"O caos na saúde": quando a encenação chega à campanha de Rui Rio - TVI

"O caos na saúde": quando a encenação chega à campanha de Rui Rio

A "ensaiar um novo modelo de campanha eleitoral", Rui Rio correu meio mapa no segundo dia oficial de campanha que ficou marcado - tal como diria Ricardo Araújo Pereira - por "saúde, saúde, saúde".

“Estou à espera desta consulta desde 2008, acho que o meu baço voltou a nascer”. A frase faz parte do momento de sátira que abriu a talk de Rui Rio em Faro, a última iniciativa do dia de campanha que ficou marcado pelas visitas ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, e ao Centro de Saúde de Portimão.

Pouco faltava para o meio dia quando Rui Rio, acompanhado pelo cabeça de lista por Setúbal - Nuno Carvalho -, chegou em passo acelerado ao hospital em Almada. 

Sem declarações aos jornalistas, a comitiva social democrata percorreu o curto corredor sendo apenas interpelado por uma utente que pedia que dissessem a Rui Rio que está "à espera de uma cirurgia há 12 meses...".

"Não são dois... são 12!", afirmava o utente sem conseguir fazer parar a comitiva que, rapidamente, entrou no elevador para prosseguir com a visita à Pediatria e ao Serviço de Urgência.

A visita seguiu, os jornalistas aguardaram, e o aglomerado de câmaras e repórteres à porta do hospital gerou mais perguntas a quem tentava passar as portas do que o desfile social-democrata. 

"Todos eles prometem e ninguém faz nada. O estado da saúde está pior, muito pior do que eles dizem. (...) Este é um dos melhores hospitais que temos no país, mas derivado à situação financeira do hospital, está-se a degradar", afirma Alexandra Cardoso, que depois de sair de uma consulta ficou a ver o que se passava junto à porta do hospital.

Confessando não gostar de Rui Rio, esta almadense acusa o presidente do PSD de ser "igual aos outros": "Ele devia ter juízo. Tudo o que ele está a dizer é mentira". 

E deixa-lhe um recado.

"Nós os doentes não temos maneira de, por exemplo, vamos ao médico e se não tivermos dinheiro para pagar, quando vamos lá tirar a senha mostra a dívida à pessoa que está a ajudar-nos. Não temos melhorias. Podíamos não pagar taxas moderadoras, ter direito aos exames sem os pagar. Ou então, quem os pode pagar, pagar e os que necessitam, não pagar".

Alexandra Cardoso viu Rui Rio chegar e falar aos jornalistas, mas não lhe disse palavra. Não acredita nele, já disse. E Rio seguiu caminho para Setúbal onde à sua espera tinha empresários.

Debate de Centenos

Pequena paragem no tema do dia - "saúde, saúde, saúde", já diria Ricardo Araújo Pereira - e Rui Rio falou sobre os debates que terminaram na segunda-feira e deixou até um desafio a Mário Centeno.

“Nos dois debates de ontem, houve uma troca de números que ninguém no país entendeu bem, penso que era essa a intenção do dr. António Costa”, começou por dizer Rio, lembrando depois que a Antena 1 desafiou Sarmento e Centeno para um debate sobre matéria económica.

“O professor Joaquim Sarmento já disse que sim. Se o dr. António Costa tem tanta segurança naquilo que foram os números que jogou para cima da mesa, seguramente que o seu Joaquim Sarmento – que se chama Mário Centeno - aceitará debater esses números”, ironizou.

Convicto de que vai conseguir fazer uma campanha eleitoral diferente, o presidente do PSD viu, rapidamente, a agenda derrapar, com o almoço a terminar já depois das 16:00 e a obrigar a atrasar a visita ao Centro de Saúde de Portimão.

Eram cerca das 18:30 quando a comitiva laranja chegou ao local e foi saudado com um "com o atrasar da visita, o centro já está um bocadinho vazio".

E assim era. A maioria das salas de espera estavam, efetivamente, vazias. Numa das salas encontravam-se quatro utentes que aguardavam ser chamados para a consulta. Assim que viram a multidão dirigir-se para a porta que dava acesso aos gabinetes de consulta, protestaram.

A profecia não se cumpriu totalmente, uma vez que dois dos utentes foram de imediato chamados. Mas, Maria Santos, que ali estava por ter "uma dor aflitiva no braço" via os minutos a passar, sem ser chamada para a consulta e sem Rui Rio sair "de lá de dentro".

"Se eu não tivesse um problema, não vinha para aqui. Tenho uma consulta marcada para as 18:45 e já não vai ser porque veio tudo aqui agora. Desde as 15:00 que estou aqui. Eles têm muito tempo para vir aqui ver", diz Maria Santos.

A sátira e as encenações

Depois de Portimão, Faro. A viagem era curta e à sua espera Rui Rio tinha uma multidão aos saltos que percorria a baixa da cidade antes de entrar num café no centro de Faro para a tertúlia com populares previamente inscritos.

A iniciativa começou com uma sátira ao estado da saúde em Portugal, onde Rui Rio foi apresentado como ortopedista por ser o único “com pernas para andar”.

“O caos na saúde em Portugal”, representado pelos atores Carla Vasconcelos e Mário Bomba, pretendia retratar o estado do Serviço Nacional de Saúde com uma cidadã que se deslocou ao centro de saúde com queixas que se arrastavam há anos.

“Estou à espera desta consulta desde 2008, acho que o meu baço voltou a nascer”, afirmou.

O rececionista - que também era médico (porque os cortes de pessoal assim obrigam" - lá foi explicando que “a senha azul" que a paciente tinha tirado "em 2008” tinha sido “descontinuada em 2012” e que tinha de “tirar uma amarela”, numa tentativa de mostrar a burocracia a que os utentes estão sujeitos no SNS.

Rui Rio assistia, divertido, e no final afirmou que estas iniciativas irão repetir-se ao longo da campanha, uma vez que estão a "ensaiar um novo modelo".

Depois, puxando do programa do partido, o presidente do PSD lembrou que uma das medidas consistem em alargar "o cheque" para as cirurgias às consultas de especialidade de forma a que estas sejam realizadas no privado e os utentes não tenham de esperar tantos anos pela assistência médica de que necessitam.

“Além, aquela senhora que teria problemas no baço, não esperava desde 2008 porque podia recorrer ao privado”, atirou Rui Rio.

Durante a tertúlia, em que o líder social-democrata respondeu a nove perguntas da assistência, Rui Rio acusou ainda o Governo e o primeiro-ministro de terem feito “um golpe de teatro” com a ameaça de Costa, em maio passado, caso fosse aprovada a contabilização integral do tempo de serviço dos professores.

“Um golpe de teatro que surtiu efeito, basta olhar para o resultado das europeias, que foram vinte dias depois. O problema é que, passado algum tempo, ele faz a mesma jogada com os motoristas de matérias perigosas, percebeu-se que estava a montar uma outra encenação”, afirmou, deixando o aviso, sem mais esclarecer, de que "amanhã ou depois" Portugal vai perceber "outra encenação, num outro setor".

A campanha social democrata continua, esta quarta-feira, nos distritos de Beja e Évora.

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