Morreu Zeca Mendonça, histórico assessor do PSD - TVI

Morreu Zeca Mendonça, histórico assessor do PSD

  • CM/AM
  • 28 mar 2019, 21:53

José Luís Mendonça Nunes, conhecido por Zeca Mendonça, tinha 70 anos. Atualmente, era assessor da Presidência da República

Morreu Zeca Mendonça, histórico assessor do PSD e, mais recentemente, da Presidência da República.

José Luís Mendonça Nunes, conhecido por Zeca Mendonça, morreu nesta quinta-feira, aos 70 anos.

Tornou-se funcionário do PSD (então PPD) em 1974, tendo começado como segurança, e, em 1977, passou para o gabinete de imprensa do partido, no qual trabalhou durante 40 anos.

Como assessor de imprensa, Zeca Mendonça trabalhou com 16 presidentes do PSD - ou 17, caso se conte com Leonardo Ribeiro de Almeida, que presidiu à Comissão Política quando Francisco Sá Carneiro liderava o partido e era primeiro-ministro –, terminando funções no mandato de Pedro Passos Coelho.

Em dezembro de 2017 põe fim a 43 anos de ligação profissional ao PSD para ir reforçar a equipa de assessoria de Marcelo Rebelo de Sousa.

Rui Rio, atual presidente do PSD, lamentou a morte do "profissional competente, honesto e de enorme dedicação ao PSD" numa mensagem deixada no Twitter.

Numa nota de pesar publicada no site do partido, o PSD expressa igualmente “profunda consternação” com a notícia da morte de Zeca Mendonça.

“Nesta hora, faltam as palavras para expressar a sua importância para o partido e para todos aqueles com quem se cruzou ao longo da vida. Dedicação, seriedade e amizade são apenas alguns dos valores em que pensamos quando o relembramos”, refere o texto, assegurando que o legado do histórico assessor “permanecerá para sempre”.

Também o ex-Presidente do República Aníbal Cavaco Silva lembra o antigo assessor do PSD como “um homem bom” a quem o partido e “cada um dos seus líderes muito devem”.

Numa declaração escrita, Cavaco Silva, que liderou o PSD entre 1985 e 1995, refere que foi com “tristeza” que tomou conhecimento da morte de Zeca Mendonça e recorda que ainda há poucos dias falou com ele.

“A propósito do seu aniversário, há uns dias, tive oportunidade de transmitir ao Zeca e à família que nunca esquecerei o quanto ele me ajudou na minha vida política. Foram dezenas de campanhas feitas com o seu apoio direto, que mostraram a sua enorme lealdade, capacidade e dedicação, ao PSD e, dessa forma, a Portugal. Presto-lhe uma sentida homenagem”, lê-se na nota assinada por Cavaco Silva.

No Twitter, o cabeça-de-lista do PSD às europeias, Paulo Rangel, também recorda as suas memórias com o histórico assessor social-democrata.

O antigo presidente do PSD Pedro Santana Lopes lamentou a “perda de um amigo e confidente” e recordou Zeca Mendonça como “a boa sombra” de todos os líderes sociais-democratas.

“É a perda de um grande amigo, de um confidente meu e acho que de todos os presidentes do PSD. Era a nossa sombra, a boa sombra, na qual nos abrigávamos muitas vezes, nomeadamente quanto o tempo piorava”, lembrou Santana Lopes, em declarações à Lusa.

Santana Lopes, que no verão passado deixou o PSD para fundar o novo partido Aliança, recorda Zeca Mendonça desde sempre no partido, mas sobretudo quando exerceu as funções de líder, entre 2004 e 2005.

“Ele acompanhava-nos para todo o lado, são cargos solitários, e o Zeca era o confidente. Tornámo-nos amigos. Foi sempre impecável e irrepreensível comigo, era um cavalheiro”, destacou.

Por sua vez, o antigo líder do PSD José Manuel Durão Barroso lamentou a morte de Zeca Mendonça, considerando que o antigo assessor “faz parte da história" do partido.

Na mensagem, o também ex-presidente da Comissão Europeia, que liderou o PSD entre 1999 e 2004, enviou os seus “mais sentidos pêsames” aos familiares e amigos mais próximos de Zeca Mendonça, que era atualmente assessor na Presidência da República e morreu hoje aos 70 anos.

Também no Twitter, o comissário europeu Carlos Moedas lembrou Zeca Mendonça não só como “um grande profissional”, mas também como “um grande ser humano”.

Por sua vez, o antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes lamentou a morte de “um grande amigo” e recordou o histórico assessor do partido Zeca Mendonça como “uma pessoa com o coração do tamanho do mundo”.

“Um laranjinha de uma dedicação sem limites. Um colaborador de uma lealdade exemplar”, destacou Marques Mendes, numa declaração à agência Lusa.

