Tive que conter as lágrimas. Ironia do destino: eu, que durante mais de três anos estreei e conduzi o programa "Olhos nos Olhos", estava num estúdio de televisão a dar a notícia da morte de Henrique Medina Carreira. Assim foi. Esta noite. Mais uma noite.
No relançamento da TVI24, em 2011, a Direção de Informação da TVI decidiu apostar no comentário de Medina Carreira. Eu e o José Alberto Carvalho convidámo-lo para um almoço no restaurante que ele escolheu, junto ao teatro da Trindade, no Chiado.
O nome "Olhos nos Olhos" ocorreu-me, inspirada numa antiga novela da TVI. Apresentámos a ideia do programa. Ele teria liberdade temática e, em cada programa, existiria sempre que possível um convidado.
Medina Carreira, com a sua frontalidade, disse-nos que tinha um convite da RTP, mas que iria ponderar. Alguns dias depois, telefonou ao JAC comunicando que tinha aceitado a nossa proposta. Assim foi.
Durante os primeiros três anos conduzi o programa. Sempre que me afastava do guião levava um "raspanete" em direto. Foi uma vivência profissional intensa.
Em 2013, o então diretor editorial da Oficina do Livro, Francisco Camacho, contactou-me para escrever um livro com Medina Carreira. Esse livro foi publicado em 2012 e chama-se
"Olhos nos Olhos". Tem uma particularidade: foi apresentado na feira do livro por Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República.
Quando lhe contei a conversa com o editor, Medina Carreira disse-me: "Faça como quiser. Por mim, está tudo bem".
Era esta "graça" que o caracterizava enquanto meu interlocutor: a sagacidade para encontrar metáforas como forma de se referir à dívida pública e ao resgate.
No fim de cada programa, ligava o telemóvel para obter as reações. Era assertivo, mas preocupado. Mais uma perda: " Olhos nos Olhos".