Óscares: uma "festa morna" que acabou com um sorriso amarelo - TVI

Óscares: uma "festa morna" que acabou com um sorriso amarelo

    Vítor Moura
    O editor e apresentador do <b>Cinebox</b> trabalha no universo da Media Capital desde 1999, o ano em que ingressou nas rádios do grupo, primeiro como repórter e depois como pivot dos noticiários da Rádio Comercial, Rádio Nostalgia, Cidade FM, Best Rock e Mix FM. <br /> <br />Em 2005, foi uma das vozes do relançamento do Rádio Clube Português onde acabou por assumir a Direção, depois de ter sido Chefe de Redação, Editor de Sociedade, Editor de Cultura e pivot de diversos programas de Informação e emissões especiais. <br /> <br />A relação com o Cinema começou nos projetos de Rádio e prolongou-se em várias colaborações com a imprensa escrita, nomeadamente a revista Visão, o jornal Público e a edição portuguesa da revista Première onde foi crítico residente durante 8 anos. <br /> <br />Na televisão, as entrevistas às grandes figuras da 7ª Arte e as reportagens das estreias e festivais começaram em 2003 e mantêm-se desde essa altura na Informação e em vários programas da TVI. A ligação aos Óscares começou mais cedo: desde o ano 2000 que comenta a transmissão da cerimónia também na TVI. <br /> <br />Na TVI24, é um dos rostos do canal desde o lançamento, em Fevereiro de 2009, com o magazine por onde passam, semana após semana, actores, realizadores e produtores, muitas vezes em exclusivo nacional. Também comenta regularmente as estreias do cartaz nacional em vários espaços informativos. <br /> <br />Jornalista profissional desde 1996, é licenciado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
  • 26 abr 2021, 12:22

Artigo de opinião do editor e apresentador do CoolBox, Vítor Moura

E o Óscar foi para… “Nomadland”. Ao drama sobre os novos nómadas da América, só faltava ganhar o prémio máximo da Academia de Hollywood. E assim aconteceu numa festa que também confirmou o favoritismo de Chloé Zhao. Em 93 anos, a cineasta de origem chinesa foi a segunda mulher (e a primeira asiática) a conquistar o Óscar de Melhor Realização.

Foi um reconhecimento histórico numa edição que já era a mais feminina de sempre nas nomeações. Se Zhao ganhou duas vezes (como produtora e realizadora), Frances McDormand não ficou atrás: também ganhou como produtora e ainda levou para casa o Óscar de Melhor Atriz (o terceiro da carreira) a citar MacBeth: “A minha voz é a minha espada”. A espada dos atores, lembrou, é o trabalho que fazem e “obrigado por saberem isso”.

Mais inesperado foi o Óscar de Melhor Ator para Anthony Hopkins (o mais velho de sempre a conquistá-lo). O prémio póstumo para Chadwick Boseman por “Ma Rainey: A Mãe dos Blues” era dado como certo há várias semanas, mas o mais votado acabou por ser o protagonista de “The Father”. O drama sobre a demência, com estreia marcada em Portugal para 6 de maio, ainda valeu ao francês Florian Zeller o Óscar de Melhor Argumento Adaptado.

Naquela que foi também a edição mais diversa de sempre, os prémios para os melhores secundários foram exatamente para quem se esperava. A sul-coreana Yuh-Jung Youn ganhou o Óscar de Melhor Atriz Secundária com “Minari”. Daniel Kaluuya ganhou o Óscar de Melhor Ator Secundário com “Judas and the Black Messiah”, um drama histórico sobre o movimento dos Black Panthers que também conquistou o Óscar de Melhor Canção Original (H.E.R. com “Fight for you”).

“Mank” era, à partida, o filme mais nomeado e acabou por ser o maior derrotado da noite. O biopic sobre Herman Mankiewicz, o argumentista de “Citizen Kane”, só confirmou duas das 10 nomeações: fotografia e direção artística. “Ma Rainey: A Mãe dos Blues”, outra produção da Netflix, só vingou no Guarda-Roupa e Caracterização e Cabelos. “Sound of Metal” ainda alimentou algumas esperanças a Riz Ahmed na corrida a Melhor Ator, mas ficou-se pelo Melhor Som e Melhor Montagem.

“Soul”, da Disney, ganhou os Óscares de Melhor Filme Animado e Melhor Banda Sonora, sem surpresa. E o mesmo se pode dizer da consagração do dinamarquês “Another Round” com o Óscar de Melhor Filme Internacional. Já a corrida a Melhor Documentário era mais renhida: a vitória de “My Octopus Teacher”, não sendo completamente previsível, parece justa.

Amor ao Cinema foi o que Steven Soderbergh e a restante equipa de produção tentaram mostrar numa transmissão que excedeu as 4 horas de duração, mas não cumpriu as melhores expectativas. A festa acabou por ser morna, sem grandes picos de emoção nem grandes rasgos criativos. Despachar a apresentação das canções nomeadas para o “pre-show” foi despropositado. As ligações por satélite a várias cidades estrangeiras, sobretudo na Europa, foram pouco mais que um apontamento. O cenário principal montado na Union Station, na baixa de Los Angeles, não criou o intimismo que se esperava, até porque os nomeados foram cedendo o lugar a outros nomeados ao longo da noite.

Baralhar a ordem tradicional dos Óscares também não correu bem: a dupla consagração de “Nomadland” com Melhor Filme e Melhor Realização antecedeu o anúncio da Melhor Atriz e Melhor Ator. O pior foi chamar Anthony Hopkins mesmo no final e, na ausência dele, dar a festa por terminada. O apresentador de serviço Joaquin Phoenix não disfarçou o sorriso amarelo com anti-clímax. A maior celebração do Cinema merecia melhor. E nós também. E ainda não foi desta que Glenn Close ganhou um Óscar. Parece ficção, mas é a realidade.

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