Pepa, um treinador que faz golos a partir do banco - TVI

Pepa, um treinador que faz golos a partir do banco

Chuteiras Pretas

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«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Há uns anos, certamente mais de dez, estava em casa a ver uma reportagem sobre a chegada de um novo treinador ao Benfica. O jornalista escutava a opinião dos populares, algumas mais acertadas do que outras, até que apontou o microfone a um miúdo de sete/oito anos.

- O que esperas do teu novo treinador? 
- Que marque muitos golos.

As crianças são maravilhosas. Verdadeiras e certeiras. São as únicas capazes de ver o Papa e tratá-lo por tu; ou de entrar numa cerimónia formal e puxar a saia a alguma das madames de ocasião. Os miúdos querem sempre ver mais, querem mais, e por isso também querem um treinador que entre em campo e faça golos. De minha parte, nada contra.

Ora, pelo que vejo há um bom par de anos, Pepa seria um treinador perfeito para o miúdo que via o tal treino na Luz. O antigo avançado – lá está – tem demonstrado competência acima da média e trabalhos inatacáveis em Tondela e em Paços de Ferreira.

Gosto de muitas coisas em Pepa, apesar de nunca ter falado com ele, a não ser em conferências de imprensa. Para começar, gosto que não tenha abandonado a alcunha que sempre o acompanhou no futebol. O avançado era Pepa, o treinador continua a ser Pepa. Muito bem.

Gosto também da postura que tem nos contactos com os jornalistas. Pepa diz o que pensa, não é calculista, não está a falar e a pensar «não posso dizer isto porque vou chatear alguém». É genuíno e sabe argumentar, não foge ao choque quando tem de ser e é sério.

Esta época, depois do Paços-Sporting e de uma exibição dececionante da sua equipa, Pepa chegou à sala de imprensa e verbalizou o que eu escrevera na crónica do jogo, minutos antes: «Fizemos zero remates à baliza deles. Isto é impensável.»

Gosto da qualidade de jogo do Paços, avessa ao pensamento único e à estúpida obsessão de sair a jogar sempre curto, mesmo quando a espada inimiga se aproxima vertiginosamente da barriga. Pepa lê bem o que se passa na relva, adapta a equipa às diferentes réplicas, recusa morrer agarrado a ideias tão idílicas quanto absurdas.

Pepa é um tipo de modos simples e visivelmente inteligente. Esperto. Tem trabalho e capacidade para subir rapidamente um ou dois patamares na carreira. Não tem o cabelo cheio de gel, não tem os fatos de melhor corte, não tem frases cliché, não tem uma ambição desmedida, não aceita o que lhe colocam à frente.

Há timings certos e tiros no escuro. Há presidentes que contratam treinadores por culpa de trabalhos feitos uma década antes e há cavalheiros que se envolvem com mulheres fatais fora do prazo. Lembro-me de um rapaz de um reality show e dos seus olhos felizes, felizes por abraçarem o que tantos homens também desejavam abraçar… 20 anos antes das operações plásticas.

Pepa não é um treinador do antes ou do depois. É um treinador do agora. E já demonstrou que consegue fazer golos a partir do banco. Está na altura de ser levado muito a sério. 

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

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