O FC Porto e a importância de escolher o treinador certo - TVI

O FC Porto e a importância de escolher o treinador certo

Portugal-França (Foto EPA)

«O golo do Eder»

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Um dia, um treinador da nossa praça, no final de uma entrevista, disse-me que em Portugal se caminhava para uma desvalorização preocupante do papel do treinador. Disse-o numa altura em que o FC Porto ganhava campeonatos atrás de campeonatos e nas bocas do povo corria a ideia de que qualquer um naquela casa era campeão. Dizia ele que era um perigo pensar assim, porque poderiam começar a acreditar que era mesmo verdade.

O tempo encarregou-se de provar que o treinador continua a ser a peça mais importante da engrenagem.

Ao contrário do que muitos defendem, continuo a achar que o principal problema do FC Porto nestes anos foram os sucessivos erros na escolha de treinador. Não pela qualidade dos que escolheu, embora também mereça ser discutida, mas sobretudo por vários outros aspetos como o timing, o plantel que serviu de instrumento de trabalho, a estratégia usada ou o desconhecimento da realidade.

O Benfica é um bom exemplo: acredito que Luís Filipe Vieira não tenha achado que Rui Vitória era melhor treinador do que Jorge Jesus. Simplesmente pensou que era o treinador certo para o rumo que pretendia dar ao clube.

O FC Porto tem tido evidentes insucessos nas escolhas. Com Paulo Fonseca cometeu o erro de não perceber a dimensão do exército rival, encurtando a qualidade da equipa e fazendo o técnico sofrer por acréscimo. Com Lopetegui veio a maior hecatombe. Porque a expectativa também era a mais elevada. A pressa de voltar a ganhar para calar os que falavam em fim de ciclo após o primeiro título perdido, levou a um dinamitar de tudo o que sempre foi o clube, em prol de um grupo de qualidade, é certo, mas com custo elevado e escassa rentabilidade. Aposta que se manteve no ano seguinte e que ainda hoje gera problemas.

Antes, Luís Castro nunca deixou de ser visto como um interino, enquanto José Peseiro, depois, foi sempre uma solução a prazo. Com Nuno Espírito Santo o FC Porto tentou que a estabilidade do grupo fosse o caminho para a glória, mas nem o guitarrista era de excelência, nem a guitarra era do melhor que cá havia. Foi curto.

Resumindo, a culpa nunca foi do treinador? Foi, claro. Em vários momentos. O que não retira valor a todos eles, sobretudo àqueles, como Luís Castro ou Paulo Fonseca, que gozam agora de uma popularidade bem maior.

A verdade é que para voltar a ter sucesso e numa altura em que é cada vez mais certo que, financeiramente, o FC Porto não tem as armas do rival, é de suprema importância acertar finalmente no treinador.

Podem existir problemas estruturais, um plantel com menos qualidade do que em outros tempos ou queixas de arbitragem: um bom trabalho de treinador é capaz de, no mínimo, disfarçar tudo isto. Leonardo Jardim num Sporting que estava ainda a colar os cacos é um bom exemplo recente.

E esta edição da Liga também está cheia de exemplos que o atestam. Como era o Marítimo antes de Daniel Ramos? A mesma equipa que só tinha ganho um jogo, terminou em lugar Europeu. E o Rio Ave: terminaria tão bem se não tivesse escolhido Luís Castro? Por que não conseguiram Manuel Machado e, depois, Jorge Leitão, selar uma manutenção no Arouca que Lito Vidigal deixara à distância de meia dúzia de pontos? Viram o Estoril antes e depois de Pedro Emanuel?

A importância do treinador certo nunca será reduzida numa estrutura de um clube. Por muito que os jogadores sejam cada vez mais inteligentes e, fruto de uma cuidada formação, preparados para todas as vertentes do jogo, é sempre necessário quem os instrua e retire o melhor. Quem os motive e compreenda. Quem os consiga fazer acreditar numa ideia, a sua ideia. Quem não invente, também, na hora de escolher as peças.

Se alguma vez teve dúvidas e acreditou no que se ia dizendo sobre a pouca importância do treinador no clube, nesta altura certamente que o FC Porto já percebeu que é por ali que pode estar a salvação. Um bom treinador não marca golos, mas decide jogos, muitas vezes. 

E, com eles, chegam os títulos. 

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.

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