O Bruno que é a única unanimidade do Sporting - TVI

O Bruno que é a única unanimidade do Sporting

Benfica-Sporting

Geraldinos & Arquibaldos LXIII

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O Sporting é o clube de futebol mais parecido com um partido político.

Calma! Não acendam já a fogueira! Pousem lá os archotes.

A comparação tem que ver com as distintas fações, ânsias de protagonismo e alianças táticas que o clube nos habituou nas últimas décadas.

A instabilidade é permanente, agravada pela falta de conquistas relevantes no futebol.

As tendências são múltiplas e raramente convergentes. Basta ver que nas últimas eleições para a presidência surgiram sete candidaturas válidas. Para além destas, mesmo a fação afeta à anterior direção dividiu-se em duas.

Até quando o assunto é fazer coreografias e entoar cânticos, tudo se balcaniza. Só claques são quatro.

À fragmentação juntam-se figuras eminentes, alguns nomes distintos com consoantes dobradas no apelido, grupos de notáveis… Cada um dando uso ao seu púlpito. Em suma: enquanto FC Porto e Benfica se perfilam atrás dos seus presidentes e cerram fileiras, não falta dissensão ao Sporting.

No futebol, onde tática é mais relevante que o tacticismo, o Sporting é sempre um foco de instabilidade à espera de emergir.

O presidente Frederico Varandas, eleito há menos de meio ano, não convence uma franja significativa dos adeptos; tal como acontece com o treinador que escolheu, há pouco mais de três meses. Marcel Keizer viveu um curtíssimo estado de graça até ver os lenços brancos e assobios que o seu antecessor, José Peseiro, também já havia visto esta temporada.

Excetuando as antigas glórias, que ficam para a história, é transversal a falta de consenso em torno de algo no presente do clube. E é aqui que se ergue sobre todos os outros Bruno Fernandes, talvez a única honrosa exceção capaz de fazer sorrir qualquer sportinguista.

Há este Bruno para bem do Sporting. O que levanta a cabeça e faz jogar, o que passa com precisão e remata com igual acerto, o que vê mais longe e corre por todo o campo.

Há este Bruno que lidera em campo. Apesar do ar franzino, é esse rapaz da Maia quem carrega sobre os seus ombros uma equipa inteira e as esperanças de milhares de adeptos, com a naturalidade com que jogava no rinque perto de casa.

Houvesse um momento capaz de resumir o consenso que só o filigrânico futebol de Bruno Fernandes consegue gerar, seria o minuto 33 do Sporting-Sp. Braga da última jornada.

Ainda antes do intervalo, já Alvalade estava em convulsão. Uma das claques entoava «joguem à bola» na bancada, quando no relvado o camisola 8 leonino sofre uma falta, coloca a bola e se prepara para marcar o livre.

Remate… Golo! E todo o estádio a celebrar sem reservas o que haveria de tornar-se num triunfo claro sobre um candidato ao título.

Unir um clube dividido: esse é o superpoder de Bruno Fernandes, o único herói do Sporting atual.

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado pela expressão criada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.

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