"Mário Soares construiu a história e a história guardará o seu exemplo" - TVI

"Mário Soares construiu a história e a história guardará o seu exemplo"

Mensagem-vídeo do primeiro-ministro António Costa, que se encontra em visita oficial à Índia, e não compareceu, por isso, nas cerimónias fúnebres do antigo Presidente e fundador do Partido Socialista

Mário Soares construiu a história e, por isso, a história guardará o seu nome, a sua obra, o seu exemplo. É um exemplo de combate constante por aquilo em que acreditava. É um exemplo de coragem de dizer o que pensava e de fazer o que devia, ainda que fosse o único a dizê-lo e a fazê-lo, mesmo que ficando por uns tempos, mas apenas por uns tempos, sozinho. É um exemplo de génio político, que alcançava o que parecia impossível de alcançar."

Foi à distância de uma visita de Estado à Índia que o primeiro-ministro evocou a memória de Mário Soares, através de uma mensagem-vídeo exibida na cerimónia fúnebre que decorreu nesta terça-feira, nos claustros do Mosteiro do Jerónimos, um " lugar histórico e simbólico", lembrou António Costa, em que Portugal assinou, em 1985, o tratado de adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), era então Mário Soares chefe do Governo.

"Entregamos hoje às gerações futuras a memória de um grande português de quem tivemos o privilégio e a honra de ser contemporâneos", começou por dizer António Costa, no início de um discurso com a duração de cerca de dez minutos.

Para o primeiro-ministro, evocar Mário Soares “é falar da sua vida, porque foi sempre em nome da vida e da liberdade que a enaltece, que lutou, sofreu, agiu, transformou, edificou e viveu”.

António Costa lembrou, por isso, o “republicano laico e socialista”, como o próprio se afirmava, mas acrescentou os atributos de “humanista, universalista, português, europeu, cidadão do mundo”.

Mário Soares foi, em momentos decisivos, o rosto e a voz da nossa liberdade. Desse título, que era certamente aquele que mais lhe agradaria, raros homens se podem orgulhar."

Um passado que o primeiro-ministro fez questão de recordar. "Resistente à ditadura, deportado e exilado, preso político, fundador e secretário-geral do PS, ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-ministro, vice-presidente da Internacional Socialista, deputado e líder da oposição, Presidente da República, presidente do Movimento Europeu, deputado ao Parlamento Europeu, presidente da Comissão Mundial dos Oceanos, presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, presidente da Fundação que tem o seu nome, autor de dezenas de livros."

Foi em todos aqueles momentos, e sempre inspirado por uma "grande visão humanista", que Mário Soares “configurou o Portugal democrático e foi o autor das suas opções fundamentais, tornando-se o principal fundador da nossa democracia e um dos portugueses mais prestigiados no mundo”.

Com esta visão, construiu o Estado de direito social e fez reformas que tornaram Portugal um outro e melhor país", destacou.

Sobre o homem, António Costa lembrou “o seu amor pela vida e pelas coisas boas da vida”, a sua “coragem ímpar”, a sua gargalhada. “Em Mário Soares, o homem público era inseparável do privado”, descreveu.

Conversar com Mário Soares era uma experiência exaltante e inesquecível. Em suma, como dissemos tantas vezes, Soares é fixe”, afirmou, recuperando o slogan das Presidenciais de 1986.

No final, já depois de uma pequena homenagem a Maria de Jesus Barroso, invocou "Os Lusíadas".

A única consolação que podemos ter, nesta hora de tristeza, é a de que, para homens como Mário Soares, a morte existe menos do que para os outros homens. Da lei da morte, como disse Camões, eles se libertaram pelas obras valorosas da sua vida."

"O militante n.º 1 da nossa democracia"

Depois da exibição da mensagem-vídeo do primeiro-ministro, seguiu-se a intervenção do presidente da Assembleia da República, na qual manifestou a "dor, admiração e gratidão" para com Mário Soares.

Mais do que militante número 1 do PS, foi o militante número 1 da nossa democracia", afirmou Eduardo Ferro Rodrigues.

O número dois do Estado português descreveu o antigo Presidente da República e fundador do Partido Socialista como alguém que "tinha a visão dos grandes estadistas e a intuição dos grandes políticos".

Tinha uma sintonia impressionante com o povo português. Os portugueses conheciam-no e ele conhecia bem Portugal e os portugueses."

Mesmo que nem sempre concordassem com ele, como lembrou Ferro Rodrigues.

Mário Soares costumava dizer que não devem ter existido muitos portugueses que num dado momento, entre 1975 e 2005, não tenham votado pelo menos uma vez nele. E também que em certos momentos ou fases não o tivessem combatido. E de facto foi mesmo assim."

Também o presidente da Assembleia da República fez uma citação, do poeta alemão Bertolt Brecht.

Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, e há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis."

 

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