Jesús Manuel Corona Ruíz, o génio da caderneta de cromos - TVI

Jesús Manuel Corona Ruíz, o génio da caderneta de cromos

Chuteiras Pretas

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«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Ao ver no sossego possível o Farense-FC Porto, lembrei-me de uma frase memorável do génio Eduardo Galeano. «Todo o campo de futebol cabia nos seus sapatos.» Galeano referia-se a Alfredo Di Stéfano, eu aplico a reflexão a Jesús Manuel Corona Ruíz.

«Ele estava no princípio, no durante e no final das jogadas de golo, e fazia golos de todas as cores.» Di Stéfano, claro, mas também Tecatito Corona. Se não viram a última genialidade do rapaz de Hermosillo, aconselho-vos fortemente a parar de ler e a vê-la AQUI. Até já.

Falar de Corona é fácil. É escrever ao primeiro toque. Organiza. Improvisa. Realiza. Dribla. Economiza. Provoca. Revoluciona. Pensa. Desequilibra. Equilibra. Respira.

Jesus Corona é o artista maior da liga portuguesa. O mais elegante com e sem bola, um malabarista em tempos de colónias penais e campos de concentração no retângulo do jogo mágico. Corona é o sorriso que se julgava perdido, o esteta cercado por punhos fechados e olhares de carranca.

Tecatito embriaga. É capaz de ser veloz como um sprinter e, no instante seguinte, vestir a capa de estratega e pausar o jogo. Não há muitos assim no mundo, atrevo-me a dizer. Jesus Manuel é um futebolista raro, dos mais competentes a tratar a bola em Portugal nas últimas décadas.

Enquanto me deliciava nas diabruras de Corona, procurava na memória outros nomes assim. Quem, em Portugal, fez da classe e da relação apaixonada – até obsessiva – com a bola o seu tratado de competência? Escrevo-os sem pensar, o instinto define a lista.

Krasimir Balakov, claro, o búlgaro que tinha o corpo inteiro ao serviço da perna esquerda. E Valdo, o poeta dos passes serenos. Quem mais? Rabah Madjer, o arquétipo da perfeição, o profeta do calcanhar de Viena. Mais recentes? Jonas, o pistoleiro do remate fácil e frio. Antes dele, Pedro Barbosa, o craque que caminhava mais depressa do que todos os que corriam.

E Deco. Deco, o génio da voz do operário. João Vieira Pinto, Rui Costa, tantos e tantos. Tudo isto para dizer que Corona será capaz de deixar em mim a nostalgia boa que todos estes foram capazes de me deixar. Aquela nostalgia que me amarra aos tempos de infância e à excitação de abrir mais uma carteirinha recheada de cromos.

Jesus Manuel Corona Ruíz terá sempre um lugar especial na minha caderneta.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

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