Governo afasta revisão do acordo ortográfico - TVI

Governo afasta revisão do acordo ortográfico

Augusto Santos Silva

O ministro dos Negócios Estrangeiros português afastou esta terça-feira a possibilidade de revisão do acordo ortográfico, referindo que está em vigor em Portugal e que falta ser aplicado pelos países onde a ratificação ainda está em curso

O ministro dos Negócios Estrangeiros português afastou esta terça-feira a possibilidade de revisão do acordo ortográfico, referindo que está em vigor em Portugal e que falta ser aplicado pelos países onde a ratificação ainda está em curso.

“O momento em que estamos do processo de implementação do acordo ortográfico é este momento: para países como Portugal, Brasil e outros, está em vigor; noutros países que o aprovaram, o processo de ratificação ainda está em curso”, disse hoje Augusto Santos Silva, à margem da apresentação da plataforma “Português Mais Perto”.

O chefe da diplomacia portuguesa referia-se a Angola e Moçambique, que ainda não ratificaram o acordo ortográfico, em vigor em Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

“A nossa posição é que devemos aguardar serenamente para que o processo de ratificação seja concluído para que o acordo possa entrar em vigor em todos os países que o assinaram e o aprovaram”, afirmou o ministro, quando questionado sobre a revisão do acordo ortográfico de 1990, proposta pela Academia de Ciências de Lisboa.

Interrogado se o Governo aceitará as “sugestões de aperfeiçoamento” do acordo, Santos Silva respondeu: “Não tenho mais nada a dizer”.

“O acordo ortográfico está em vigor em Portugal, é um acordo internacional que obriga o Estado português”, referiu o ministro, acrescentando que “evidentemente que nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria”.

A Academia de Ciências de Lisboa aprovou um documento com “Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” de 1990, propondo o regresso de consoantes mudas, do acento gráfico, em alguns vocábulos, do circunflexo, noutros, assim como do hífen.

Academia de Ciências diz que acordo pode ser melhorado

A Academia defendeu esta terça-feira, no parlamento, que o acordo ortográfico pode ser melhorado, pois a ortografia desde a sua entrada em vigor tem sido instável.

A lexicógrafa Ana Salgado, que falava aos deputados da comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, enumerou várias situações em que a ortografia confunde e demonstrou como diferentes guias institucionais da língua portuguesa se contradizem.

"O guia da Imprensa Nacional - Casa da Moeda (INCM) não é conforme com o da Assembleia da República, por exemplo", disse Ana Salgado, que referiu ainda a existência de contradições em diferentes dicionários.

Ana Salgado disse que o documento de aperfeiçoamento do acordo, divulgado no passado dia 27 de janeiro, sugere alterações à ortografia, como "uma alternativa" preferível à "confusão ortográfica atual".

O presidente da Academia, Artur Anselmo, que liderou a delegação hoje ouvida pela comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, disse aos deputados que o documento da academia é “indicativo e facultativo”.

"Em matéria de ortografia, nunca se dirá a última palavra", disse Artur Anselmo, que defendeu que “a força da língua portuguesa está na sua diversidade”.

"O acordo ortográfico não é a Bíblia, é um acordo que deve ser melhorado", disse Artur Anselmo que acrescentou: "a academia brasileira já o fez sem 'dar cavaco' à ACL".

O responsável frisou aos deputados que a ACL "não foi ouvida" relativamente ao AO90. E defendeu que, em sua opinião este acordo se devia antes chamar “convenção ortográfica”.

A deputada socialista Gabriela Canavilhas, questionou qual razão de a ACL se ter colocado à parte neste processo, sublinhando que “a academia foi sempre parte do processo”.

Artur Anselmo respondeu: “Só falo de mim, do que conheço, o resto calo e esqueço”.

Acabou porém por dizer que, antes da sua chegada à presidência da ACL, esta não reunia o plenário, e que os pedidos ao Instituto de Camões de apoio financeiro para viagens a Cabo Verde, onde é a sede do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), foram recusados com o argumento de falta de verbas.

Ana Salgado, por seu turno, informou que as diferentes mensagens de correio eletrónico, enviadas ao IILP “não obtiveram qualquer resposta”.

O escritor Manuel Alegre, também académico da classe de Letras, fez parte da delegação, secundou Artur Anselmo e lembrou que “o poder político não quis ouvir” a ACL.

Alegre afirmou que o AO90 suscitou a oposição de várias instituições e “da maioria dos escritores”, tendo citado os nomes de Vasco Graça Moura e de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Referindo-se às propostas de alteração ao AO 90, dirigiu-se aos deputados e questionou: “Vamos ficar no erro e no disparate?”.

Para o ex-deputado socialista “esta unicidade ortográfica causa uma fratura geracional e leva a uma grande confusão”.

O académico Martim Albuquerque, que também fez parte da delegação, usando da palavra, realçou o facto de Angola e Moçambique não terem ainda ratificado o AO90.

Martim Albuquerque acusou o AO90 de fazer tábua rasa das raízes etimológicas da língua portuguesa.

Continue a ler esta notícia