25 de Abril: um "oceano de liberdade" separa Marcelo de Costa - TVI

25 de Abril: um "oceano de liberdade" separa Marcelo de Costa

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  • 25 abr 2021, 17:45

António Costa recordou que o chefe de Estado, no discurso que proferiu na Assembleia da República, invocou a sua história pessoal enquanto filho de "alguém que foi ministro da ditadura"

O primeiro-ministro elogiou este domingo o discurso do Presidente da República na sessão solene do 25 de Abril no parlamento, partindo das diferenças de percurso entre si e Marcelo Rebelo de Sousa para enaltecer "o oceano da liberdade".

António Costa assumiu esta posição numa breve intervenção após ter inaugurado nos jardins de São Bento, em Lisboa, uma escultura de Fernanda Fragateiro, "A poesia é" - uma iniciativa integrada no programa da residência oficial do primeiro-ministro de comemorações do 47º aniversário do 25 de Abril.

No discurso de hoje, o senhor Presidente da República teve a ocasião de sublinhar e enfatizar bem como há uma representação conjunta na diversidade necessariamente complexa da História de Portugal", declarou o líder do executivo.

Perante os jornalistas, António Costa recordou que o chefe de Estado, no discurso que proferiu na Assembleia da República, invocou a sua história pessoal enquanto filho de "alguém que foi ministro da ditadura".

Eu, a ouvi-lo, não pude deixar de me lembrar e de pensar que o país tem neste momento um Presidente da República que tem este percurso e um primeiro-ministro que é filho de uma mulher e de um homem que lutaram contra a ditadura e contra o colonialismo", observou.

António Costa disse então que, "se um é filho de alguém que foi governador de uma colónia, o outro é primo em segundo grau de um general da FRELIMO" (Frente de Libertação de Moçambique).

Percebemos bem nestes percursos diversos como a democracia e a liberdade são mesmo o grande oceano onde todos estes rios vão desaguar", concluiu.

O primeiro-ministro deixou ainda outras notas de diferença de percurso de vida e de geração entre si e Marcelo Rebelo de Sousa.

Tinha 12 anos quando aconteceu o 25 de Abril de 1974 e não fui constituinte como o senhor Presidente da República. E não fui também jornalista como o senhor Presidente da República. Mas tenho a certeza que é nesta diversidade que a liberdade permite que dá força à continuidade da nossa democracia, fazendo com o que o 25 de Abril não seja só uma data de há 47 anos e seja uma vivencia permanente e de futuro", declarou o líder do executivo.

 

Costa elogia Sérgio Godinho, arte de Fernanda Fragateiro e tradição desde Guterres

O primeiro-ministro elogiou ainda a carreira musical de Sérgio Godinho, a arte da escultora Fernanda Fragateiro e a tradição de abertura ao público dos jardins de São Bento iniciada com o seu antecessor António Guterres.

António Costa falava antes de atribuir a medalha de mérito cultural a Sérgio Godinho e logo após ter inaugurado nos jardins de São Bento uma escultura de Fernanda Fragateiro, "A poesia é" - dois eventos integrados no programa de comemorações da residência oficial do primeiro-ministro do 47º aniversário do 25 de Abril.

O líder do executivo apontou os condicionalismos inerentes ao programa de comemorações deste ano do 25 de Abril, com o país ainda em estado de emergência por causa da epidemia de covid-19.

Estas comemorações do 25 de Abril far-se-ão com a porta aberta, mas ainda com as cautelas devidas. Por isso, o tradicional concerto de fim de tarde de Sérgio Godinho foi pré-gravado. Será transmitido nas redes sociais do Governo a partir das 17:00 e na RTP1 a partir das 19:10 - um concerto que celebra os 50 anos de carreira de alguém que deu a voz na luta pela resistência" contra a ditadura, afirmou o primeiro-ministro.

Perante os jornalistas, António Costa disse que "Sérgio Godinho, foi alguém que deu voz ao 25 de Abril".

Alguém que tem cantado as nossas vidas desde o 25 de Abril até agora", acentuou, antes de elogiar a decisão de António Guterres, quando foi primeiro-ministro, entre 1995 e 2002, de abrir ao público os jardins e a residência oficial de São Bento.

Na perspetiva de António Costa, o atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, "iniciou uma belíssima tradição de celebrar o 25 de Abril abrindo as portas da residência oficial à visita de todos os cidadãos e, mais do que isso, convidando anualmente um artista plástico a representar a cultura portuguesa nos lindíssimos jardins de São Bento".

Nem todos os anos se tem cumprido esta tradição. Porém, nos anos em que aqui tenho estado, retomei essa tradição. A certa altura detetámos que tínhamos um universo muito rico de obras de arte, mas com a enorme falha de representação do género feminino entre os artistas presentes nesta coleção", apontou logo a seguir o atual líder do executivo.

Segundo António Costa, a partir da anterior legislatura, foi então "iniciada uma mudança", destacando a escultura de Fernanda Fragateiro.

Aqui temos esta linda obra de Fernanda Fragateiro, que é um convite à vivência no jardim, à leitura e recupera uma fase de Sophia de Mello Breyner, segundo a qual a poesia está na rua. Uma frase que tem aqui uma nova tradução de inspiração. A liberdade é a possibilidade que sempre temos de reinventar e de recriar a poesia, o estar na rua", defendeu o primeiro-ministro.

A escultura "A poesia é", de acordo com a escultora Fernanda Fragateiro, "tem a ver com o lugar em que se insere, o belo jardim de São Bento, e com a necessidade de não ocupar muito espaço".

Esta escultura, com dois elementos, tem a forma de livro em movimento. O material é o granito de Trás-os-Montes, Pedras Salgadas, muito denso e forte, o que nos fala de um território. A escultura convida as pessoas a sentarem-se e a usarem-na", explicou a autora da obra de arte.

Falando após a intervenção do primeiro-ministro, a escultora Fernanda Fragateiro contou também que tinha 11 anos quando aconteceu o 25 de Abril de 1974, dia em que fez uma intervenção cirúrgica.

Passei esse dia anestesiada. Adormeci num país muito escuro e acordei num outro país já em liberdade", declarou.

Depois, Fernanda Fragateiro demarcou-se da chamada arte celebratória.

"A arte não deve ser celebratória. As pessoas celebram acontecimentos em determinados momentos, mas, depois, com a revisão da História, as pessoas arrependem-se", justificou, antes de demarcar a questão do 25 de Abril desta sua tese crítica em relação à arte celebratória. 

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