O primeiro debate quinzenal pós-férias e na ressaca das autárquicas foi marcado pela troca de palavras entre o primeiro-ministro António Costa e o novo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares.
Uma disputa de tal forma animada, sobretudo no que à semântica respeita, que até Passos Coelho não conteve o riso perante o que terá considerado a piada da tarde, na sequência da insistência de Hugo Soares em sublinhar que António Costa nem parecia que era primeiro-ministro há dois anos.
"O senhor é primeiro-ministro há dois anos, ter-se-á preparado para ser primeiro-ministro. Cada debate parece que chegou hoje e apresenta coisas novas como se não tivesse havido ontem e não é capaz de concretizar", lamentou Hugo Soares, com o ainda presidente do PSD, Passos Coelho, a seu lado.
Com toda a franqueza, prefiro que ache que cheguei ontem do que olhar para si e parecer que está cá desde o século passado", respondeu o chefe do Governo, com Passos a ter de limpar os olhos com as mãos.
A restante bancada laranja não gostou, lamentou a falta de "elegância" e Costa foi ainda mais claro para indignação dos sociais-democratas, referindo-se ao resultado das autárquicas.
Deve ter doído muito para ainda estarem tão incomodados quatro dias depois. Enquanto o Governo pode anunciar aquilo que lhe compete fazer, resolver problemas hoje, Vossa Excelência ainda está a discutir um governo onde participei e no qual deixei de exercer funções em 2007, está com dez anos de atraso."
Hugo Soares questionou o primeiro-ministro sobre temas quentes do verão, como a colocação de professores, o apuramento de responsabilidades em Pedrógão Grande, a Proteção Civil, o roubo de armas em Tancos e as greves na saúde, repetindo várias vezes as mesmas perguntas. Quase sempre à segunda, surgia a resposta de Costa que encerrava o assunto.
"Foi um furto ou não foi um furto?", insistiu Hugo Soares, referindo-se a Tancos.
O sr. deputado é jurista. A qualificação jurista depende da investigação criminal. E o Governo não faz investigação criminal", respondeu Costa.
Que nem um jogo de ténis, o líder parlamentar do PSD emendou: "Foi um roubo ou um furto?"
Sei o suficiente de direito para saber que além do furto e do roubo há outros enquadramentos criminais possíveis, há um cardápio grande. Mas não é preciso ter frequentado mais do que o primeiro semestre de Direito Constitucional para saber que em Portugal há separação de poderes", devolveu o primeiro-ministro.
Hugo Soares concluiu que o primeiro-ministro "ainda não é capaz de dizer ao país se o material em Tancos desapareceu porque veio um OVNI, porque o inventário foi mal feito ou porque foi subtraído".
A comissão e a CRESAP do PSD
Recuperando o tema dos incêndios de verão e aludindo à recente demissão do Comandante Operacional da Proteção Civil, Rui Esteves, por irregularidades na licenciatura, o líder parlamentar do PSD lamentou que "a culpa vai morrer solteira" e "o ‘boy' do PS que devia ser demitido por má figura sai por uma questão lateral".
Na resposta, o primeiro-ministro lembrou que foi o PSD que propôs a criação de uma comissão técnica independente para apurar as causas destes incêndios e que o Governo aceitou esta proposta.
Eu gostava de saber o que teria sido dito se o Governo tivesse recusado esta comissão ou, em vez de aguardar serenamente, estivesse a antecipar e apresentar conclusões ao país."
Hugo Soares questionou, também, António Costa sobre nomeações na Saúde, destacando o caso concreto do diretor do hospital de Ovar e de uma familiar, que disse serem quadros do PS. "Que critérios presidiram àquelas nomeações?", perguntou.
Certamente competência, se não o ministro da saúde não tinha proposto a sua nomeação", disse Costa, que devolveu outra questão em jeito de retórica: "Nem tudo o que o anterior governo fez foi mau e uma das coisas que fez bem foi a CRESAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública). Nenhum nome é nomeado sem ser sujeito à avaliação criteriosa da CRESAP. Deixou de confiar na CRESAP?"