Marques Mendes, que liderou o partido entre 2005 e 2007 e a bancada parlamentar entre 1996 e 1999, defendeu que o PSD “deve muito” a Zeca Mendonça.

“Todos temos para com ele uma enorme dívida de gratidão", salientou.

Quem era o homem que esteve ao lado de 16 presidentes do PSD 

José Luís Mendonça Nunes, conhecido por 'Zeca Mendonça', nasceu em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, em 23 de março de 1949.

Segundo de cinco filhos de um pequeno industrial de mobílias com fábrica em Lordelo (Guimarães), cresceu em Lisboa (na freguesia de Arroios) e frequentou o liceu Camões, época em se liga à Juventude Operária Católica, onde também militava o futuro dirigente da CGTP/Intersindical Manuel Lopes, que era o ensaiador do teatro.

Representou em algumas peças e, nos anos 60, torna-se próximo de vários artistas, como Paulo de Carvalho e Carlos Mendes, e, em especial, do cantor Jorge Palma, com quem parte à aventura para o Algarve em 1968.

Nessa viagem, chega a cantar uns fados “para estrangeiros”, segundo perfis do Diário de Notícias e do Público publicados em 2007 e 2012, respetivamente.

Regressa a Lisboa de cabelo comprido, que mantém até ser chamado a cumprir serviço militar: entre 1970 e 1972, deu instrução de obuses no RAL 1, unidade militar que seria importante no 11 de março e no 25 de novembro de 1975, passando, entretanto, a chamar-se RALIS.

Nesse período, participa numa manifestação contra o regime, que considera ter sido a causa de ser convocado para duas comissões de serviço na Guiné, onde acabaria por cumprir apenas uma, devido ao 25 de Abril. Ainda ponderou seguir o destino de amigos e emigrar, mas “por moeda ao ar”, contou ao Público, decidiu embarcar para o antigo Ultramar.

Regressa a Portugal em agosto de 1974 e um amigo, João Inácio Simões de Almeida, convidou-o a trabalhar como segurança de um novo partido, o então PPD.

Ainda recolheu algumas das 5.000 assinaturas necessárias à legalização do partido, nas quais se inclui a sua, e vive episódios atribulados no ‘verão quente’ de 1975, quer na sede – com várias falsas ameaças de bomba - quer em comícios pelo país.

Em 1977, a segurança do PSD deixou de existir e dão-lhe a escolher entre três opções: o grupo de Estudos, o jornal Povo Livre ou o gabinete de relações públicas, escolhendo este último, sem hesitar.

Como assessor de imprensa, trabalhou com 16 presidentes do PSD - ou 17, caso se conte com Leonardo Ribeiro de Almeida, que presidiu à Comissão Política quando Francisco Sá Carneiro liderava o partido e era primeiro-ministro –, só ficando de fora Emídio Guerreiro (secretário-geral por breves meses em 1975, quando ainda era segurança no PSD) e o atual líder do PSD, Rui Rio.

Quem com ele trabalhou destaca duas características: a dedicação ao PSD e a lealdade a todos os presidentes com quem trabalhou, fazendo questão de nunca partilhar com o líder em funções episódios ou comentários desagradáveis sobre os seus antecessores.

A facilidade nos relacionamentos e a capacidade de “descrispar” ambientes políticos tensos são outros elogios frequentes ao histórico assessor do PSD.

Manteve uma boa relação, em geral, com a imprensa, com a exceção a acontecer em março de 2014, durante o Governo PSD/CDS-PP, quando à chegada de Miguel Relvas à reunião do Conselho Nacional dos sociais-democratas, deu um pontapé num fotojornalista que tentava captar imagens num local que teria sido vedado.

O episódio, que o próprio classificou como “um descontrolo”, foi ultrapassado com um pedido de desculpas ao repórter.

Em dezembro de 2017, Zeca Mendonça põe fim a 43 anos de ligação profissional ao PSD para ir reforçar a equipa de assessoria do Presidente da República.

Depois de convidado para trabalhar com Marcelo Rebelo de Sousa – quem o conhece bem assegura que foi o seu líder “preferido”, apesar de ser uma pergunta a que nunca respondia -, Zeca encontrou o primeiro-ministro, António Costa, nos corredores do parlamento, que lhe deu os parabéns pela promoção e lhe disse que era “a segunda pessoa do PSD” de quem mais gostava, segundo um relato que transmitiu a vários amigos.

Um ano antes, no 36.º Congresso do PSD de Espinho, em 2016, tinha recebido um aplauso, de pé, dos delegados, durante uma homenagem aos funcionários do partido.

Conhecido pela sua discrição, mas também pelos dotes de bom conversador e contador de histórias – sobretudo ligadas ao PSD -, Zeca Mendonça foi por várias vezes desafiado para escrever as suas memórias, mas recusou sempre.

"Já me desafiaram para as memórias, o partido sempre teve confiança em mim, pelo que não faria sentido escrevê-las", justificou ao Público, em 2012.

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