PLAY: o inferno de Paul Gascoigne - TVI

PLAY: o inferno de Paul Gascoigne

PAUL GASCOIGNE

E ainda Amy Winehouse, o Dicionário Sentimental de Futebol e Twin Shadow (ah, e um vídeo de Gazza a tentar cantar)

Relacionados
PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

TODOS OS ARTIGOS DO MESMO AUTOR


SLOW MOTION:

«GASCOIGNE» - Jane Preston

Aos dez anos viu o irmão do melhor amigo a morrer. Atropelado, dois metros à frente do sítio onde estava. «Senti que a culpa era minha. Eu fui o culpado».

Aos 13, o pai teve um AVC. Deixou de trabalhar. Paul via a morte em todo o lado. Sentia-se perseguido. «Comecei a ganhar tiques e a fazer sons estúpidos. Quando saía da escola ia a correr até casa, a fugir não sei de quê».

Os primeiros anos da vida de Gascoigne, trágicos, ajudam a perceber melhor a personagem. «Dramática, complexa, profundamente insegura». A definição é de Gary Lineker, ex-colega no Totenham e na seleção, convidado especial neste excelente documentário, a par de José Mourinho e Wayne Rooney.   

Realizado por Jane Preston, a película respeita a curva cronológica da vida de Gazza. Passa pelos primeiros tempos no Newcastle, pela transferência polémica para o Tottenham e pela ascensão a herói nacional no Itália90.

Há humor e gargalhadas – «a primeira vez que joguei com uma ereção foi depois de cumprimentar a princesa Diana, em Wembley» - e a recuperação de instantes icónicos: o golo à Escócia e a respetiva celebração não podiam ser esquecidos.

A realizadora Jane Preston coloca em segundo plano os últimos anos. O alcoolismo, a dependência de drogas, os problemas mentais são tratados com relativo distanciamento.

Gascoigne porta-se bem, de fato, gravata e olhar esgazeado. O olhar que também o tornou famoso.

De repente, em boa altura, voltamos a perceber o extraordinário futebolista que este homem atormentado foi.

 

PS: «Amy» - Asif Kapadia.
Cinco anos depois de «Senna», o londrino Asif Kapadia volta a filmar a vida de uma celebridade. O surgimento, a fama, a queda, o final em tons miseráveis, decrépitos. Tristes.

A história de Amy Winehouse, falecida em 2011, toca qualquer um. Os abutres que a sobrevoaram, a fragilidade emocional de uma menina sem estabilidade, a voz extraordinária e as músicas que entraram nas nossas vidas.

A transformação física é impressionante, os escândalos em palco sucedem-se – como não pensar no que se passou no palco do Rock in Rio-2008? -, as últimas aparições são uma convulsão demencial de agonia e dor.

Morreu aos 27 anos, como outros grandes: Jim Morrison, Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimmy Hendrix. Uma lista penosa.
  


VIRAR A PÁGINA:

«DICIONÁRIO SENTIMENTAL DE FUTEBOL» - Rui Miguel Tovar.

O amor do autor pelo futebol é a principal nota, da primeira à última página. Amor, sim. Incondicional. Pelas personagens, pelas histórias, pela memória.

De A a Z, de Diego Maradona (figura de capa, ajoelhado) ao malogrado Luciano, um antigo jogador do Benfica falecido em circunstâncias trágicas.

Poucos em Portugal escrevem sobre futebol com a qualidade e a classe de Rui Miguel Tovar, uma enciclopédia humana sobre o desporto-rei e, mais do que isso, um ser-humano fantástico.

Quem o conhece, como eu, sabe que todas os capítulos lhe estão na ponta da língua. Depois, a mestria com que os passa para o papel é uma dádiva. A certeza de que o futebol é um tema maior e que o próprio Rui é um jornalista/escritor/contador de histórias do mais refinado quilate.

Para quem ama o jogo e tudo o que o envolve, um trabalho obrigatório. Carregado de emoção e romantismo (nada contra ramos de flores, mas isto é para quem ama as quase extintas chuteiras pretas com listas brancas).  
 

SOUNDCHECK:

«FOG ON THE TUNE» - Paul Gascoigne.

Nos píncaros da fama, Gazza até músicas lançou. Mesmo sem saber cantar, como o vídeo comprova. Com a Inglaterra conquistada, tudo lhe era permitido.

Segure-se bem, caro leitor, isto pode ser mais doloroso do que as imagens da perna partida de Gascoigne numa célebre final da Taça de Inglaterra.  

     

PS: «Eclipse» - Twin Shadow.
Terceiro álbum, George Lewis Jr. perde o controlo e vai longe de mais.

Ora bem, o que se passa é isto: tudo a favor do revivalismo dos dois discos anteriores, a lembrar o bom pop e os sintetizadores dos 80s, além de uma voz quente e afinada; muito contra a ambição de soar às baladas foleiras de Richard Marx e aos refrões adolescentes dos One Direction neste Eclipse.

Esta associação recente à Warner Bros fez mal ao som dos Twin Shadow. É tudo mau no novo trabalho? Claro que não, Lewis é demasiado bom para estragar tudo de uma só vez. Mas esta ambição desmedida de ser romântico e épico não lhe fica nada bem.   



«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.




      
Continue a ler esta notícia

Relacionados