Durão Barroso: "A opinião que parece estar a consolidar-se é que a covid-19 será endémica" - TVI

Durão Barroso: "A opinião que parece estar a consolidar-se é que a covid-19 será endémica"

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 23 fev 2021, 21:59

Presidente da Aliança Global para as Vacinas destacou que os efeitos da pandemia vão ser mais graves em Portugal do que nos outros países.

O Presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), Durão Barroso, disse esta terça-feira em entrevista à TVI24 que parece estar a consolidar-se a opinião científica de que a covid-19 tornar-se-á uma doença endémica.

A opinião que parece estar a consolidar-se é que esta doença vai-se tornar endémica, como a gripe. Há muita gente que toma a vacina da gripe durante muitos anos talvez isso aconteça com a covid-19", afirma o antigo primeiro-ministro português.

Durão Barroso, questionado sobre os incentivos dos países mais ricos para ajudarem economicamente projetos para a inoculação de países em vias de desenvolvimento, afirma que "ninguém está a salvo até todos estarmos a salvo". 

O vírus não para nas fronteiras. Enquanto existir o vírus a circular no mundo, caímos sempre no risco de ocorrerem novas estirpes e surtos. É preciso ajudar os países mais pobres", sustenta, assinalando que tem existido nacionalismo no fornecimento de vacinas.

Para travar este nacionalismo, Barroso acredita na tese de partilhar o excesso, exemplificando o facto de o Reino Unido ter disponível mais de 400 milhões de vacinas.

 

Estou convencido de que vai haver vacinas para toda a gente. A questão é o tempo que vai demorar a termos acesso", afirma.

Durão Barroso sublinha que a GAVI terá disponível este ano cerca de duas mil milhões de vacinas para os países em vias de desenvolvimento. "No primeiro semestre, vamos distribuir para 145 países. Isto é a maior operação na história, nunca houve nada comparável na distribuição de qualquer produto".

O presidente da GAVI destaca ainda que a Aliança tem garantidas duas mil e trezentas milhões de doses. Um número que, na sua opinião, ganha relevo por estarmos no segundo mês do ano. "Quando foi a H1N1 os pobres só conseguiram ter acesso mais tarde. Acreditamos que este desafio vai ser concluído mais rapidamente desta vez".

A Aliança Global para as Vacinas tem um portefólio de oito vacinas já contratadas, algumas com cláusula de preferência - como é o caso da Pfizer e da AstraZeneca ("a Moderna é um pouco mais cara"). Porém, o projeto atravessa dificuldades substanciais, nomeadamente a cadeia de frio na distribuição e as classificações jurídicas e regulatórias.

 

O plano de recuperação para a economia mundial tem uma só solução, na ótica do presidente: vacinar. "Esta crise é diferente da de 2008, porque é criada por uma pandemia e levou uma grande parte das nossas economias à total paragem. O essencial é que a atividade económica possa arrancar e isso não é possível sem vacinação", refere.

Durão Barroso revela que a GAVI já apoiou 92 países em vias de desenvolvimento, cobrindo o seguro que deviam receber das farmacêuticas, "sem isso, elas não libertariam o produto".

Dessa forma, a GAVI atua como intermediária, garantindo a compra em massa de vacinas à indústria farmacêutica - o que faz o preço baixar por vezes em 70% -  e assegurando os interesses dos países em desenvolvimento, que recebem as vacinas em algumas alturas a preço zero.

Há ainda outro ponte de virtude no que toca à criação de um projeto com vista a democratizar o acesso às vacinas, o diálogo e o encontro de pontos comuns. "Sabemos que há um diálogo difícil entre a China e os Estados Unidos, mas ambos estão ligados à GAVI. Temos vários confrontos ideológicos, mas há uma cooperação em bens públicos globais, como a saúde pública, a estabilidade financeira, a abertura de mercados e a defesa do ambiente.

Ainda há dias falei com Bill e Melinda Gates - alguns dos investidores da GAVI de maior relevo - e que disseram que o investimento que mais se orgulham é na GAVI. São países e entidades ricas e que dedicam parte das suas verbas sem olhar a interesses próprios", destaca.

 

Custos da pandemia em Portugal vão ser mais graves do que no resto dos países

Sobre a "Bazuca" europeia, Durão Barroso espera que Portugal venha a receber mais dinheiro da UE, já que os efeitos da pandemia no país serão mais graves do que a média.

Vai haver uma revisão no final de 2021. Portugal neste momento tem garantidos cerca de 13 mil milhões de euros, mas espero que venha a conseguir mais, porque infelizmente os custos da pandemia em Portugal vão ser mais graves do que no resto dos países", sublinha, realçando que o país tem setores que estavam a crescer à volta da hospitalidade e que neste momento foram travados.

 

Contrariamente àquilo que as previsões sustentam, Durão Barroso crê que a recuperação económica mundial terá uma tendência vertical: " Os economistas que tenho consultado dizem 5 a 6% já em 2021, mas tudo depende do controle da pandemia".

Porém, esta "bazuca" a 27 "não vai chegar", diz, e vai ser necessário um esforço monetário maior ao nível dos próprios países e também dos sistemas financeiros internacionais. Afinal, esta é, lembra, a maior recessão em mais de um século, com a maior queda do PIB em décadas.

As previsões globais são boas, mas acho que no nosso país vai demorar mais do que nos outros. A nossa situação pandémica é pior do que a dos nossos parceiros e também atinge setores que são muito mais importantes na nossa economia, que depende tanto da mobilidade humana".

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