E o Óscar foi para… “Nomadland”. Ao drama sobre os novos nómadas da América, só faltava ganhar o prémio máximo da Academia de Hollywood. E assim aconteceu numa festa que também confirmou o favoritismo de Chloé Zhao. Em 93 anos, a cineasta de origem chinesa foi a segunda mulher (e a primeira asiática) a conquistar o Óscar de Melhor Realização.
Foi um reconhecimento histórico numa edição que já era a mais feminina de sempre nas nomeações. Se Zhao ganhou duas vezes (como produtora e realizadora), Frances McDormand não ficou atrás: também ganhou como produtora e ainda levou para casa o Óscar de Melhor Atriz (o terceiro da carreira) a citar MacBeth: “A minha voz é a minha espada”. A espada dos atores, lembrou, é o trabalho que fazem e “obrigado por saberem isso”.
Mais inesperado foi o Óscar de Melhor Ator para Anthony Hopkins (o mais velho de sempre a conquistá-lo). O prémio póstumo para Chadwick Boseman por “Ma Rainey: A Mãe dos Blues” era dado como certo há várias semanas, mas o mais votado acabou por ser o protagonista de “The Father”. O drama sobre a demência, com estreia marcada em Portugal para 6 de maio, ainda valeu ao francês Florian Zeller o Óscar de Melhor Argumento Adaptado.
Naquela que foi também a edição mais diversa de sempre, os prémios para os melhores secundários foram exatamente para quem se esperava. A sul-coreana Yuh-Jung Youn ganhou o Óscar de Melhor Atriz Secundária com “Minari”. Daniel Kaluuya ganhou o Óscar de Melhor Ator Secundário com “Judas and the Black Messiah”, um drama histórico sobre o movimento dos Black Panthers que também conquistou o Óscar de Melhor Canção Original (H.E.R. com “Fight for you”).
“Mank” era, à partida, o filme mais nomeado e acabou por ser o maior derrotado da noite. O biopic sobre Herman Mankiewicz, o argumentista de “Citizen Kane”, só confirmou duas das 10 nomeações: fotografia e direção artística. “Ma Rainey: A Mãe dos Blues”, outra produção da Netflix, só vingou no Guarda-Roupa e Caracterização e Cabelos. “Sound of Metal” ainda alimentou algumas esperanças a Riz Ahmed na corrida a Melhor Ator, mas ficou-se pelo Melhor Som e Melhor Montagem.
“Soul”, da Disney, ganhou os Óscares de Melhor Filme Animado e Melhor Banda Sonora, sem surpresa. E o mesmo se pode dizer da consagração do dinamarquês “Another Round” com o Óscar de Melhor Filme Internacional. Já a corrida a Melhor Documentário era mais renhida: a vitória de “My Octopus Teacher”, não sendo completamente previsível, parece justa.
Amor ao Cinema foi o que Steven Soderbergh e a restante equipa de produção tentaram mostrar numa transmissão que excedeu as 4 horas de duração, mas não cumpriu as melhores expectativas. A festa acabou por ser morna, sem grandes picos de emoção nem grandes rasgos criativos. Despachar a apresentação das canções nomeadas para o “pre-show” foi despropositado. As ligações por satélite a várias cidades estrangeiras, sobretudo na Europa, foram pouco mais que um apontamento. O cenário principal montado na Union Station, na baixa de Los Angeles, não criou o intimismo que se esperava, até porque os nomeados foram cedendo o lugar a outros nomeados ao longo da noite.
Baralhar a ordem tradicional dos Óscares também não correu bem: a dupla consagração de “Nomadland” com Melhor Filme e Melhor Realização antecedeu o anúncio da Melhor Atriz e Melhor Ator. O pior foi chamar Anthony Hopkins mesmo no final e, na ausência dele, dar a festa por terminada. O apresentador de serviço Joaquin Phoenix não disfarçou o sorriso amarelo com anti-clímax. A maior celebração do Cinema merecia melhor. E nós também. E ainda não foi desta que Glenn Close ganhou um Óscar. Parece ficção, mas é a realidade.