PCP promete lutar contra "poder absoluto" do PS - TVI

PCP promete lutar contra "poder absoluto" do PS

  • CM
  • 29 abr 2018, 18:30
Jerónimo de Sousa

Jerónimo de Sousa diz que avanços e reposição de rendimentos resultam precisamente do facto de o Governo não ter maioria no Parlamento

O secretário-geral do PCP prometeu, neste domingo, que a luta contra um "poder absoluto" vai ser uma questão central, defendendo que a influência dos comunistas, com o PS sem um Governo maioritário, foi decisiva para os avanços desta legislatura.

Estes são avanços que só se tornaram possíveis com a luta e numa correlação de forças em que o PS não dispõe de um Governo maioritário. Avanços que vão para além do que o Governo do PS previa e admitia. Não nos iludamos, camaradas, porque lemos o programa do PS, porque lemos o programa do Governo. Não teria sido feito nem meio caminho se não fosse a persistência, a ação, a intervenção, o papel e a proposta do PCP neste quadro da correlação de forças", sustentou.

Segundo Jerónimo de Sousa, que falava durante um almoço comemorativo do 44.º aniversário do 25 de Abril, no Pavilhão José Gouveia, na freguesia de São João da Talha, em Loures, daqui resulta "uma conclusão óbvia" para o futuro próximo.

A questão central que se vai colocar é se entregamos qualquer poder absoluto, ou se reforçamos o PCP, para ter mais voz, para ter mais possibilidade de dar força à luta e conseguir novos avanços, e a reposição de rendimentos e direitos, e dar mais força à ideia de uma política alternativa, patriótica e de esquerda de que Portugal precisa."

O secretário-geral do PCP alegou que "a direita conservadora e reacionária e os representantes do grande capital ameaçam e traçam linhas vermelhas à decisão dos órgãos de soberania, tal como bramam contra a possibilidade da manutenção da influência do PCP".

No entanto, o PCP não irá "desperdiçar nenhuma oportunidade de contribuir em todas as circunstâncias para a elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo" e continuará a lutar "pela rutura com a política de direita, impedir que ela prossiga, seja pela ação do PSD e do CDS, pela ação do PS, sozinho ou não", prometeu.

Jerónimo de Sousa enquadrou o atual período de governação como "um caminho de exigência de defesa, reposição e conquista de direitos e de desenvolvimento do país que se iniciou com a derrota do Governo PSD/CDS e a alteração da correlação de forças na Assembleia da República, que é preciso levar mais longe".

Foram "dois anos e meio da nova fase da vida política nacional" em que se travaram "combates de Abril" e "alguns com êxito", com um "papel decisivo do PCP", disse.

Podemos dizer hoje: estes avanços não são suficientes, são limitados. Mas, camaradas e amigos, os lutadores também precisam de vitórias. E por isso valorizamos estes avanços porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas, porque aqui estamos, no caminho de Abril, a repor direitos e rendimentos", prosseguiu.

Jerónimo de Sousa recusou, porém, que se fale "do sucesso de um modelo e de uma estratégia, para colher em exclusivo os louros", argumentando que "não há nenhuma mudança significativa na estrutura da economia do país ou do posicionamento em relação aos grupos económicos e financeiros, cujos interesses permanecem intocáveis".

O que mudou foi a política de reposição de rendimentos que, sendo ainda bastante contida, ultrapassou os limites fixados pelo próprio Governo, e esta é a origem do sucesso", defendeu.

O secretário-geral do PCP advogou que o crescimento e o emprego seriam ainda mais expressivos "se não permanecessem enormes resistências na política de restituição de direitos e rendimentos por parte do Governo PS" e se Portugal se libertasse dos atuais "constrangimentos e condicionamentos" da União Europeia e do euro.

Jerónimo de Sousa acusou o PS de formar com os partidos à sua direita "um bloco central de oposição às propostas do PCP" em matéria da legislação laboral".

Não vai na direção certa, na direção de Abril, o PS e o seu Governo quando procura a solução para os problemas dos trabalhadores, do povo e do país com o PSD e o CDS."

"Pompa espalhafatosa"

O secretário-geral do PCP acusou, também, o Governo de fazer do défice "uma questão de ditadura", criticando, ainda, os acordos assinados "com pompa espalhafatosa" com o PSD.

Sobre o Programa de Estabilidade, o secretário-geral do PCP disse que os valores previstos para o pagamento de juros da dívida nos próximos quatro anos ultrapassam os 30 mil milhões de euros, dinheiro que, sublinhou, poderia resolver muitos problemas no país

Isto significaria, camaradas, três orçamentos anuais para todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Isto significaria, noutras áreas, resolver problemas estruturais com que o nosso país é confrontado. Mas não, decidiram que esta questão do défice é uma questão de ditadura, em que a União Europeia quis reduzir para 1,1%, depois o Governo, mais papista que o Papa, resolveu 0,7%. Por que razão tem de ser 0,7%, ou até mesmo 1,1%, se precisamos como de pão para a boca de investimento público para resolver os nossos problemas, os problemas do país, na saúde, da educação, nas infraestruturas, no plano do desenvolvimento económico? Porquê? Pois, esta é uma forma de dizer que continuam bem comportados perante a União Europeia."

Quanto aos acordos que o primeiro-ministro, António Costa, assinou com o presidente do PSD, Rui Rio, sobre descentralização e fundos comunitários, Jerónimo de Sousa afirmou que têm "inegável significado político, significado expresso não só na relevância política das matérias tratadas, mas pela ostensiva visibilidade e pompa espalhafatosa com que o ato se realizou".

Não vai na direção certa, na direção de Abril, o PS e o seu Governo quando procura a solução para os problemas dos trabalhadores, do povo e do país com o PSD e o CDS-PP, como não segue um bom caminho que vá ao encontro de Abril quando alarga essa convergência a novos domínios", considerou.

O líder comunista criticou em particular a proposta de descentralização, defendendo que "descentralizar é bem mais do que PSD e PS preparam" e "envolve a regionalização", assim como "exige a reposição de freguesias" e "uma proposta de Finanças Locais que não seja uma mão cheia de poucas garantias".

 

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