«4x4x3»: o elogio à audácia de quem dá um passo atrás - TVI

«4x4x3»: o elogio à audácia de quem dá um passo atrás

4x4x3

Um regresso a junho de 2014, a propósito do reencontro de Paulo Fonseca com o Paços de Ferreira

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos.  Siga-o no Twitter.         

Avanço para estas linhas ainda antes do Sp. Braga-P. Ferreira, que este resultado do último jogo da Liga em 2015 pouco importa para o texto, ainda que esteja centrado num dos intervenientes. O reencontro de Paulo Fonseca com o Paços de Ferreira serve é de pretexto para um elogio que começa precisamente na Capital do Móvel, a 11 de junho de 2014.
 
Esse foi o dia em que Paulo Fonseca foi apresentado no Paços de Ferreira. Pela segunda vez. Depois da passagem curta e fracassada pelo FC Porto, o técnico decidiu voltar à Mata Real. A tendência habitual é procurar refúgio no mercado externo, mas Fonseca não teve medo de voltar ao patamar anterior.
 
«Devo ter sido o primeiro treinador a sair de um clube grande e a assumir de imediato um emblema da dimensão do Paços. Disseram-me que era melhor esperar e que surgiriam outras propostas. Na verdade, até surgiram, do estrangeiro», disse o próprio em entrevista ao Maisfutebol. Audaz na aposta, humilde no passo dado.


 
A mesma humildade que no último ano e meio tem revelado sempre que fala da passagem pelo FC Porto. «Era muito novo, pensava que sabia tudo e não sabia», disse recentemente.
 
Paulo Fonseca fugiu à desculpabilização. Preferiu aprender com os erros. No banco e não só. Se no FC Porto prejudicou a imagem ao assumir o papel de mensageiro numa «campanha» cruzada que não devia ser sua – nem de nenhum treinador -, agora nota-se um esforço considerável para melhorar a comunicação, até recorrendo regularmente a apontamentos de humor.
 
Só que ainda mais importante do que aquilo que o técnico nos diz é aquilo que a sua equipa transmite em campo. E depois de novo brilharete em Paços de Ferreira, na época passada, Fonseca apresenta-nos agora um Sp. Braga muito promissor.
 
Com nota artística elevada na vitória sobre o Slovan Liberec, que garantiu o apuramento para os dezasseis-avos da Liga Europa, o Sp. Braga «uniu-se» agora ao Sporting para proporcionar o melhor jogo da temporada em Portugal, num duelo entre duas equipas com propostas de jogo próximas.
 
Fonseca já assumiu que Jesus foi «fundamental» na sua carreira de jogador, e agora que são colegas de profissão é fácil encontrar pontos em comum na abordagem estratégica, sobretudo a nível ofensivo. Mas isso é sinal de inteligência do técnico «arsenalistas», capaz de combinar influências positivas com ideias próprias.


O lance do golo da vitória em Tondela é elucidativo da organização ofensiva da equipa bracarense: a influência assumida pelos centrais na construção de jogo, aqui por Ricardo Ferreira, que acaba por fazer a assistência para o golo de Stojiljkovic; a variedade de soluções de passe na zona central, reforçada pelos movimentos interiores dos extremos; a largura dada pelos laterais, que mesmo sem bola sobem logo bastante.
 
O Sp. Braga não é uma cópia de nada. É uma equipa de ideias sólidas e coerentes, que renuncia ao «chutão», que gosta de dominar o jogo mas que é capaz também de surpreender com verticalidade. Por vezes fica a ideia que tem as linhas demasiado distantes, e por vezes isso reflete-se na velocidade de reação à perda de bola, mas a abordagem positiva ao jogo enriquece a Liga.
 
O Sp. Braga coloca em campo a mesma audácia que Paulo Fonseca revelou em junho de 2014, quando voltou ao Paços de Ferreira. A mesma audácia que fará com que o técnico, mais cedo ou mais tarde, seja recrutado novamente para outros patamares. 

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