Sempre dei comigo a pensar na força emocional e psicológica do futebol. Que desporto é este que anula diferenças sociais, níveis de alfabetização diferentes, idades, que eleva a linguagem para níveis que, em circunstâncias normais, nos fariam corar? Porém, no futebol tudo isto acontece e tudo é permitido. Há gritos, insultos, abraços, beijos, lágrimas, desmaios. Pessoas que nunca se viram nem provavelmente se voltarão a ver, acabam envolvidas numa atmosfera contagiante e arrebatadora. No estádio, defendendo as cores do seu clube ou da sua selecção, todos são iguais. É este exercício de agregação social e emocional que é estimulante de analisar. Os nossos corações aceleram e quando acontece magia com as vitórias, os golos, os títulos, é toda uma multidão que se levanta para festejar e celebrar os heróis.
Tive oportunidade de assistir a jogos épicos: o FC Porto, campeão europeu, em Gelsenkirchen, na Alemanha; o Real Madrid- Barcelona no Santiago Bernabéu ou o Barcelona-Benfica em Camp Nou. E, é claro, no europeu de França, acompanhei a carreira da nossa Selecção até à final. São momentos que ficam bem cá dentro e que não se esquecem.
É por tudo isto que (me) nos entristece a violência no futebol. O que é grandioso torna-se vil. O que é bonito torna-se triste. O futebol não merece ser destratado. Os últimos incidentes deviam levar a uma reflexão séria de dirigentes e outros agentes desportivos. Mas quando dois clubes, como neste caso o Benfica e o FC Porto, estão separados por um ponto na luta pelo título, nada de racional há a esperar porque, na verdade, o futebol é só emoção.