublinhou que "África tem sido vítima de uma globalização desigual" e a região que mais sofre com as alterações climáticas.

As suas nações precisam de apoio para construírem resiliência e se adaptarem aos inevitáveis impactos futuros. O aumento da temperatura em África é o dobro da média mundial. O ano passado foi devastador", adiantou, lembrando os furacões, as secas e as pragas de insetos que atingiram o continente.

Por isso, defende Guterres, os países e setores industriais com mais emissões de gases com efeito de estufa, que resistem a tomar medidas que permitam manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 graus e alcançar a neutralidade climática em 2050 "têm uma responsabilidade especial".

Se não cumprirem, todos os nossos esforços e, em particular os esforços africanos, serão em vão. Precisamos mais ambição na mitigação, mas também mais ambição no financiamento para ajudar os países africanos mais frágeis a adaptarem-se", acrescentou.

 

A COP25 (cimeira climática) foi uma desilusão. Temos de trabalhar todos juntos para que a COP26 seja um sucesso para que África tenha o apoio que precisa", reforçou.

Retirada do Sudão da lista dos países terroristas

Entretanto, a ONU e a UA apelaram hoje à retirada do Sudão da lista dos países que apoiam o terrorismo e pediram mobilização de apoios internacionais para o desenvolvimento do país.

Está na altura de retirar o Sudão da lista dos Estados que apoiam o terrorismo e de mobilizar apoio internacional massivo que possa permitir ao país ultrapassar as suas dificuldades", defendeu o secretário-geral das Nações Unidas.

Intervindo antes do secretário-geral das Nações Unidas, também o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamta, tinha deixado um apelo aos Estados Unidos para a retirada do país da referida lista, classificando o processo de pacificação do Sudão, após a destituição do presidente Omar al-Bashir, como um "sucesso estrondoso".

"Esta experiência demonstra que se África se dedicar a resolver os seus problemas, juntamente com os parceiros internacionais, pode fazer a diferença", disse.

Os líderes das duas organizações manifestaram, por outro lado, preocupação com o recrudescimento dos conflitos étnicos no continente, bem como com a guerra na Líbia e a fragilidade e demora no cumprimento do acordo de paz no Sudão do Sul.

Nesse sentido, reafirmaram a importância da parceria entre as Nações Unidas e a União Africana na busca de soluções de diálogo para as várias crises que assolam o continente.

O Sudão faz parte da lista norte-americana de países que apoiam o terrorismo desde a década de 1990, quando acolheu Osama bin Laden e outros terroristas.

O Sudão é suspeito de também ter servido de ponte para o Irão fornecer armas para milícias palestinianas na Faixa de Gaza, tendo sido alvo de ataques aéreos contra uma escolta, em 2009, e contra uma fábrica de armas, em 2012, atribuídos a Israel.

A nova administração do Sudão considera que a saída da lista de países que apoiam o terrorismo é fundamental para a reconstrução da sua economia.

Organização rejeita "plano Trump" para conflito israelo-palestiniano

Os dirigentes da União Africana rejeitaram hoje a proposta do presidente norte-americano, Donald Trump, para resolver o conflito israelo-palestiniano, considerando que representa “uma enésima violação das múltiplas resoluções” das Nações Unidas e da própria UA.

O novo Presidente da UA, o chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, comparou o plano norte-americano ao regime do apartheid.

“Lembrou-me a terrível história por que passámos na África do Sul”, declarou Ramaphosa, que sucedeu hoje à frente da organização pan-africana ao Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi.

“A causa palestiniana estará sempre nos corações e pensamentos do povo africano”, tinha declarado Sissi na abertura da cimeira da UA em Adis Abeba.

O plano de Trump apresentado a 28 de janeiro foi muito criticado pelos palestinianos, que acusam Washington de ter elaborado uma proposta demasiado favorável ao Estado hebreu.

Veja também: Proposta de Trump divide ainda mais Israel e Palestina

O projeto norte-americano promete a Israel soberania total sobre Jerusalém, incluindo sobre Jerusalém Oriental ocupada e anexada, assim como sobre o vale do Jordão e outros colonatos na Cisjordânia, também ocupada pelo Estado hebreu desde 1967.

O presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, criticou um plano “elaborado sem qualquer consulta internacional”.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, convidado habitual nas cimeiras da UA, não pode estar hoje em Adis Abeba, mas fez-se representar pelo seu primeiro-ministro, Mohammad Chtayyed, que criticou um “plano unilateral” e “sem legitimidade”.

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