Se Trump não presta, o que valem todos os que estavam contra ele? - TVI

Se Trump não presta, o que valem todos os que estavam contra ele?

  • Sérgio Figueiredo
  • 9 nov 2016, 20:46
Donald Trump

A opinião do diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, sobre a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas

Perde Hillary mas também Obama. Perde a cultura e a finança, as estrelas de Hollywood e os académicos de Harvard, perdem os políticos e os jornalistas, os cronistas e os croniqueiros. Como se pode dizer que foi a elite quem perdeu, se o homem não é do povo? Fala para ele, mas é empresário e bilionário.

Se é a vitória de um homem só, o que valem então todos aqueles que estavam contra ele? Como dizia Paulo Portas no Jornal das 8, terça à noite e a escassas horas do fecho das urnas, a campanha de Trump era ele próprio, a sua família e Clint Eastwood. O resto, as famílias, democratas e republicanas, os Clinton e os Bush, Bloomberg e companhia, não estavam todos por ela mas estavam em uníssono contra ele.

Problema deles? É nosso, se é que é um problema. Todos diziam que o homem era asqueroso, que as suas ideias uma ameaça. Todos eram os mesmos de sempre, eramos nós, os que escrevem nos jornais e falam nas televisões, os que têm acesso à comunicação social. O establishment falava de um extremista, mas afinal Donald Trump representava a média. A classe média. O eleitor médio. A média é o meio. A média está com medo.

Medo do exterior, de tudo o que vem de fora. Produtos, empresas, pessoas, ideias. A antítese venceu a tese. Temos de admitir, com toda a humildade, que a vitória de Trump foi a nossa derrota. Que, no princípio disto tudo, fácil foi menosprezá-lo. Como agora será perigoso fingir que isto é “coisa deles”. Uma americanice. Só eles, que elegem e reelegem um negro a Presidente. E, ato contínuo, depois o substituem por alguém que, pela raça e pelos credos, discrimina os seres humanos.

Credo! Que ingénuos que fomos, pensando que diabolizando o Diabo, a cruz acabaria por cair nas costas dele. Porque afinal as cruzes foram parar aos boletins de votos. E ninguém se pode rir ao espelho, porque também nós vivemos com Trump, instalaram-se aqui, coabitamos, alguns até são da nossa família. O mundo vai fechar-se e não é só na América que gostam disso.

Estamos incrédulos porque ainda não percebemos. Lamentar não é entender. E, para entender, não basta maldizer, fazer a catarse buscando a culpa alheia. Para compreender o mundo que estamos a deixar aos nossos filhos é preciso responder à tal questão que, país a país, crise após crise, demora aflitivamente a ter resposta: se ele era assim tão mau e se todos derrotou, se à maioria convenceu, se essa maioria nos ignorou, a nós, os derrotados, então o que valem todos os que perderam e agora se chocam?!

É verdade, cheira a Trump. Tresanda lá e cá. Não há ciência política nisto, constatamos apenas que antes de Trump houve Brexit, antes de Brexit os palhaços ganharam eleições em Itália, os “lepenistas” cavalgam em França e até os piratas conquistam os eleitores na Islândia exemplar. Gente a mais para ser azar. Demasiados casos para serem um mero acaso. 

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