Aliança à esquerda "é como derrubar um Muro de Berlim" - TVI

Aliança à esquerda "é como derrubar um Muro de Berlim"

  • Sofia Santana
  • 14 out 2015, 12:37

Com a hipótese de um governo do PS, apoiado por PCP e BE, a ganhar força, António Costa quer tranquilizar a comunidade internacional. Ao Financial Times, falou num acordo "histórico", que respeite os compromissos europeus

A hipótese de uma aliança entre o Partido Socialista e as forças mais à esquerda, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda, começa a ganhar força e, perante a crescente preocupação dos mercados, António Costa tem procurado deixar uma mensagem de tranquilidade à comunidade internacional. O líder do PS diz que está pronto para formar governo através de um acordo à esquerda que Costa compara à queda do Muro de Berlim. 

"É como derrubar os últimos vestígios de um Muro de Berlim. O PS não se moveu para o lado dos partidos anti-europeus, eles [PCP e BE] é que acordaram negociar um programa comum sem colocar em risco os compromissos de Portugal na zona euro."


Depois de uma entrevista à agência Reuters, o líder do PS vincou, em declarações ao Financial Times, que está pronto para formar um governo de esquerda que não comprometa a posição do país no quadro da União Europeia. 

O secretário-geral socialista reiterou ao jornal britânico que está em condições de formar um governo “histórico”, anti-austeridade, através de um acordo com os comunistas e os bloquistas que irá respeitar as regras da zona euro. Não há bluff, mas boa fé, garantiu.

"Não estamos a fazer bluff, mas a agir de boa fé. As negociações [com a esquerda] para a criação de um novo governo liderado pelo PS estão mais avançadas e a correr suavemente [do que com a direita]."


António Costa sublinhou que quase 62% dos eleitores portugueses votaram a favor de uma “mudança” e que o programa da coligação Portugal à Frente, mesmo que possa ser “adoçado” com algumas propostas do PS, não representa essa alteração de rumo.
 

“Quase 62% do eleitorado votou pela mudança. A coligação de direita não pode continuar como se nada tivesse acontecido. O mesmo programa da direita, adoçado com algumas propostas do PS, não representa uma mudança de direção”.


Uma mudança que o governo socialista pretende através da implementação de medidas que ajudem Portugal a “romper com a corrente de empobrecimento”, tais como o aumento do salário mínimo nacional e o alívio da carga fiscal.

Para isso acontecer, o líder do segundo partido mais votado nas legislativas de 4 de outubro defendeu “uma interpretação inteligente e flexível do Tratado Orçamental”, que permita ao país “virar a página da austeridade de uma forma responsável”.

Estimular uma economia “estagnada”, recorrendo aos fundos europeus para ultrapassar constrangimentos e aumentar a produtividade, foi uma ideia fundamental sublinhada por Costa.

O impasse político após as eleições que deram a vitória à PàF sem maioria absoluta parece, assim, encaminhar-se cada vez mais para a hipótese de uma aliança à esquerda.

Na terça-feira, António Costa esteve reunido, pela segunda vez, com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, mas não houve qualquer progresso nas negociações para um eventual bloco central.

Pelo contrário, o líder socialista frisou as "lacunas graves" da proposta da direita.

Do outro lado da mesa, Passo Coelho disse que, após o "esforço inicial" da coligação, espera agora uma contra-proposta do PS, que mostre vontade política para que haja um entendimento.
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