"Não arranjamos mais ninguém a não ser uma pessoa do FMI?" - TVI

"Não arranjamos mais ninguém a não ser uma pessoa do FMI?"

    Manuela Ferreira Leite

Manuela Ferreira Leite considera que António Costa e Pedro Passos Coelho estiveram mal nas suas intervenções sobre as nomeações para o Conselho de Finanças Públicas

Manuela Ferreira Leite considerou, esta quinta-feira, na 21.ª Hora, que António Costa e Pedro Passos Coelho "estiveram mal" nas suas intervenções sobre as nomeações para o Conselho de Finanças Públicas.

E estiveram mal porquê? Porque eu ao ouvir o dr. Pedro Passos Coelho também não sei o que é que ele tinha em mente, mas o que ele deu a entender ao público em geral foi que, caso ele fosse primeiro-ministro, já tinha assinado o papel há que séculos (…) O primeiro-ministro perdeu uma boa ocasião para explicar aquilo que tinha obrigação de explicar: porque é que não aceitava aqueles dois”.

A comentadora da TVI24 alertou ainda para a nomeação de uma pessoa ligada ao Fundo Monetário Internacional e questiona se não haverá melhor solução em Portugal.

Eu se tivesse de nomear aquelas pessoas, não nomeava. E não nomeava porque uma das pessoas que está proposta é uma senhora que fez toda a sua carreira e toda a sua vida no FMI, que foi a chefe da delegação (Teresa Ter-Minassian) da nossa última intervenção quando tivemos intervenção do FMI no país. Era uma pessoa com quem me dei sempre muito bem. Não tem aqui nada de pessoal. É uma questão de principio. Então, nós fizemos uma festa quando saiu a troika (…) e não arranjamos mais ninguém a não ser uma pessoa do FMI? Para vir preencher um lugar que deve haver dezenas de portugueses competentes para o fazer?”

Manuela Ferreira Leite diz ainda que com esta escolha está-se a usar o "Conselho das Finanças Públicas para reforçar o controlo externo nas finanças públicas do país".

Os estatutos dizem que o Conselho de Finanças Públicas pode ter um a dois estrangeiros no seu conselho. E não é que um estrangeiro - que foi constituído na altura em que foi constituído o Conselho - é um alemão. É algo que me deixa absolutamente perplexa. Vejo o nome, não sei quem é, mas às tantas não me admiraria que fosse alguém amigo do ministro das Finanças alemão. No auge das intervenções da troika, de todos os problemas que estávamos a passar, nos constituímos um organismo em que há um reforço do controlo externo e da vigilância externa sobre as nossas contas portuguesas. O que é algo que já sabíamos que existia, mas enfim, é desagradável".

CGD:  "As pessoas só perdem, não ganham nada"

A antiga ministra das Finanças falou ainda sobre o encerramento de balcões nas "zonas desertificadas com população bastante idosa". A comentadora da TVI24 considera que o encerramento nestas zonas está "a ser feito ao contrário" e "as pessoas só perdem, não ganham nada".

E perdem porquê? Retirando-lhes o acesso direto à única coisa que sabem fazer, que é ir ao banco buscar o seu dinheiro, levantar a pensão ou fazer algum pagamento em troca não se lhes pode dar o acesso à informática. Depois ficam mais dependentes do que já estavam. Ficam mais sujeitas até a um problema de segurança: fica-se a saber que as pessoas não vão buscar o dinheiro aos bocadinhos", considerou.

Manuela Ferreira Leite considera que estas decisões mostra que o banco público não "ponderou" a situação em que as pessoas "vulneráveis" vão ficar depois do fecho dos balcões nestas zonas.

Há aqui um conjunto de vulnerabilidades que faz com que se perceba que não se está a tomar em consideração que isto afeta fundamentalmente pessoas de idade, frágeis, dependentes, isoladas. Portanto, está-se a retirar alguma coisa que eles nem sabem bem como vão resolver neste momento".

A comentadora da TVI24 admite, no entanto, que é necessário fechar alguns balcões, mas considera que começar pelo interior “parece um bocadinho excessivo”.

Penso que se o grande problema da CGD fossem uns quantos balcões no interior do país, estávamos todos satisfeitos. Estava resolvido o problema. Mas não é esse com certeza. Será um deles. E se há necessidade de reduzir então, se calhar, mais vale reduzir naqueles sítios em que as populações têm outro tipo de acesso”.

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