Pode o bater de asas de Ederson pagar o estádio ao Rio Ave? - TVI

Pode o bater de asas de Ederson pagar o estádio ao Rio Ave?

Benfica-Dinamo Kiev (Lusa)

Geraldinos e Arquibaldos XXIX

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«O bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo.»

Sou sensível à Teoria do Caos. Não pelo caos em si, mas porque, como canta Sérgio Godinho, sou devoto da crença de que «isto anda tudo ligado».

No futebol, gosto de professar raciocínios de causa-efeito e a globalização só veio ajudar-me.

Sorrio com genuína satisfação com transferências milionárias como as de Hulk para a Rússia e para a China, que rendem dividendos a clubes do Brasil ao Japão, numa maquia que só não chega ao meu quase vizinho Vilanovense por mera questão formal. Já com o sobrolho mais franzido leio notícias sobre como a contratação de um prodígio sérvio por cá pode ajudar a criar uma empresa do seu pai no Chipre, em modo Simplex.

Como jornalista gosto de tentar descortinar os «quês» de cada negócio, é o que é. E na maior parte dos casos não vou muito além da tentativa.

Talvez por isso, o que achei mais interessante na entrevista do presidente do Benfica a um canal de televisão na semana passada foi a afirmação de que o Rio Ave (clube que o jogador representou entre 2012 e 2015) teria direito a 50 por cento da transferência de Ederson. O Relatório e Contas do Benfica divulgado no domingo esclarece: o clube de Vila do Conde terá 50 por cento da futura mais-valia.

[Já agora, falando nos Relatórios e Contas dos três grandes revelados na última semana, há que sublinhar o buraco nas contas do FC Porto e a grande subida de gastos com pessoal do Sporting. Porém, voltemos a Ederson.]

Numa notícia publicada no dia 13 de maio de 2016 um jornal desportivo escreve que uma fatia (cujo valor não é divulgado) de uma futura venda deverá caber ao empresário do atleta. Porém, os números e as palavras que são públicos e a confirmação que me encarreguei de fazer convergem noutra versão: só o Rio Ave terá na sua posse meio bilhete de lotaria premiado. E a taluda, suponho, será levantada a partir do dia em que um grande clube europeu estiver decidido a recrutar o guarda-redes encarnado.

Será uma questão de tempo até Ederson bater asas da Luz. Não é segredo que Pep Guardiola tem-no debaixo de olho, pelo menos desde a eliminatória entre Bayern de Munique e Benfica na Liga dos Campeões da época passada. Além disso, tem um superagente a tratar-lhe do futuro e as excelentes exibições e a convocatória para a seleção do Brasil valorizam ainda mais a sua cotação: umas dezenas de milhões de euros, seguramente – se, por exemplo, o espanhol Roberto há meia dúzia de anos foi negociado duas vezes sucessivas por 8,5 milhões, Ederson vale facilmente quatro ou cinco vezes mais.

Mudando não radicalmente de assunto: há uns dois meses, li com atenção uma entrevista em que o presidente do Rio Ave apresentava um entusiasmante projeto para remodelar o estádio, que, diga-se, bem precisa e tem um dos mais belos enquadramentos do país. Na prática, seria quase um recinto novo, porém, a ambição requer prudência a um clube com recursos modestos e com uma gestão de pés assentes na terra.

Foi relacionando as entrevistas dos dois presidentes que me lembrei de conjeturar sobre a possibilidade de uma decisão de Guardiola em Manchester poder ajudar à remodelação do estádio dos Arcos, em Vila do Conde.

Seria uma prova do espantoso mundo futebolístico em que vivemos, não?

Ou então será credulidade minha, que faço contas de merceeiro e concebo teorias demasiado simples.

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado na designação dada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.

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