Processo Fizz mantém congeladas visitas oficiais entre Portugal e Angola - TVI

Processo Fizz mantém congeladas visitas oficiais entre Portugal e Angola

  • Atualizada às 00:14
  • 23 jan 2018, 23:31

Primeiro-ministro reuniu-se com presidente João Lourenço em Davos, na Suíça. Costa define como “fraternas” relações com Angola, mas as visitas estão congeladas

O primeiro-ministro caraterizou esta terça-feira como "fraternas" e de "excelência" as relações político-económicas luso-angolanas, mas referiu que o processo judicial que envolve o ex-vice-Presidente de Angola Manuel Vicente mantém congeladas as visitas de alto nível entre os dois países.

António Costa falava aos jornalistas no final de uma reunião de 40 minutos com João Lourenço, que decorreu em Davos, na Suiça, no hotel em que o líder do executivo português está instalado e que começou com cerca de 50 minutos de atraso.

Este foi um encontro no quadro das relações permanentes que temos mantido - dos bons encontros que tenho mantido com o Presidente João Lourenço. Fizemos o ponto das relações muito fraternas que existem entre Portugal e Angola, que, felizmente, decorrem muito bem dos pontos de vista económico, das relações entre as nossas empresas, das relações culturais e entre os nossos povos", começou por afirmar o primeiro-ministro português.

Logo a seguir, António Costa referiu-se ao processo da Procuradoria-Geral da República portuguesa que envolve o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente no âmbito da operação "Fizz", em que está acusado de branqueamento de capitais e de corrupção ativa.

António Costa afirmou que não se pode ignorar "que existe uma questão - e uma só questão - que não depende dos poderes políticos de Portugal e de Angola e que decorre exclusivamente da responsabilidade das autoridades judiciárias e que tem uma única consequência: Não haver visitas de alto nível de uns e outros aos respetivos países".

Felizmente, tudo o resto decorre com toda a normalidade na excelência das nossas relações. Sempre que me encontro com o Presidente João Lourenço encontramo-nos como bons amigos", disse, já depois de ter referido que a última reunião entre ambos foi há menos de dois meses, em Abidjan, na Costa do Marfim.

"Relações são insubstituíveis"

Interrogado sobre se este encontro teve alguma consequência positiva para desbloquear o problema do foro judicial existente entre os dois países, António Costa respondeu que "uma imagem vale mais do que mil palavras".

A forma calorosa como o Presidente João Lourenço cumprimentou a delegação portuguesa é um bom sinal das boas relações que existem entre nós. Na vida das pessoas, entre amigos, muitas vezes há problemas que se metem pelo caminho - problemas que nem uns nem outros podem resolver. Neste caso, nem as autoridades políticas de Angola, nem as portuguesas, podem resolver, mas esse problema não perturba o que é essencial: Como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola [Manuel Domingos Augusto], recentemente, as relações luso-angolanas são insubstituíveis", citou o líder do executivo português.

António Costa defendeu depois que, da parte dos empresários, dos professores universitários ou escritores continuem a estreitar-se as relações entre os dois países.

Vamos aguardar serenamente que as decisões que as autoridades judiciárias têm de tomar sejam tomadas. Um dia, seguramente, poderei encontrar o Presidente João Lourenço ou em Luanda ou em Lisboa. Enquanto não nos encontramos em Lisboa ou em Luanda, também não faltam lugares no mundo para nos encontramos - e as relações vão prosseguindo", declarou o primeiro-ministro, aqui numa mensagem mais informal para desdramatizar a questão sobre o estado das relações luso-angolanas.

Ainda em relação ao caso que envolve o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, António Costa insistiu que Angola "mantém a sua posição, entendendo que o processo deve ser remetido para Angola para ali ser tramitado".

Questionado sobre eventuais consequências negativas se o caso que envolve Manuel Vicente se prolongar por muito tempo, o primeiro-ministro referiu-se "a uma única restrição: Visitas ao mais alto nível de chefes de Estado e de Governo aos dois países".

Fora essa restrição tudo decorre normalmente. Os angolanos continuam a ser bem-vindos Portugal e os portugueses muito bem-vindos a Angola. Mesmo nas relações políticas entre os dois países, sempre que se encontram, são de grande estima e de amizade", acrescentou.

Aplauso à separação do processo

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola congratulou-se com a decisão da Justiça portuguesa de separar o processo do ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, dizendo que corresponde a um passo no sentido desejado pelas autoridades de Luanda.

O chefe de Estado angolano delegou no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Manuel Domingos Augusto, as declarações à comunicação social sobre os resultados da reunião com o primeiro-ministro português.

Angola nunca interrompeu o diálogo com Portugal", começou por salientar o responsável máximo da diplomacia angolana, antes de se referir ao processo da Justiça portuguesa contra o ex-vice-Presidente Angolano Manuel Vicente.

Todos desejamos que o problema venha a ser resolvido o mais breve possível para que a harmonia que tem caraterizado as nossas relações possa ser retomada. Nós, hoje, tivemos a oportunidade de trocar algumas ideias com o primeiro-ministro português e não fugimos à questão que a todos incomoda", disse.

Manuel Domingos Andrade referiu-se então, neste preciso contexto, à decisão judicial da passada segunda-feira de separar o processo de Manuel Vicente no âmbito da "operação Fizz"

Tomámos nota da evolução que o processo está a conhecer e reafirmámos a esperança de que haja a muito breve trecho um desfecho que corresponda à vontade dos dois governos, mas também dos povos angolano e português", declarou.

Segundo ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, a delegação governamental angolana já se encontrava em Davos quando tomou conhecimento do mais recente desenvolvimento no processo judicial.

Tomámos conhecimento da decisão judicial sobre a separação dos processos. Sem entrar em detalhes técnicos, acreditamos que se trata de um passo no sentido do desejo das autoridades angolanas e - acredito - que também das autoridades portuguesas. Não há razões para que este processo continue a ser uma sombra naquilo que são as relações harmoniosas e altamente desejadas pelos povos dos dois países", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola.

 

 

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