"Ministro europeu das Finanças seria desastre total" - TVI

"Ministro europeu das Finanças seria desastre total"

    Manuela Ferreira Leite
  • VC
  • 13 set 2017, 22:45

"Só se fosse um super homem". Manuela Ferreira Leite diz que presidente da Comissão Europeia é contraditório naquilo que defende. Ao analisar o discurso da rentrée de Juncker, comentadora da TVI elogiou ideia do Fundo Monetário Europeu e sublinhou a desvalorização do Brexit

"Foi discurso que se adequa à realidade, mas essa do ministro das Finanças europeu será absolutamente inaceitável". Manuela Ferreira Leite elogiou hoje, no seu espaço de comentário na TVI24, os temas abordados pelo presidente da Comissão Europeia no seu discurso de rentrée, mas esta ideia de ter um super-ministro não é bem vista pela antiga ministra das Finanças.

Inimaginável. Não sei se lançou [a ideia] para ver se pega, admito que lance essa ideia, mas é contraditória com o seu discurso que é preciso ter cuidado com as diferentes realidades. Seria exatamente o contrário do que ele está a dizer neste momento. Se devemos ajustar as políticas a cada país, à sua estrutura económica, social, potencialidades e fragilidade, a última coisa que se pode fazer é ter um ministro para todos. Ou era um super homem capaz de ter conhecimento perfeito de cada uma das economias...Só podia ser feito com receita única, aconteça o que acontecer terá de ser assim. Seria um desastre total".

 Ferreira Leite sublinhou que as políticas económicas têm uma intervenção social e, por isso, não podem ter uma única visão de uma única pessoa. E carregou na ironia:

É difícil imaginar. O ministro das finanças nos diferentes países deixava de existir, ou era simplesmente um ministro que fazia muitos voos de Bruxelas e fazia bem estenografia para fazer apontamentos rapidamente".

As consequências seriam, do seu ponto de vista, más para a autonomia dos países. Seria a "perda total da independência e da soberania".

Fundo Monetário Europeu é boa ideia

Já a ideia de se criar um Fundo Monetário Europeu é positiva para Ferreira Leite, "para que numa próxima troika não seja necessário recorrer ao FMI".

Acho que isto também é alguma aprendizagem. O FMI, com uma linha política e modelos de intervenção que não divergem, fez com que a Europa aprendesse que não seja receita mais adequada o FMI"

A antiga ministra aplaude o facto de Juncker reconhecer que os países da zona euro foram capazes de manter a disciplina orçamental, sendo "muito cuidadosos" em não afetar o crescimento.  "Significa que ele declarou publicamente que a disciplina orçamental quando não adequada às diferentes características dos diferentes países pode afetar o crescimento". Lá está, a ideia a que associou a uma contradição com a hipótese de haver um superministro das Finanças na zona euro.

Quanto ao resto do discurso, Ferreira Leite entende que falou nos grandes temas, como as migrações e a segurança, sendo que no que toca ao Brexit ficou "bem patente a desvalorização" que o presidente da Comissão Europeia fez, até porque só mencionou a questão uma única vez.

Ninguém tem dúvidas que foi aquele momento em que a UE percebeu que alguma coisa estava a correr mal e tinha de mudar. O discurso é de alguém que aprendeu, ou que tentou minimizar a questão do Brexit, dizendo a certa altura que se vão arrepender rapidamente e a Europa vai continuar".

Questões internas: greves durante negociações do Orçamento

Manuela Ferreira Leite foi interpelada pelo jornalista José Alberto Carvalho também relativamente a assuntos internos, nomeadamente sobre a pressão sobre o Governo no que toca ao Orçamento do Estado, uma vez que há uma visível agitação laboral e social, com a greve dos enfermeiros, de cinco dias até sexta-feira, e a greve juízes a seguir às eleições autárquicas. 

É um fenómeno praticamente inevitável. desde 2005 as progressões nas carreiras tem estado tudo parado na administração pública. Quando está tudo parado durante tantos anos ou bem que se tem um plano claro para ver como é que tudo isto pode começar a mexer e ajustamentos a ser feitos, ou se não há bem delineado, bem pensado e bem negociado para o conjunto da administração pública nunca mais vai parar".

O que fazer? A antiga ministra diz que "não é possível resolver tudo de uma penada, só com um aumento brutal de impostos". 

Por mais justas que sejam as reivindicações de todos os grupos, não é possível resolver (tudo logo). É problema delicadíssimo, inviável de ser resolvido de uma só vez. E admito que haja aqui algum teatro, um espaço manobra sindicatos e partidos políticos, para dar ideia de que continuam a defender interesses independentemente de estarem fartíssimos de saber que é um pedido inviável"

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos

EM DESTAQUE