“É um exagero que um político não possa receber sequer um cinzeiro de alguém” - TVI

“É um exagero que um político não possa receber sequer um cinzeiro de alguém”

    Manuela Ferreira Leite

Manuela Ferreira Leite, em comentário na TVI24, analisa Lei da Transparência e sublinha que existem suspeitas sobre a classe política “quase irrespiráveis”. Já sobre a polémica no apoio às artes defende que o trabalho da comissão “não ficou claro”

Manuela Ferreira Leite considera “insuportável” o ambiente de suspeição que existe em torno da classe política. A propósito da Lei da Transparência, que está em debate no Parlamento, a comentadora admitiu na TVI24 que existe corrupção, mas sublinhou que não se deve generalizar.

No comentário semanal de atualidade política na “21ª Hora”, Manuela Ferreira Leite considerou que alguma da legislação na matéria tem sido desmesurada.

Tem havido já várias leis sobre esta matéria, em que se definem as incompatibilidades, as regras éticas que têm de ser seguidas, penso que algumas bastante excessivas, como, por exemplo, não é possível um político neste momento receber uma lembrança de alguém, nem que isso seja um cinzeiro da Vista Alegre”, sublinhou.

 

Acho um exagero porque, de cada vez que se pega neste tipo de matéria e se legisla sobre ela, introduzem-se mais restrições, introduzindo no fundo mais suspeitas do que aquelas que eu acho seriam normais sentir-se, porque em qualquer classe, em qualquer profissão, existe sempre alguém que tem comportamentos inaceitáveis. Mas eu considero que isso, e aquilo que é normal, é que isso seja a exceção, não seja a regra”, acrescentou.

A antiga líder do PSD admitiu que existe corrupção, mas defendeu que “não se pode generalizar” e achar que qualquer pessoa que se dedica a uma atividade política é corrupta: “Da mesma forma que não o faço relativamente a outro tipo de profissões”, defendeu.

Para Manuela Ferreira Leite, atualmente há um estigma, uma “suspeição generalizada” sobre a classe política, em que os próprios políticos não acreditam nos controlos que já existem.

Cada vez que se legisla, são os próprios deputados, os próprios membros do Governo, que são eles próprios que fazem as escolhas das pessoas que, por exemplo, vão para as listas de deputados e que se vão candidatar, pensam que isso não é suficiente e cada vez apertam mais os controlos que se deve fazer sobre as pessoas. O que significa que lançam uma suspeição de tal forma pesada sobre a classe política que neste momento direi que é quase irrespirável”, considerou.

Sobre o que disse ser a “total afetação da classe política e da democracia”, a comentadora afirmou que "começa a ser generalizada a várias coisas".

“Há um clima de suspeição neste momento que começa nos políticos, e aí acho que ninguém se salva, e acaba no futebol. Nós já vemos os jogadores, que dão um pontapé na bola e ela em vez de entrar na baliza vai ao lado, considerar que, se calhar, estão comprados pela equipa contrária”, rematou.

Trabalho da comissão no apoio às artes "não ficou claro"

Sobre a polémica dos apoios financeiros às artes, em que o Governo é acusado de falta de critério na atribuição de verba às instituições, Manuela Ferreira Leite mostrou-se perplexa com a falta de esclarecimento sobre o trabalho da comissão que foi criada para que a atribuição dos financiamentos fosse feita de forma independente.

“Se pensarmos que a comissão atuou corretamente, então podemos considerar que agiu corretamente e, agora, a posteriori, vai-se fazer correções que não têm nada a ver com os critérios da comissão, mas que mais uma vez têm a ver com os critérios políticos. Portanto sobrepomos os dois critérios: o critério novo e o antigo”, realçou.

“Não ficou claro, e isso eu acho que devia ter sido, qual foi o trabalho da comissão, que critérios seguiu e por que é que chegou a determinado tipo de conclusões. Isso acho que as pessoas não sabem. Portanto, esse aspeto acho que devia ter ficado claro", concluiu.

 

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