O diabo do défice - TVI

O diabo do défice

    Constança Cunha e Sá
    Constança Cunha e Sá é formada em Filosofia pela Universidade Católica de Lisboa. Antes do jornalismo, foi professora de filosofia. Começou a sua carreira de jornalista na revista Sábado e um ano depois integrou o jornal INDEPENDENTE. Foi aqui que se revelou o seu estilo jornalístico, tendo assinado uma coluna de opinião no jornal. Foi ainda Diretora-adjunta e Diretora do INDEPENDENTE. Ainda nos jornais foi redatora-principal no Diário Económico. Depois da imprensa escrita integrou a TVI como Editora de Política e mais tarde como jornalista e comentadora. Escreve semanalmente no jornal I, com a coluna de opinião «FEIRA DA LADRA», anteriormente escreveu no Jornal de Negócios, Público e Correio da Manhã. Na TVI24 modera o programa A PROVA DOS 9 às 5ªas feiras, e tem o seu espaço de opinião diário às 21h00.
Parlamento

Constança Cunha e Sá, jornalista e comentadora da TVI escreve sobre o défice

Ontem era o défice e o famigerado rigor orçamental que a esquerda nunca aceitaria. Maria Luís Albuquerque, essa espécie de oráculo que alumia os corredores da São Caetano, garantia (com um saber todo de experiência feito, diga-se em abono da verdade) que esse glorioso feito nunca veria a luz do dia. Entre a notória irresponsabilidade das reversões e a manipulação continuada das contas públicas, o país caminharia inevitavelmente para o caos e para a desordem, com a Europa a dar cabo deste arranjo governativo por via de medidas adicionais e de sanções apropriadamente decididas. Era o Diabo que aí estava, ao virar da esquina, como entusiasticamente anunciava  Pedro Passos Coelho, dando-lhe, desde logo, as boas vindas.

Infelizmente, a esquerda, indo contra a sua própria natureza, decidiu que, desta vez, não havia vida para além do défice. Este, por obra a graça da Europa, foi-se transformando, ao longo do ano, num dos grandes trunfos da sua política. Depois de mandar às malvas o investimento público e de se ter esmerado nas cativações, o Governo pôde cantar vitória, acenando gloriosamente com o défice mais baixo da história da democracia. Seria de esperar que perante este precioso triunfo, os que sempre tinham garantido que tal nunca se realizaria dessem a mão palmatória e fossem pregar para outra freguesia. Seria esperar de mais, como é óbvio.

E se ontem era o défice que nunca se cumpriria hoje é o cumprimento do défice que veementemente se critica. Porque devia ter sido conseguido de outra forma. Porque houve medidas extraordinárias como, aliás, houve sempre em todos os exercícios orçamentais. Porque o investimento público, até ontem diabolizado, foi agora sacrificado. Em última análise, porque sim. Evidentemente, se o Governo não tivesse cumprido, estas boas almas estariam em fúria, gritando contra o descalabro das contas públicas, a irresponsabilidade das reversões ou a exigência imediata de mais medidas de consolidação – isto para dar só alguns exemplos do que por aí se ouviria. Confuso? Só para quem não dá o devido valor à elasticidade da pequena táctica partidária. E, neste particular, o PSD é exímio. De tal forma que, em momentos mais criativos, o partido ainda consegue a proeza de reivindicar a paternidade desse mesmo défice que tanto critica. É obra!

 

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