P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos.
Fiel à política do comprar barato e vender caro, o Lille encaixou mais de 100 milhões de euros com as vendas de Nicolas Pépé (Arsenal) e Rafael Leão (Milan), mas precisou de “apenas” 12 milhões de euros para encontrar um novo felino para o ataque. Com seis golos em oito jogos, o nigeriano Victor Osimhen, de apenas 20 anos, começa a provar que é mais uma aposta certeira da direção desportiva do português Luís Campos.
Nascido em Lagos, Osimhen perdeu a mãe quando tinha apenas seis anos, e teve de andar a vender água nas ruas para ajudar a família. O pai queria que estudasse para médico ou advogado, mas Victor era feliz a jogar futebol, e começou a dar nas vistas em 2015, ano em que foi o melhor marcador do Mundial sub-17 que a Nigéria conquistou, ao apontar dez golos. Por essa altura ainda jogava no seu país, na Ultimate Strikers Academy (Lagos), mas logo depois foi recrutado pelo Wolfsburgo, clube para o qual se mudou após o 18º aniversário (dezembro de 2016).
O jovem avançado era pretendido por nomes maiores do futebol europeu, mas entendeu que o clube alemão tinha as portas da equipa principal mais abertas. E a verdade é que, ultrapassado o azar de uma lesão logo no arranque da aventura europeia, Osimhen estreou-se na Bundesliga a 13 de maio de 2017, frente ao Borussia Mönchengladbach.
A experiência alemã não foi feliz, no entanto, e em ano e meio o jovem avançado realizou apenas 14 jogos, sem qualquer golo marcado. Um problema no ombro atirou-o para a lista de dispensas do Wolfsburgo no verão de 2018, e um episódio de malária afastou dois interessados belgas.
«O Victor fez exames médicos em Bruges, no início de agosto (2018), que não foram conclusivos. O clube disse que o jogador não estava preparado fisicamente, mas é preciso referir que ele não teve uma preparação conveniente no Wolfsburgo, devido a uma crise de malária, no final de junho. Tendo em conta os resultados dos exames, o Club Brugge estimou que o Victor ia precisar de três a cinco meses para ser competitivo. O diagnóstico do Zulte Waregem foi semelhante, alguns dias mais tarde», explicou então Jean-Gérard Benoît Czajka, empresário do jogador.
Apareceu então outro emblema belga, o Charleroi, e Osimhen diz que a reunião de quinze minutos com o presidente desde clube foi um ponto de viragem na carreira. Logo ao terceiro jogo estreou-se a marcar, e terminou a época com 19 tentos em 35 jogos.
O Charleroi acionou a opção de compra, que tinha sido fixada nos 3,5 milhões de euros, e depois vendeu o avançado ao Lille por 12 milhões. O avançado nigeriano foi anunciado poucas horas antes da confirmação da venda de Rafael Leão ao Milan, e herdou a camisola 7 do português.
Estreou-se logo na ronda inaugural da Liga francesa, frente ao Nantes, e antes do jogo o capitão José Fonte perguntou-lhe quantos golos ia marcar. «Dois», respondeu o confiante Osimhen, que ouviu então o internacional português prometer-lhe que pagava um jantar se assim fosse. O nigeriano cumpriu, e o jantar está por marcar.
Com cinco golos em sete jogos, Osimhen é um avançado com um poder atlético tremendo. O que não deixa de ser irónico, tendo em conta que, a dada altura, foi a suposta fragilidade física que lhe fechou portas.
Um jogador robusto, mas também veloz, que ataca muito bem a profundidade, o que ajuda a explicar porque se adaptou tão bem a uma equipa que é particularmente sagaz a explorar as transições ofensivas. Ataca a zona de finalização com firmeza, mas mostra também sagacidade na área, destacando-se ainda uma assinalável capacidade de impulsão.
Um avançado que sabe tirar proveito do espaço, mas que também cria espaço para os colegas.