Constança Cunha e Sá fez notar que o Presidente da República disse que «só tinha informação do BES por via do governo e do BdP e veio a provar-se agora que não é verdade. Teve informações privilegiadas, também, por via do próprio Ricardo Salgado».«O problema do Presidente foi ter-se pronunciado sobre essa matéria» e «induziu em erro os portugueses, esse é que é o problema», quando «tomou como boas essas informações», vindas do Banco de Portugal e do Governo, de que «não havia problema nenhum no BES». «É suposto os portugueses levarem a sério o Presidente da República. É suposto. Se ele acha que não, que ele dizer uma coisa ou não dizer, é a mesma coisa que o Zé da esquina…»
O ex-presidente do BES enviou, na quinta-feira, uma carta à comissão de inquérito parlamentar sobre o caso, a detalhar as reuniões que teve com os responsáveis políticos, meses antes da derrocada do Grupo Espírito Santo, que levou por arrasto o BES. Com Cavaco Silva, teve dois encontros, em março e maio de 2014, para pedir «apoio institucional» para a situação, alertando, já nessa altura, para os «riscos sistémicos» do banco.
«Ele [Cavaco Silva] bem pode dizer que tem 2.500 audiências e não se lembra de todas, mas não é todos os dias que lhe aparece o presidente do terceiro maior banco português a dizer que o banco está à beira da falência», sustenta Constança Cunha e Sá.
«É evidente que ele [Cavaco Silva] percebe perfeitamente que deve explicações aos portugueses». Por isso, a comentadora da TVI24 defende que o Presidente da República «não perdia nada em ir à Assembleia da República, responder aos deputados, em vez de dar estas respostas tortas».
«O que se trata aqui não é revelar teor da audiência, mas com que base e de que forma fez as declarações que fez». «Faltou à verdade quando disse que as únicas informações que tinha eram do Governo. Agora prova-se que não é assim, Ricardo Salgado expôs pormenorizadamente a situação»
«Temos um grupo de pessoas altamente colocadas [ministra das Finanças, primeiro-ministro, vice-primeiro-ministro e Presidente da República], principais responsáveis políticos, a dizerem que o BES era uma coisa e o GES outra, e já sabiam que o BES estava fragilizadíssimo pela exposição ao GES. Isso chama-se enganar os portugueses. Cavaco Silva tem obrigação de explicar, nem é a audiência que teve, é as suas próprias palavras», disse ainda.
Sobre o risco de pobreza, que já afeta quase dois milhões de portugueses, Constança Cunha e Sá falou num «retrato calamitoso».