"Macron foi dizer eu dou tudo o que tenho a dar mas não me levem ao cadafalso" - TVI

"Macron foi dizer eu dou tudo o que tenho a dar mas não me levem ao cadafalso"

  • 16 dez 2018, 23:01

Paulo Portas, na rubrica "Global", considerou que o presidente francês está a ser vítima da sua inexperiência e que a situação do país é complicada. Até com a agravante de continuar a ser palco de atentados

O comentador da TVI, Paulo Portas, analisou o discurso do presidente francês Emmanuel Macron no início da semana, após um mês de protestos dos "coletes amarelos", considerando que "em termos políticos, foi uma espécie de rendição: ele perdeu e parece-me que se perdeu também no caminho".

No fundo, ele foi em desespero dizer, eu dou tudo o que tenho, mas não me levem ao cadafalso", afirmou Portas na rubrica "Global"; no "Jornal das 8" da TVI.

Para Portas, "ficou à vista a inexperiência, a falta de partido, porque senão ele teria sido alertado que havia um mal-estar na França profunda e um grande autoconvencimento, que não é pequeno".

Contudo, o comentador alerta para os números que afetam França: "100% de dívida pública, 56 % de gastos do Estado sobre a riqueza criada por todo o país e 48% de pagamento de impostos e quotizações sociais".

Com estes três números não é possível que uma economia cresça saudavelmente, porque aquilo que o Estado absorve da riqueza criada por empresas e trabalhadores é de tal maneira gigantesco que muito fica pelo caminho", alertou Paulo Portas.

"Intenção de magoar cristãos"

Também em França, a semana ficou marcada pelo ataque a tiro de um homem no mercado de Natal da cidade de Estrasburgo, que causou, até ao momento, cinco mortes. 

Voltámos a ter um atentado de raiz jiadista, portanto de fanatismo islâmico. Não é o Islão. É a caricatura do Islão. Foi numa praça europeia, em cima do Natal. É vidente a intenção de magoar os cristãos", afirmou Paulo Portas, que alertou para o aumento de atentados.

Segundo os números da Europol de 2017, houve um crescimento face a 2016 do número de atentados.

A maioria não tem razões religiosas. Tem razões políticas. Tem a ver com o separatismo. A Europa está cheia de nações sem estado, regiões que querem ser nações e de nações com problemas com os estados existentes", enquadrou o comentador.

Os números evocados por Paulo Portas na rubrica "Global" mostram que os atentados com motivações separatistas representam 67% do total e os que estão "ligados atentados ligados à guerra islâmica são 16%".

No caso do mais recente, ocorrido em Estrasburgo, o comentador lembrou que foi cometido por um "sujeito de 29 anos que já tinha sido condenado 27 vezes".

Este sujeito é francês de passaporte, é imigrante de segunda geração, mas já nasceu na Europa. Portanto, não pode haver repatriamento para lado nenhum", lembrou Paulo Portas, acrescentando que Cherif Chekattmorto na noite dea passada quinta-feira depois de disparar contra a polícia, "abandonou a escola aos 16 anos, não fez nenhuma formação profissional e a partir daí entrou no mundo da radicalização".

Para o comentador, sabendo que o autor do atentado estava referenciado e identificado pela polícia, como tantos outros em França, convém lembrar que "não é possível seguir durante 24 horas tanta gente".

Já houve 14 sujeitos que estavam identificados como perigosos e cometeram atentados, entre eles o do Bataclan. O que quer dizer que a prevenção funciona melhor do que repressão. Deteta-se, mas não se consegue evitar. Provavelmente, tem de se encontrar formas destas pessoas não ficarem em total liberdade", concluiu Portas.

"Impasse total" no Brexit

Na análise de Paulo Portas estiveram ainda os últimos capítulos da saída do Reino Unido da União Europeia, com a primeira-ministra, Theresa May a conseguir sobreviver "com clareza a uma moção de liderança dentro do seu partido, mas que depois, como gere mal as expetativas, voltou de Bruxelas com uma mão cheia de qualquer coisinha que ainda não se percebeu muito bem o que é, mas que seguramente não será suficiente".

O impasse é total. Porque ela não pode levar o acordo a votos no parlamento, porque perde. Não pode ser substituída, porque, como se viu, ganha. Não pode convocar um referendo sobre o acordo dela, porque o parlamento não deixa. E não há um segundo referendo ao Brexit, porque ela é contra", elencou Paulo Portas, advogando que "até janeiro, isto vai ter que ceder por algum destes quatro pontos".

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