Matar por profissão - TVI

Matar por profissão

Cadeira eléctrica

Há executores que encaram o seu trabalho como outro qualquer. Outros até têm prazer em matar. Especialista traçou o perfil dos que concretizam as penas de morte

Matam por profissão e ao abrigo da lei, ou melhor, para fazer cumprir a lei. São executores e alguns encaram o trabalho como outro qualquer, enquanto outros até tiram prazer em matar os condenados. O PortugalDiário falou com um especialista, que afirmou que estas pessoas «têm geralmente perturbações graves», porque de outro modo não conseguiriam lidar com a morte tão facilmente.

Muhammad Saad Al-Beshi é o principal executor da Arábia Saudita. Numa entrevista ao jornal Okaz, em 2003, contou que chega a decapitar sete pessoas num só dia, mas disse que vive uma vida normal e até já ensinou o ofício ao filho.

A naturalidade com que Al-Beshi e outros executores descrevem a sua profissão não surpreende Carlos Alberto Poiares, especialista em psicologia criminal e comportamento desviante. «Estas pessoas sofrem normalmente de perturbações graves e têm núcleos de psicopatia», que explicam como conseguem viver com a profissão que têm.

O especialista distingue os que entram na profissão porque o desespero do desemprego os levou a isso e os que são voluntários e recorda que «há pessoas que até retiram prazer em matar os outros». Mas em qualquer dos casos, «um executor tem de ter uma grande frieza emocional», explicou.

Carlos Alberto Poiares recorda o exemplo do principal executor inglês que, «quando a pena de morte foi abolida, ficou desorientado e sem saber o que fazer, porque considerava a execução o seu modo de vida».

«Dois, quatro, dez... enquanto estiver a cumprir a vontade de Deus, não importa quantas pessoas executo», contou Al-Beshi na entrevista. Na Arábia Saudita, a justiça e a religião estão interligadas, por isso, para este, o executor sente que age como concretizador de uma vontade divina.

O especialista recorda que, no ocidente, a pena de morte já não tem nada de religioso, mas o facto de estar enraizada na sociedade (exemplo dos Estados-Unidos) leva a que os executores «desculpabilizem» a sua profissão.

Questionado sobre se uma pessoa considerada normal, sem perturbações, conseguiria lidar com esta profissão, o especialista afirmou que «viveria certamente uma situação de stress pós-traumático». E recorda que «muitas pessoas que matam alguém por negligência ou mesmo em legítima defesa, sentem uma culpa muito grande, que muda as suas vidas. Nos casos de acidentes de viação, algumas pessoas deixam até de conseguir conduzir».

Mas Carlos Alberto Poiares recorda que «a decisão de executar alguém, nunca é do executor. Os legisladores, os juízes e os jurados também têm de viver com a morte de um condenado».

Ainda esta semana, uma execução na Califórnia (Estados Unidos) foi adiada devido à recusa de dois médicos anestesistas em participarem no processo, alegando razões éticas. Os executores é que não parecem ter as mesmas razões.
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