O comentador da TVI, Paulo Portas, analisou, no espaço de comentário “Global” deste domingo, no Jornal das 8, os números das greves dos últimos dois anos e concluiu que estamos a atravessar “um surto anormal de greves”.
“Basta comparar que, no ano passado, não havia eleições e tinham sido anunciadas 261 greves e, este ano, 424 até ao dia 31 de maio. O Governo foi obrigado a decretar serviços mínimos 13 vezes no ano passado e já vai em 40 este ano. Temos cada vez mais greves, que não estão ligadas a centrais sindicais, que não obedecem a uma racionalidade de interesse geral, para além da questão específica. O nosso sistema de diálogo social está orientado para as confederações e para as centrais sindicais e não para este tipo de sindicatos extremamente egoísta e extremamente agressivo e independentes das centrais. “
Uma análise a propósito da anunciada greve dos motoristas, que tem início marcado para 12 de agosto, Paulo Portas reconhece ainda nestes protestos mais recentes e nos que estão por vir “um condão de provocar um dano muito mais superior e muito mais largo do que aquele que é pretendido pelo direito à greve e são capazes de paralisar um país”. “E isso é que eu nem acho nem aceitável, nem justificável”, rematou.
VEJA TAMBÉM:
- "Quando um sindicato não cumpre os serviços mínimos, não é penalizado"
- Espanha: "A situação é de total impasse e de uma rotura muito violenta"
- Centeno no FMI: "As coisas tornaram-se mais difíceis no final da semana passada"
O comentador considerou ainda que, a nível legislativo, Portugal não se adaptou à nova “realidade do sindicalismo”. “O direito à greve é indiscutível, mas a questão dos serviços mínimos, para mim, é muito relevante. (…) quando um sindicato não cumpre os serviços mínimos, não é penalizado por isso. Isso é convidar ao incumprimento”, sublinhou.
“Quando é anunciada uma greve, o Governo tem de, muito rapidamente, definir os serviços mínimos, para ter a certeza, no primeiro m8inuto em que uma greve com impacto global acontece, se esses serviços mínimos estão a ser cumpridos ou não.”
Ainda sobre o mesmo tema, Paulo Portas deixou uma reflexão importante: “Lembra-se quando António Costa defendeu a Geringonça, uma das ideias defendidas era que teríamos mais paz social. Olhando para estes números e mesmo para outros anteriores, não é verdade que isso esteja a acontecer.”
Centeno no FMI: “É aquele sobre quem há menos vetos”
À semelhança do que já tinha feito na última semana, Paulo Portas voltou a falar da possibilidade de Mário Centeno ser eleito para dirigir o FMI. “Continuo a achar que tem hipóteses, mas as coisas tornaram-se mais difíceis no final da semana passada”, disse.
“A lista de candidatos europeus (a tradição é que o FMI é dirigido por um europeu e o Banco Mundial por um americano) é mais larga do que se pensava e entrou na lista uma senhora que é candidata a todos os cargos que aparecem no mundo (…), a senhora Georgieva da Bulgária.”
“A hipótese mais forte de Mário Centeno é poder ser aquele sobre quem há menos vetos. Não ser ele a primeira escolha, mas poderem ser eliminados candidatos, porque há vetos do Norte contra o Sul e do Sul contra o Norte e ele ser mais consensual.”
“O Podemos quis o Céu e quis a Lua”
O comentador da TVI falou também do impasse que se vive em Espanha para a formação de um novo Governo e considerou haver grandes hipóteses de haver novas eleições.
“Se houver novas eleições, serão as quartas em quatro anos. Os eleitores têm razões para estar bastante maçados, no mínimo, com a incapacidade de a classe política gerar Governos estáveis.”
“Neste momento, a situação é de total impasse e de uma rotura muito violenta entre Pedro Sánchez e o líder do Podemos. (…) O Podemos queria o Céu e a Lua. Queria as Finanças, a Saúde, a Energia, a Habitação, a Cultura, a Igualdade… queria demais. Pedro Sánchez não queria, definitivamente, que a extrema Esquerda ou a Esquerda alternativa tivessem responsabilidades nos impostos (…), no trabalho (…) e na chamada transição energética. Pedro Sánchez deixou perceber que o que ele queria eram eleições para ter uma votação reforçada e Pablo Iglesias deixou claro que não tinha experiência de Governo.”
VEJA TAMBÉM
- Paulo Portas analisa perpetivas económicas anunciadas pelo FMI
- "É um erro substimar Boris Johnson"
- Trump e um selo da presidência muito peculiar
Portas deixou também uma “reflexão doméstica” suscitada pela situação em Espanha: “A relação entre António Costa e Pedro Sánchez é muito boa e o Podemos de Pablo Iglesias foi muito inspirador do Bloco de Esquerda. Nós também temos eleições em outubro e é interessante verificar o que é que impediu estes dois líderes políticos, cujo ego é muito grande, de chegarem a um acordo.”
O “erro de subestimar Boris Johnson”
Outro dos temas abordados foi a tomada de posse do novo primeiro-ministro britânico e Paulo Portas considerou “um erro subestimar Boris Johnson”. “E faz parte desse erro fazer comparações fáceis com Donald Trump. As comparações entre Trump e Boris Johnson esgotam-se em si mesmas. Boris Johnson tem um nível académico muito elevado, foi diretor do Spectator, tem uma posição importantíssima no Daily Telegraph, um importante jornal inglês. (…) Ele não é nativista nem é protecionista”, resumiu.