“90% dos portugueses que saem do desemprego ou da inatividade encontram um emprego com contrato a prazo, que indica o seu início e o seu fim. Isto tem um impacto na produtividade e na estabilidade do emprego que se perpetua de forma muito penalizadora para trabalhadores e empresas.”
Mais, Mário Centeno sublinhou que destes trabalhadores com contrato a prazo “apenas 20% veem os seus contratos convertidos em contratos permanentes” e apontou alguns dos efeitos negativos que decorrem desta situação.
“Isto gera rotação excessiva de trabalhadores, pouquíssima acumulação de capital humano dentro das empresas, desvalorização do capital adquirido na educação formal e acumulam-se os salários baixos na economia portuguesa em números cada vez maiores. 41% dos trabalhadores portugueses ganha ao longo do ano menos de 14 vezes o salário mínimo.”
O economista também deixou duras críticas ao “sistema de proteção no desemprego”, que classifica de “elitista” por proteger uma minoria e, assim, não cumprir “a função económica e social para o qual foi criado”.
“Temos um sistema de proteção no desemprego que eu chamo elitista porque protege apenas uma parte minoritária daquilo que são os trabalhadores que perdem o emprego. Quando olhamos para os dados da Segurança Cocial apenas um terço dos trabalhadores que perdem o emprego no trimestre seguinte estão a receber subsídio de desemprego.
Carlos Carvalhas afirmou que o desemprego só é “um fado, se se mantiver esta política”. Para combater o desemprego, o ex-secretário-geral do PCP acredita que é necessário adotar um conjunto de medidas que passam pelo investimento e pela industrialização.
“O emprego depende de investimento e da industrialização. O que fizemos à nossa indústria?”
Ideias que disse não ver nem no Governo nem no PS. Carlos Carvalhas foi mais longe, acusando António Costa de dar a ideia de que vai acabar com a austeridade, quando, na sua opinião, esta vai continuar.
“Para se dar resposta é preciso mudar a política, adotar um conjunto de medidas que não vejo nem no PSD nem no Programa de Estabilidade. Alguma palavrinha no cenário socialista sobre a industrialização?”
Luís Pais Antunes, por sua vez, rejeitou a ideia de um maior investimento como solução para o problema.
“A correlação entre os níveis de investimento e o serviço da dívida não aponta para que quanto mais é o investimento mais se combate o desemprego. […] Nós estamos constantemente a subir [desemprego] e não foi por falta de deitar dinheiro para cima dos problemas.”
Mas concordou com Carlos Carvalhas num ponto: “é óbvio que o PS não vai acabar com a austeridade”.
“Não há política com dinheiro que caia das árvores e não há maneira de fazer cair dinheiro nas árvores. Vamos ter que continuar a viver em contenção.”