Um dos momentos bons do meu dia é a “obrigação” matinal de levar o meu filho Miguel à escola.
A viagem é curta mas serve para pôr a conversa em dia e recuperar alguns minutos às horas que não lhe dispenso. É pouco, mas é muito bom.
Falamos do que os pais falam com os filhos. Dos testes, do que falta estudar, do treino de futebol, de um jogo novo, dos irmãos e de tantas outras coisas. Usamos os minutos todos.
Por (de)formação profissional, o som do rádio do carro sobrepõe-se à conversa por breves minutos quando bate o sinal horário.
Hoje, quando baixei o volume, o Miguel reagiu de pronto:
- “Deixa-me ouvir!”
Levantei o som. O tema era o Benfica e, para quem tinha ficado acordado até tarde, o dia nascia sem novidades. Para o Miguel algumas coisas eram novas e a pergunta não tardou:
- "Pai, o Jorge Jesus vai voltar para o Benfica? "
O Miguel tem a curiosidade própria dos miúdos de 7 anos. E, às vezes, as notícias matinais trazem temas novos às nossas conversas. E perguntas de resposta difícil.
A de hoje era das complicas:
- “Pai, o Jorge Jesus vai voltar para o Benfica?”
- "Não sei, filho?"
- "Mas, se vier, isso não é mau?"
Pensava na resposta enquanto estacionava o carro.
- "Mas o Jesus vem mesmo?" - insistia.
- "Ainda não se sabe, filho. Logo falamos."
Lá deixei o Miguel na escola. Sem resposta.
Mas se o Jesus voltar vai ser difícil explicar.
Mais difícil do que quando o rapaz me pergunta pelo Brexit, pela taxa Robles, pela crise na Crimeia ou pela última diabrura do Donald Trump. Essas, embora complexas, parecem menos difíceis de explicar. Agora, a do Jesus vai ser complicada de responder.
A minha esperança é que o Miguel não se lembre que a Direção que o quer contratar é a mesma o acusou de levar computadores da Luz, lhe moveu processos atrás de processos, dizia que não se “podia planear o futuro com Jorge Jesus”.
Coisas de garotos.