Passos Coelho lamenta que Portugal esteja a "regressar a um desequilíbrio externo" - TVI

Passos Coelho lamenta que Portugal esteja a "regressar a um desequilíbrio externo"

  • SL
  • 3 jul 2019, 18:32
Passos Coelho

Ex-primeiro-ministro disse que o país conseguiu "a partir de 2013, e ao fim de 50 anos, interromper ciclos extremamente negativos de balança corrente com um défice que, na primeira década do Euro, praticamente duplicaram a dívida externa da economia portuguesa"

O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho lamentou, esta quarta-feira, que Portugal esteja "em véspera de regressar a um desequilíbrio externo", depois de ter conseguido inverter um ciclo de 50 anos "extremamente negativo".

Conseguimos, a partir de 2013, e ao fim de 50 anos, interromper ciclos extremamente negativos de balança corrente com um défice que, na primeira década do Euro, praticamente duplicaram a dívida externa da economia portuguesa", disse em Leiria, onde falou num 'workshop' do Fórum para a Competitividade.

Tenho muita pena de que estejamos em véspera de regressar a um desequilíbrio externo em Portugal. Temos conseguido uma posição de funcionamento líquido positivo do ponto de vista da situação económica", mas "projeções feitas pelo Banco de Portugal apontam para que, a partir de 2020, senão já este ano, regressemos aos défices da balança corrente".

Nos últimos anos, prosseguiu, "tínhamos disponibilidades sobre o exterior e podíamos conduzir um 'desendividamento' de toda a economia a um ritmo mais significativo. Isso está à beira de se perder".

Segundo o ex-chefe do Governo PSD-CDS e economista, "há umas visões mais otimistas, que dizem que é por causa do investimento que isso vai acontecer e, portanto, é temporário e vai permitir no futuro a capacidade de exportar".

Mas é apenas uma parte da conversa: a produtividade está a cair mais do que a dos nossos parceiros comerciais. E assim é muito difícil pensar que vamos ganhar mais quotas de mercado no médio prazo ou longo prazo, se se mantiverem estes diferenciais", acrescentou.

Em Leiria, Pedro Passos Coelho sustentou que "à primeira vista", e apesar de Portugal viver "com a ideia superficial" de ter as contas certas, "a situação estrutural continua frágil e vulnerável", o que "não é uma boa notícia".

Segundo o antigo governante, Portugal desaproveitou "a política monetária e o crescimento mais forte que os últimos anos ofereceram".

Para Portugal, isso representou, nos últimos anos, praticamente dois terços da consolidação orçamental efetuada. Mas isso vem do ciclo e não foi devidamente aproveitado, nem para conseguir reformas estruturais, nem para encontrar mais espaço orçamental e reduzir os risco financeiros, olhando para potenciais crises futuras", concluiu.

 

"Geringonça" europeia "não é muito provável" e seria " instável"

O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho afirmou em Leiria que seria precisa "uma 'geringonça' europeia para excluir o Partido Popular Europeu (PPE) do processo decisório no Parlamento Europeu, cenário que "não é muito provável".

"Mesmo com o declínio nas últimas [eleições] europeias" do PPE, cuja bancada integra os eurodeputados do PSD e do CDS-PP, "dificilmente se constrói uma maioria [no Parlamento Europeu] sem o PPE", defendeu o ex-primeiro-ministro social-democrata, intervindo numa sessão sobre o as consequências das eleições europeias para as empresas, em Leiria.

Seria necessária uma 'geringonça' europeia para que isso acontecesse. Não é muito provável, seria uma solução sempre instável", notou Passos Coelho, admitindo que a atual distribuição de mandatos vai obrigar a "procurar um consenso mais alargado, um equilíbrio mais complexo, mais difícil de atingir".

Os resultados das eleições europeias de maio resultaram na "maior fragmentação que enfraqueceu as famílias políticas tradicionais" mas, considerou, isso "não condicionará a a evolução económica da União Europeia".

Passos Coelho, que foi convidado pelo Fórum para a Competitividade para falar no `workshop´ "Exportadoras Outstanding" sobre as consequências das eleições europeias para as empresas, sustentou que os principais constrangimentos podem surgir da "incerteza ligada ao `Brexit´ e às tensões comerciais", que podem crescer com novas barreiras impostas pelos Estados Unidos da América.

Outros pontos sensíveis para o crescimento são as "limitações da política monetária", sobretudo pela "fraca reforma estrutural" e o "atraso e fraco consenso na reforma da União Económica e Monetária", nomeadamente "na união bancária e na construção de uma união de mercados de capitais", considerou.

O ex-líder do PSD defendue que há "uma consciência europeia que se vem desenvolvendo paulatinamente", com "riscos que devem ser avaliados", um dos quais, disse, é a "confiança sobre o futuro".

Citando um estudo do `European Council on Foreing Relations´, Passos Coelho referiu que "nota-se que existe uma queda de confiança e expetativas negativas sobre o futuro em alguns países", o que considerou representar uma inversão porque "a União Europeia nasceu do receio relativo ao passado e à guerra" mas "o que preocupa agora é o futuro".

Disso vai depender a evolução económica nos próximos anos, não tenho dúvidas", advertiu.

Para o futuro da União Europeia, o ex-primeiro ministro defendeu uma estratégia de "estabilização dos equilíbrios alcançados" e "efetividade das reformas em curso no plano europeu", aliada a "um reforço do princípio da responsabilidade nacional e na efetividade dos resultados associados aos compromissos assumidos pelos países".

Parece um caminho talvez menos 'romântico' mas mais resiliente para enfrentar o contexto global e as aspirações dos europeus", sustentou.

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