Dos legumes à carne, das críticas ao "senso comum": o segundo dia do PAN no Porto - TVI

Dos legumes à carne, das críticas ao "senso comum": o segundo dia do PAN no Porto

Segundo dia de campanha de André Silva no distrito do Porto fica marcado pela chuva e pelas críticas vindas por quem tem a venda de carne como profissão. A TVI24 esteve ainda à conversa com três apoiantes do partido que consideram que essas críticas surgem pela "ignorância" que as pessoas têm do partido

Porto. Sábado. Chuva. E o PAN foi obrigado a trocar a praia de Matosinhos pelo mercado municipal. Trocou-se a areia pelos legumes, evitaram-se as galinhas e os coelhos engaiolados, mas ouviram-se críticas ao passar pelos talhos… mesmo que a comitiva tenha escolhido ficar entre os legumes no primeiro andar.

“Ouvi dizer que o PAN esteve num restaurante a comer carne de caça”, atirou uma talhante, para ouvir André Silva esclarecer o que chamou de fake news.

“Nós às vezes quando vamos para distritos do interior onde não temos restaurantes vegetarianos, entramos num restaurante convencional e pedimos acompanhamentos e para que nos façam uma refeição sem carne”.

E quando questionado porque é que evitou ir ao corredor das galinhas, André Silva esquivou-se com tanta agilidade como se escapou a passar junto das gaiolas.

“Vi, faz parte do mercado terem venda dos animais vivos engaiolados. É a economia a funcionar. É um tipo de economia que existe e convivemos bem com isso. Por isso, é natural que as pessoas nos abordem e falem desses assuntos. É cada vez mais importante que haja mais debate sobre estes assuntos”.

Por lá andava também Rui Reininho, acompanhado por uma banda filarmónica, que fez com que André Silva limitasse ainda mais o espaço por onde andou.

Entre corredores repletos de courgettes, couves, tomates, cogumelos e nabos, o líder do PAN foi perguntando se podia deixar um panfleto do partido para ajudar a esclarecer algumas dúvidas dos possíveis eleitores.

E se houve quem aceitasse entre desabafos de “já sei mais ou menos em quem vou votar”, também houve quem virasse as costas a André Silva sem ouvir o que este tinha para dizer. E nem aos jornalistas quiseram explicar porquê.

"Propostas são uma questão de bom senso e de senso comum"

Da parte da tarde, o partido de André Silva - que no distrito do Porto tem-se feito acompanhar da candidata pelo distrito, Bebiana Cunha - tinha prevista uma mega ação de limpeza em Gondomar, mas a chuva voltou a obrigar a que os planos fossem mudados e a tarde passasse do tema ambiente para o tema cultura, com uma visita ao Centro Comercial Bombarda, no centro do Porto.

E se no mercado houve quem não quisesse explicar porque apoiava ou não o PAN, pelos corredores do Centro Comercial, houve quem garantisse à TVI24 que “todas as propostas do partido são uma questão de bom senso e de senso comum” e já deveriam estar em vigor.

"Todas as propostas são coisas que eu acho que já deviam estar feitas em Portugal e no mundo. E o PAN é o primeiro partido, em muitas destas iniciativas, a falar delas e que começou a falar delas. E é um bocadinho de tudo: nutricionistas, açúcares, estatuto de vitima para crianças em contexto de violência doméstica… isto para não falar só de animais. Eu leio isto, ainda há dois dias li isto com uma amiga, e isto é uma questão de bom senso e de senso comum. Todas as propostas são uma questão de bom senso e de senso comum até para a vida das pessoas e para o bem estar das pessoas e dos animais também", afirmou Paula Neves, ladeada de três amigos que se juntaram à comitiva que circulava pelos corredores.

Até ao momento, esta portuense garante que tem conseguido explicar as propostas do partido a quem ainda não as conhece e que, assim que o faz, as pessoas entendem os objetivos e concordam com eles.

"Eu acho que concordam porque – a não ser que seja um toureiro, obviamente, mas ainda não me cruzei com nenhum na rua – todas as situações são senso comum. Não tive nenhuma discordância com nenhuma das propostas com quem falei", reitera.

Nem mesmo como as que André Silva enfrentou este sábado no mercado de Matosinhos. Para este grupo de amigos, a senhora que interpelou o líder do PAN não percebe que o partido não está "a lutar contra o trabalho dela".

"O ideal era a pessoa perceber que nós não estamos a tentar abolir nada, estamos a tentar uma redução que é necessária devido à emergência em que o mundo está neste momento. Nós temos um planeta em emergência climática e estamos a chegar a um ponto de não retorno nos próximos dez anos se não fizermos alguma coisa. Obviamente, não estamos a lutar contra o trabalho da senhora do talho, como é óbvio, estamos apenas a informar as pessoas da necessidade de uma redução do consumo de carne porque a indústria agropecuária é uma das maiores contribuidoras para o estado em que nós estamos e, possivelmente, até se a senhora até se sentisse afetada podia tentar outras medidas", explica Cristiana Fonseca.

São jovens, com filhos e defendem os ideiais do PAN para deixarem um mundo melhor para os filhos. E, acreditam, que se explicassem isso mesmo à senhora do talho, "se calhar o trabalho dela podia existir de uma forma mais sustensável".

"Acho que, falando com ela, era explicar-lhe o problema em que nos encontramos porque acho que ninguém, neste momento, se pensar no futuro quer que os seus filhos tenham recursos escassos e, provavelmente, até nem tenham recursos. Porque daqui a dez anos se não fizermos nada até lá não vamos conseguir voltar atrás. E quem vai sofrer nem sequer vamos ser nós. Vão ser os que vêm atrás. Nós gostamos tanto dos nossos filhos, não temos de ser os primeiros a agir para que eles a seguir tenham uma boa qualidade de vida, um bom planeta. Acho que o apelo começa por aí. Não pela abolição, não pelo ataque, mas pela informação", conclui.

"Ignorância factual e informacional"

Se no explicar é que está no ganho, porque é que os ataques às propostas do partido continuam a acontecer? Para este grupo de amigos é simples: a sociedade vive "numa estrutura pré-concebida" e nada se questiona.

"O PAN é atacado pela ignorância factual e informacional. Acho que isso acontece pela falta de informação e pela deseducação das pessoas e porque desde que nascemos vivemos numa “estrutura pré-concebida” e não questionamos", afirma Cristiana Fonseca. 

Para a jovem, as pessoas sentem-se "afrontadas pela desinformação que têm" e a estratégia para que isso não aconteça tem de mudar, a começar na forma como se passa a mensagem.

"Acho que neste caso a estratégia passaria por informar de uma forma calma e educar as pessoas nesse sentido. Fazê-las perceber que de facto isto não é um ataque ao estilo de vida de ninguém, o planeta neste momento está numa emergência climática que é importante que todos nós tomemos ação e nos preocupemos, e é preciso tomar medidas e mudar estilos de vida".

 

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