Aos miúdos do FC Porto falta-lhes marketing e oportunidades - TVI

Aos miúdos do FC Porto falta-lhes marketing e oportunidades

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Que façanha esta dos miúdos do FC Porto ao ganharem aquela que é a Champions entre os seus pares. Já não havia sido coisa pouca a conquista da II Liga pela equipa B portista (em 2015/16) ou da Premier League International Cup (em 2016 e 2017) – o torneio da Premier League para jovens.

É uma evidência afirmar que transborda talento esta geração de Fábio Silva, Romário Baró, João Mário, dos Diogos… Aliás, só com carradas de talento e trabalho seria possível à equipa de Mário Silva alcançar uma inédita Youth League para o futebol português.

Falta o quê então à formação do FC Porto para ter a tradição da do Sporting e o mediatismo da do Benfica?

Desde logo, falta a prometida academia.

Só agora, em 2019, arrancará o projeto para reunir no mesmo espaço e com as valências exigíveis todos os escalões de formação: hotel, miniestádio, campos relvados… Tudo estará previsto para, segundo se noticia, um terreno de 14 hectares em São Mamede de Infesta, às portas da cidade do Porto. Um complemento fundamental ao centro de estágios do Olival, onde treinam as equipas profissionais do FC Porto.

Sem ser essencial para obter resultados, embora o seja para valorizar ativos, à formação portista faltará também alguma dose de marketing.

Para tal, há que cuidar da estratégia de identificar talentos, colocá-los a jogar, tratar de adequar a sua situação contratual e promovê-los, tanto em campo, como fora dele.

Basta ver o caso do Benfica, que blinda as suas maiores promessas com cláusulas de rescisão milionárias e cultiva o selo «Made in Seixal», com a devida promoção mediática a acompanhar – umas vezes em forma de notícia, outras em forma de comentários.

Para lá disso, a aposta na formação foi assumida sem reservas, sobretudo desde a chegada de Bruno Lage.

Dado o atual inflacionamento de alguns mercados periféricos, que dificulta a tarefa de entreposto para as grandes ligas europeias que alguns clubes portugueses privilegiaram durante anos, a mudança de paradigma de investir e priorizar a formação é fundamental para garantir o futuro desportivo e financeiro. Quem o percebeu mais cedo, está em vantagem.

No caso dos miúdos do FC Porto, que antecederam esta geração de campeões, o que lhes tem faltado são sobretudo oportunidades.

A qualidade só se torna superlativa se houver forma para a fazer evoluir e desafios maiores para vencer.

Tudo pode resumir-se a esta questão: da equipa finalista da Youth League de 2017 o Benfica tem neste momento cinco jogadores no plantel principal. Rúben Dias, Florentino, João Félix, Gedson Fernandes e Jota. Os três primeiros são habituais titulares na equipa de Lage.

Daqui por duas épocas quantos dos jovens que acabam de conquistar a Youth League irá o FC Porto ter na sua equipa principal?

[artigo originalmente publicado às 23h50, 30-04-2019]

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado pela expressão criada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.

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