Acaba como começou: o mais e o menos da final da Champions - TVI

Acaba como começou: o mais e o menos da final da Champions

Real Madrid (Reuters)

Escreve Pedro Barbosa

O Real Madrid é bicampeão europeu e assim começa e vai terminar o meu último artigo desta temporada, com a consagração do campeão espanhol e de Ronaldo.

A final de Cardiff deixa para a história o Real Madrid, Zidane e Ronaldo.

O jogo trouxe-nos, no final, muito Real. Mas, olhando apenas para o que se passou nos 90 minutos,  não foi nem o melhor, nem o de maior qualidade que vimos na competição, mas o mais eficaz e a partir de determinado momento – início da 2ª parte. A melhor equipa em campo a vencer sem dúvida esta final.

Zidane feliz com o desfecho e Allegri ainda a pensar: o que se passou com a minha equipa na segunda parte ?

Foi uma primeira parte muito bem jogada, principalmente nos primeiros 30 minutos, com intensidade e qualidade de jogo e para mim uma Juventus superior, com mais bola, a fazer o seu jogo de passe, paciente, com consistência, e um Real com dificuldades em fazer o seu jogo normal também de posse e a jogar na expectativa de uma saída rápida. O primeiro golo de Ronaldo surge numa jogada dessas, bem desenhada com Kroos como figura inicial e Ronaldo como finalizador.

O que se passou naquele intervalo para mudar a face da Juventus naqueles segundos 45 minutos?

Certo é que o regresso para a segunda parte, apesar da confiança com que saiu para o intervalo, foi indicador de que o jogo tinha mudado.

Foi a boa entrada da equipa espanhola que os levou a encostar?

Foi perceberem que estão confortáveis a entregar o jogo ao adversário ?

Os golos surgiram… A Champions ia ser novamente do Real.

É certo que o Real entrou bem, com posse de bola, a jogar no meio campo ofensivo e em contraponto a Juventus não conseguia sair, por demasiadas perdas de bolas, falta de entendimento e a perder confiança.

Por outro lado os jogadores do Real estavam cada vez mais confiantes, porque quando perdiam a bola rapidamente a recuperavam e isso tornava-os mais fortes.

Buffon, que viu esfumar-se o sonho da Champions e disse no final: «Não consigo explicar porque é que jogámos como jogámos na segunda parte.»

Na sua posição, o guarda-redes via a equipa do Real à sua frente, a trocar a bola e apesar de quase nunca incomodado (defendeu um remate de Modric à figura), sentia-se que perante a entrada em jogo do Real e a forma como estava a controlar e a dominar, o golo poderia surgir.

E foi isso que acabou por acontecer.

O remate de Casemiro de fora da área bateu num jogador da Juventus, mudou a trajectória (e o jogo) e levou a bola a entrar no canto inferior direito, sem hipóteses para Buffon.

O Real estava novamente na frente mas desta vez, ao contrário da primeira parte, não era a Juventus a mandar no jogo, mas sim o Real, e por isso aguardava-se para ver que tipo de reacção teria a equipa italiana.

Não surgiu a reacção e o terceiro golo chegou quase logo a seguir. Em três minutos o jogo estava praticamente decidido.

Mandzukic espera pela bola, Modric ataca e rouba a bola, combinação com Carvajal e o cruzamento do croata já em esforço na linha de fundo para o unico sítio que podia, o primeiro poste, onde aparece Ronaldo, bem na sua movimentação dentro da área, a ir de encontro à bola e com classe, convicção e um gesto técnico perfeito a bater o desamparado Buffon.

Este acabou por ser o reflexo da equipa nesta segunda parte.  A Juventus estava surpreendida e os adeptos também.

Para termos uma ideia esta mesma Juventus tinha sofrido apenas 3 golos em 12 jogos desta edição da Liga dos Campeões. Aos 64 minutos desta final tinha sofrido tantos golos como em 1080 minutos que fez.

Volto a Allegri, que acredito estava atónito com tudo isto.

A sua equipa, que mostrou ser um grande candidato à conquista desta competição, claudicou num momento em que nada o fazia prever, depois de uma primeira parte em que foi melhor.

O treinador italiano bem tentou, fez alterações, incentivou, gritou mas o resultado não mudou e já mesmo no final ainda aumentou, com o jovem Asensio a deixar a sua marca na final de Cardiff.

Zidane, sempre no seu estilo calmo e sereno, via, depois de uma primeira parte não conseguida, a sua equipa entrar bem na segunda, marcar e fazer a gestão do jogo.

Não sei o que disse ao intervalo mas o comportamento e a atitude da equipa foi diferente e as melhorias foram evidentes.

O resto foi gerir face à quebra na equipa italiana e à incapacidade revelada, quer para contrariar a boa entrada do Real quer para reagir aos dois golos sofridos em três minutos.

Em qualquer jogo há sempre quem se destaque, seja pela positiva ou pela negativa.

Nos menos começo por Benzema, demasiado preso entre os centrais e sem conseguir encontrar o espaço para desequilibrar.

Carvajal e Marcelo não estiveram seguros defensivamente e ofensivamente com pouco critério, apesar da presença em dois dos golos.

Do lado da Juventus, Higuaín viveu o mesmo problema de Benzema. Pouca movimentação e não foi o goleador de que a equipa precisava. 

Dybala não desequilibrou como se esperava. Um ou outro pormenor mas insuficiente para ser uma mais valia no jogo da época.

Nos mais, Casemiro e Kroos. Casemiro, que daquele meio campo é o menos talentoso de todos mas dá o equilibrio que a equipa precisa e o seu golo, ajudou a decidir o jogo.

Kroos tem muita qualidade e a bola sai sempre, como se costuma dizer, redonda. Já o elogiei aqui noutros jogos realizados e o médio alemão é fundamental no meio campo madrileno.

Por último, Ronaldo. O homem do jogo e mais uns recordes batidos. Sempre com a baliza no pensamento, marca pela terceira vez numa final.

Goleador sempre foi e os números falam por si mas encontra-se numa fase, já há algum tempo, em que o seu posicionamento e o seu jogo mudou. O seu habitat é hoje sobretudo a grande área. A forma como se movimenta dentro da área, a capacidade que tem para adivinhar onde a bola vai cair e como aparece a finalizar.. tem sido letal.

Em grande Ronaldo.

Palavras finais para os líderes.

Allegri não ganhou mas nem por isso deixo de lhe dar os parabéns e deixa de merecer o meu respeito por ter tornado esta Juventus uma equipa de grande qualidade. E pelo que ouvi dele, será o treinador para o ano.

Por isso vamos ter novamente a Vecchia Signora na luta, mas imagino que aqueles segundos 45 minutos ainda lhe vão atormentar as férias.

Zizou” foi um extraordinário jogador e marcou a história e como treinador já está na historia.

No seu estilo tranquilo, já vão duas Champions… consecutivas.

Depois dos festejos, o futuro.

A procura da terceira vitória na Champions é o grande objectivo do Real Madrid e acredito que o seu, nesta altura em que bisou.

Para já férias, mas com o pensamento na 13ª…

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