Então e a II Liga? - TVI

Então e a II Liga?

Farense-Estoril

«A Técnica da Força»

A Técnica da Força é um espaço de opinião quinzenal de Francisco David Ferreira, jornalista da TVI. Sempre às terças-feiras. Pode seguir o autor no Twitter.

O segundo campeonato profissional terminou mais cedo, sobem Nacional e Farense. Mas, olhando agora, será que foi a decisão mais acertada?
 
Faço um ponto prévio: é claro que é mais fácil opinar e abordar os temas com algumas semanas de distância - e isto é particularmente verdade para o contexto pandémico imprevisível que vivemos. No entanto, a bem da verdade, pessoalmente sempre fiquei com algumas dúvidas sobre o final antecipado da II Liga.
 
Se é verdade que a prioridade nessas semanas era minimizar os estragos de uma doença ainda mais ou menos desconhecida, também era difícil compreender uma decisão tão abrupta, quando era claro que a I Liga ia jogar-se… Mais difícil ficou depois de praticamente todos os estádios dos clubes do campeonato principal terem tido luz verde para receber jogos. Então porque parou a II Liga?
 
Cada vez mais me parece que teria sido possível retomar os jogos. O número de pessoas envolvidas na organização destes jogos é muito menor, as estruturas são mais pequenas, há menos jornalistas, meios mais modestos na transmissão dos jogos. E por aí fora. Os jogadores e árbitros são os mesmos. Seria assim tão impossível criar condições para as equipas jogarem o que ainda faltava? Se tivesse existido mais vontade e empenho (e aqui aponto o dedo a alguns clubes), talvez tivesse sido possível.
 
A questão das infraestruturas é importante. Os estádios de II Liga são, por norma, menos luxuosos que os da primeira, mas repare-se: Desp. Chaves, Estoril, Nacional, Académica (estádio do Euro2004), Penafiel e Feirense estiveram na I Liga há pouco tempo. Suponho que seguramente possuem infraestruturas com as condições necessárias para conseguir organizar os encontros. Estádios como o do Varzim, Mar (Leixões) ou São Luís (Farense), pelo que conheço, não são radicalmente diferentes dos estádios de clubes como o Rio Ave, Moreirense ou Tondela. 
 
Existem seguramente alternativas que até já foram usadas noutras ocasiões para os clubes com menos condições (Aveiro, por exemplo). E mais, se bem se recordam, alguns clubes do escalão principal tiveram tempo para finalizar algumas obras e alterações para poder receber os jogos. Mas será que alguns clubes queriam fazer esse esforço e ter essa hipótese? E a Liga, queria dar essa oportunidade ou preferia optar pelo caminho fácil e evitar dores de cabeça?
 
Acredito que o final prematuro da II Liga não originou mais 'burburinho' mediático por três motivos. Primeiro, porque apenas o Feirense - e talvez Mafra e Estoril - tinham hipóteses de fazer frente a Nacional e Farense na luta pela subida. Se a luta estivesse mais acesa e com mais clubes, as vozes seriam outras. Segundo, porque estes clubes têm mais dificuldade de encontrar espaços de destaque na imprensa - até na mais especializada. E terceiro, porque o fundo de 2,5M€ disponibilizado pela Liga e pela FPF seguramente “relaxou” alguns indecisos, que com a garantia de algumas verbas, terão optado por não “cumprir calendário”. 
 
A título de curiosidade, estive presente no último jogo da II Liga 2019/2020, Leixões-Farense (1-1). Na altura não o sabia, claro. Fui a Matosinhos a convite de um amigo leixonense, e a minha costela algarvia (por parte da avó) aproveitou para rever o Farense. Foi um jogo intenso, nem sempre bem jogado, mas com bastantes adeptos nas bancadas e com espírito competitivo. Gostava de ter visto mais jogos destes esta época. E volto a perguntar: era mesmo impossível?
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