PLAY: nem toupeira nem cartilha, só o prazer da primeira vez - TVI

PLAY: nem toupeira nem cartilha, só o prazer da primeira vez

PLAY

Uma visita ao futebol brasileiro no fim do século XIX; ainda «Três Cartazes à Beira da Estrada», o «1 x 0» de Pixinguinha e o regresso dos Belle and Sebastian

PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:
«Miller & Fried» - de Luís Ferraz

Miller é Charles Miller, um rapaz de São Paulo, filho de ingleses e introdutor do futebol no Brasil, no ano da graça de 1894.

Fried é Arthur Friedenreich, também paulistano, mas filho de alemães. Consta ter sido ele o primeiro grande ídolo popular do futebol brasileiro.

O realizador apoia-se nos relatos dos biógrafos oficiais de Miller e Fried, levando-nos para a transição entre os séculos XIX e XX e lembrando-nos o quão simples era o futebol na sua origem.

Tão simples que bastavam 22 homens e uma bola para fazer um jogo. Vejam lá bem. O filme, pleno de bom gosto, fornece uma série de curiosidade e lembra, por exemplo, que Miller e Fried só por uma vez se defrontaram em campo. Julho de 1912.

Este é o futebol sem toupeiras criminosas e sem cartilhas abjetas. É o futebol no estado mais puro, a respirar ingenuidade e amor, como se de uma primeira conquista se tratasse.

Em tempos caóticos, pejados de personagens pestilentas, nada como parar uma hora e meia para redescobrir o prazer pelo jogo e a gratidão pelos fundadores.

PS: «3 Cartazes à Beira da Estrada» – de Martin McDonagh

Ebbing, Missouri, cidadezinha de mentes pequenas, circunscritas ao pensamento primário. Há uma mãe em busca de vingança – a extraordinária Frances McDormand -, um chefe da Polícia de coração mole e doença terminal – Woody Harrelson, um prazer revê-lo -, um agente da lei simplório e preconceituoso – Sam Rockwell, tão bom -, um anão que desce da Guerra dos Tronos e se apaixona pela mãe sofrida – Peter Dinklage, claro – e um publicista homossexual de bons costumes e coração certo – Caleb Landry Jones.

O melhor filme de ano, na opinião deste que vos escreve.



SOUNDCHECK:
«1 x 0» - de Pixinguinha

Pixinguinha adorava futebol e amava escrever sobre instantes imemoriais. É dele este instrumental de 1919, composto a meias com Benedito Lacerda para eternizar uma vitória do Brasil sobre o Uruguai.

Jogado nas Laranjeiras, mítico estádio do Fluminense, o jogo foi decidido por… Arthur Friedenreich, o senhor do primeiro texto deste PLAY. Dizem que esta é a primeira música brasileira sobre futebol.

Provavelmente com algum exagero.



PS: «How to Solve Our Human Problems, Pt. 3» - dos Belle and Sebastian

Condoído e luminoso, como só Stuart Murdoch sabe ser. Aí estão eles, os magníficos de Glasgow, na terceira parte de um conjunto de EP’s dedicado à tragicomédia existencial do ser humano. Afinal, o tema favorito de Murdoch.

Delicados e melodiosos, os maravilhosos Belle and Sebastian continuam a ter coisas importantes para dizer e canções bonitas para cantar. Não é isto que conta?

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.

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