CDS: Matos Santos deixa direção depois de chamar "agiota de judeus" a Aristides de Sousa Mendes - TVI

CDS: Matos Santos deixa direção depois de chamar "agiota de judeus" a Aristides de Sousa Mendes

  • AG
  • 4 fev 2020, 19:18
Abel Matos Santos

Centrista fez ainda publicações com elogios a Salazar e à PIDE

O ex-porta-voz da tendência Esperança em Movimento, Abel Matos Santos, demitiu-se esta terça-feira de vogal da comissão executiva do CDS-PP, o órgão mais restrito do presidente, na sequência de declarações polémicas.

Fonte do partido disse à Lusa que Abel Matos Santos "formalizou a demissão" junto da direção do partido.

Abel Matos Santos entrou na corrida à sucessão da ex-presidente do partido, Assunção Cristas, mas não chegou a levar a sua moção a votos, tendo desistido a favor do atual presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos.

O psicólogo-clínico integrou as listas apresentadas pelo atual líder, tendo sido eleito em congresso vogal da comissão executiva.

Abel Matos Santos abandona a direção do CDS, ao fim de duas semanas, depois de ter sido noticiado pelo Expresso que defendeu, de 2012 a 2015, em publicações na rede social Facebook, elogios a Salazar e à PIDE, e apelidou de “agiota dos judeus” o cônsul de Portugal em Bordéus Aristides Sousa Mendes, que ajudou a salvar milhares de judeus durante a II Guerra Mundial.

Na última quinta-feira, deixou também de ser porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM).

O psicólogo clínico que foi eleito para a comissão executiva do CDS, órgão restrito de direção, reagiu à polémica e, sem negar a autoria das frases, afirmou ao semanário Expresso que “expurgar frases desses textos e descontextualizá-las não é um exercício sério”.

No final da semana passada, o ex-vice-presidente do CDS-PP e ex-ministro António Pires de Lima exigiu ao novo líder do partido que “retire a confiança política” a Abel Matos Santos, dada a "gravidade das declarações" que fez sobre Salazar e Aristides de Sousa Mendes. Abel Matos Santos chamou "agiota de judeus" ao português, que ajudou muitas pessoas a fugirem da Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Em comunicado divulgado o mesmo dia, a comissão executiva dos democratas-cristãos explicitou que no partido “não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o antissemitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”.

A nota emitida acrescentava que o CDS repudia, “com veemência, qualquer afirmação passada, presente ou futura” que se afaste da matriz do partido e que precisa de “se reconciliar com o seu passado, de incluir e de somar com todos os seus militantes e sensibilidades, e de saber agregar, numa proposta mobilizadora para os portugueses, as correntes de pensamento que o compõem”.

Os democratas-cristãos referiam igualmente que Abel Matos Santos “é também um reflexo” do espírito de “unidade, compromisso e pluralismo” do CDS-PP, e que o ex-vice-presidente “fundou e liderou uma tendência interna do partido, cuja carta de princípios expressamente reconhece ‘os princípios gerais do Estado de direito’”.

É tempo de seguir em frente e de não permitir que os equívocos e mal-entendidos do passado nos comprometam o futuro”, finalizava o comunicado.

Em declarações à Lusa pouco depois de o comunicado ter sido divulgado, o vice-presidente do CDS-PP Sílvio Cervan realçou que o vogal da comissão executiva do partido Abel Matos Santos “teve sempre a confiança política de todas as lideranças” e não vale a pena estar a acrescentar “pontos ao conto”.

[Abel Matos Santos] teve sempre a confiança política de todas as lideranças até agora, já situou [as declarações] e pediu desculpa por aquilo que disse. Não valerá muito a pena estarmos aqui a acrescentar grandes pontos ao conto, porque este conto não tem grandes pontos para se lhe acrescentar”, afirmou na altura Sílvio Cervan.

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