Para jogar o triplo, o Benfica tem de jogar três vezes mais - TVI

Para jogar o triplo, o Benfica tem de jogar três vezes mais

Chuteiras Pretas

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[atualizado às 11h11 de 9 de dezembro]

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

«Não direi que o Benfica tem de jogar o dobro. Se jogar o dobro, a gente [o Benfica] volta a não ganhar. Temos todas as condições para fazer uma equipa muito forte. Divido a estrutura em duas partes: a estrutura do clube e a estrutura do futebol. A estrutura do futebol, com o presidente, vai reunir uma equipa com grandes jogadores e não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo.»

                                                                                                    Jorge Jesus, 3 de agosto de 2020

Nunca fui um aluno especialmente habilitado em questões matemáticas, mas julgo não estar enganado ao afirmar que o triplo de um é três e que jogar o triplo implica jogar três vezes mais.

Descontando já o tom e o excesso oratório de comício político, naturais numa apresentação oficial - principalmente se o protagonista for Jorge Jesus -, parece-me ser seguro escrever isto: quatro meses depois da promessa feita ao universo benfiquista, a equipa treinada por Jesus não joga o triplo, não joga o dobro e nem sequer joga mais do que jogava no início da época.

Tudo isto se torna ainda mais exclamativo por culpa da expetativa criada. Pelo próprio treinador, pelo presidente que mudou de opinião sobre o mesmo treinador e pelo investimento faraónico aplicado num período de crise financeira profunda e aguda em todo o mundo.

Os mais de 100 milhões injetados por Luís Filipe Vieira podem ter servido para ganhar as eleições, mas deixaram à vista evidentes buracos no plantel. É como se um diligente empreiteiro asfaltasse uma estrada e deixasse zonas por cobrir. Haverá sempre o risco de furo ou acidente.

Essas lacunas têm sido particularmente dolorosas para o Benfica nas duas posições do meio-campo. Gabriel e Pizzi? Weigl e Taarabt? Samaris e Chiquinho? Jesus tem baralhado e voltado a dar, mas as coisas não funcionam. E ouvir o treinador a dizer que Taarabt e Weigl estiveram «fora dela» é bem possível que não favoreça a evolução das águias.

No lado direito da defesa, a lesão de André Almeida e as limitações evidentes de Gilberto não podem sossegar nenhum benfiquista. No lado esquerdo, Grimaldo continua a parar demasiadas vezes por problemas físicos e Nuno Tavares ainda não tem o suficiente para ser titular.

Falta falar do centro da defesa. O Benfica teve a capacidade de levar para a Luz um conceituado internacional belga (Vertonghen), um conceituado internacional argentino (Otamendi) e um prometedor francês ligado ao Barcelona (Todibo). Consequência? O quarteto enferma precisamente dos mesmos males já diagnosticados nos últimos meses de Bruno Lage.

Fragilidade surpreendente na cobertura da profundidade, dúvidas na tomada de decisão na primeira fase de construção e erros individuais constantes.

Nem tudo é mau, evidentemente, e os reforços para o centro do ataque, Darwin e Waldschmidt, têm sido verdadeiras mais-valias. O alemão, aliás, marcou o golo mais imprevisto do Benfica esta época, ao Paços. Os pacenses controlavam, eram mais organizados, tinham mais serenidade e acabaram batidos por uma bola longa (Gabriel) e um fantástico cabeceamento (Waldschmidt).

O Benfica agarrou os três pontos, mas o que mais retive foi a imagem de Jorge Jesus de cabeça perdida depois de um passe errado de Gabriel, a dez minutos do fim. O esquerdino tinha linhas de apoio abertas na esquerda e optou virar tudo, para Pedrinho. A bola acabou a sair pela linha lateral.

Jesus abriu os braços e gritou «o que é isto?». Não é, certamente, o Benfica a jogar o triplo.

PS1: a melhor notícia para Jesus, com nove jornadas da Liga feitas, é ter o seu Benfica a apenas dois pontos da frente. Apesar da desilusão em Salónica e das duas derrotas no campeonato, os resultados não são tão maus como as últimas exibições êm sido. Os dois jogos contra o Rangers na Liga Europa são bons exemplos disto mesmo. 

PS2: «Está muito na moda isso do racismo.» Ser treinador do Benfica obriga Jesus a ter responsabilidade social, um conceito que lhe é absolutamente desconhecido. Este é o discurso dos canalhas que alinham na tese do «vai para a tua terra» quando alguém tem uma cor de pele diferente e um pensamento contrário. Miserável. A comunicação/direção do Benfica têm a obrigação de fazer um pedido de desculpas público. 

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

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