Dra. Andrea: para a próxima use drones   - TVI

Dra. Andrea: para a próxima use drones  

    Henrique Machado
    Jornalista
  • 7 mai 2021, 19:52
Andrea Marques

Artigo de opinião do editor de justiça da TVI

A expressão “livre e consciente” é das mais queridas do nosso Ministério Público quando se refere à forma como agiram os arguidos. Pois a procuradora Andrea Marques, na opinião deste orgulhoso arguido, entrou de forma livre e consciente na História da magistratura portuguesa: não me recordo de maior inimiga da liberdade de imprensa, com afincado desprezo pela primeira lei que lhe cabia proteger. A Constituição da República. E para quê? Para me apanhar as fontes, nobre missão. Por isso me contorço de compaixão ao ler que, nas 58 páginas que a senhora agora me fez chegar às mãos, e em que me acusa de violação do segredo de justiça, “não se logrou apurar” quem me contou no dia 6 de março de 2018 que tinham sido detidas umas ‘toupeiras’ do Benfica. Esse segredo de Estado. Como é que “não logrou”? 

Fez uma aturada investigação de três anos, em que consumiu tempo, dinheiro e meios ao Estado, numa secção especializada no combate à grande corrupção, e diz-me agora que “não logrou” descobrir nada? Zero? Leu uma notícia e, ao fim de três anos, a única coisa que conclui é que foi assinada por mim? Uma criança faria isso em três segundos. Encomendou espionagem de rua à polícia, para saber com quem eu me “relacionava”, e ninguém lhe deu respostas? Sujeitou-se à fama, no processo pelo qual será sempre conhecida, e o proveito é que “não logrou” descobrir nada. Fica para a próxima. Recomendo-lhe drones.  

Só me custa que a senhora magistrada não tenha “logrado” descobrir nada porque até colaborei, dentro dos limites que o código deontológico me impõe, com a justiça. Não me remeti ao silêncio e, nos mais de 20 minutos em que fui interrogado, até lhe confessei que a fonte era judicial, o que por acaso implica o departamento onde a senhora trabalha, no DIAP de Lisboa, onde corria o dito processo E-Toupeira. Pena que a dra. Andrea não tenha “logrado” ir mais longe nesse sentido, tanto que sobre isso não escreveu uma linha em 58 páginas. Ou as minhas declarações só serviam para a descoberta da verdade se “lograssem” incriminar um certo coordenador da PJ, em cujo nome a senhora tanto insistiu? Quero acreditar que não. 

Sem a fonte, lá me acusou. E ainda bem. O que seria perder agora a oportunidade de me defender, perante um Juiz, face ao que esta senhora andou a fazer, em nome do Estado, nos últimos três anos. Para só falar dos meios de prova. Quanto a considerar que o jornalista comete um crime ao noticiar factos de relevante interesse público, contra o que entendem colegas do mesmo DIAP de Lisboa, com base no que diz o Tribunal Europeu, já nem me diz nada sobre esta procuradora. Diz-me mais sobre o desnorte do próprio departamento, cuja diretora, Fernanda Pêgo, deu cobertura a isto tudo. Outra senhora que ficará na História. 

Por último, uma palavra aos meus “co-arguidos”, um jornalista e um coordenador superior da PJ. Entende a genial procuradora acusá-los porque, pasme-se, falaram umas vezes ao telefone. A acusação tem escutas? Não. Tem mensagens com a mínima relevância? Não. Então como é que a senhora sabe que o conteúdo dos telefonemas era sobre processos em segredo de justiça? Porque tem o dom da adivinhação. Não podia acabar estas linhas sem lhe descobrir alguma qualidade.

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