Elogio ao Gil Vicente (e a Vítor Oliveira) - TVI

Elogio ao Gil Vicente (e a Vítor Oliveira)

Gil Vicente-Sporting

«A Técnica da Força»

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A Técnica da Força é um espaço de opinião quinzenal de Francisco David Ferreira, jornalista da TVI. Todas as terças-feiras.

No papel, a equipa de Barcelos parecia a grande candidata a cair na II Liga. À 12ª jornada, já venceu o FC Porto e Sporting, travou Braga e Boavista, e está confortável longe da linha de água. Com heróis improváveis num plantel surpreendentemente bem estruturado.

Começo este texto com uma confissão: antes do arranque da época, em conversas informais com companheiros de profissão e alguns amigos, nunca hesitei em colocar o Gil Vicente como o «meu» principal candidato à descida. Os ingredientes pareciam estar todos lá: plantel construído do zero, poucos nomes com experiência na I Liga, salto do Campeonato de Portugal para o escalão máximo após um ano a jogar sem qualquer exigência competitiva... Cenário pouco animador para um clube de sobe e desce, que historicamente viaja entre o primeiro e o segundo escalão. Ainda vamos em dezembro, mas a equipa de Barcelos teima em contrariar a minha previsão. A vitória contra o Sporting foi só mais um capítulo desse trabalho surpreendente.

Vítor Oliveira não escondeu as dificuldades que tinha pela frente, e disse mesmo que este era o projecto «mais difícil» da carreira. Se tivermos em conta que o «Rei das Subidas» treina há mais de 30 anos, não é uma afirmação que passe despercebida. Aos poucos começaram a chegar jogadores, mais ou menos conhecidos, como os experientes Rúben Fernandes ou Claude Gonçalves, outros absolutamente anónimos, como Arthur Henrique ou Rodrigão.

A vitória sobre o FC Porto logo a abrir a época foi um primeiro sinal: Vítor Oliveira está em Barcelos para fazer das suas. Surpreendeu-me, não nego (e acho que o FCP não esperava um adversário tão competitivo). O empate com o Braga e a vitória sobre o Sporting confirmaram a tendência, e já ficou provado que o Gil não subiu à Primeira para ser saco de pancada, mas para fazer a vida negra a quem tiver de jogar em Barcelos. Estes resultados assentam num plantel que me parece pensado de forma cirúgica e a aproveitar a sabedoria do experiente Vítor Oliveira. A destacar:

Soares e Sandro Lima. Porquê? Têm sido peças muito importantes no esquema do Gil Vicente, e são claramente apostas pessoais de Vítor Oliveira. O técnico não teve medo em depositar confiança em dois jogadores com pouca rodagem de Primeira. Sandro Lima passou sem sucesso pelo Rio Ave, mas mostrou qualidade no Académico Viseu e Estoril. Salta com 29 anos para a Liga e já leva 7 golos em jogos oficiais. E Soares, 30 anos: o ano passado jogou no despromovido Arouca (!), vinha de dois anos no Cova da Piedade e parecia difícil ter novamente oportunidades no escalão máximo. Oliveira confiou e o brasileiro devolveu: é um dos mais utilizados. Penso que esta dupla personifica bem a perspicácia do Gil no mercado, a olhar (bem) para as divisões secundárias.

A estas apostas com dedo de Vítor Oliveira, junta-se um grupo interessante de jovens estrangeiros com fome de sucesso. Destaco João Afonso, médio bem interessante: jogou quase sempre na Série B do Brasil até viajar para Portugal. Ygor Nogueira, defesa-central, tinha tido poucos minutos no Fluminense, veio para Barcelos e parece estar a lançar a carreira. E claro, Kraev, o búlgaro emprestado pelo Midtjylland, um jogador muito dinâmico e com muita vontade de estar sempre em jogo. O Gil Vicente também acertou no guarda-redes: Denis, antigo titular do São Paulo, experiente e em bom plano. Na minha opinião, dos melhores do campeonato.

Podemos dizer que à 12ª jornada ainda está tudo em aberto. É evidente. Mas oito pontos de conforto para os lugares de descida são um sinal inequívoco de que a época pode ser muito tranquila, ao contrário do que seria teoricamente provável no início do ano. Aplauso para Vítor Oliveira, que reúne qualidades que aprecio muito nos treinadores: pragmatismo e organização absoluta. O Gil sabe o que tem de fazer em campo. Numa equipa sem estrelas, está a brilhar o colectivo… longe de uma descida quase anunciada. Contra mim falo.

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