PCP quer alargar período de conservação de dados sobre perdões fiscais - TVI

PCP quer alargar período de conservação de dados sobre perdões fiscais

António Filipe (PCP)

Período de conservação obrigatória de documentos sobre perdões fiscais pelo Banco de Portugal é, atualmente, de dez anos

O PCP anunciou esta sexta-feira que apresentará uma iniciativa legislativa para "alargar significativamente" o período de conservação obrigatória de documentos sobre perdões fiscais pelo Banco de Portugal, que é atualmente de dez anos.

Não é aceitável que o Estado português se veja na contingência de querer facultar elementos a autoridades judiciárias e que eles já tenham sido destruídos por via da legislação vigente", defendeu o deputado comunista António Filipe no plenário da Assembleia da República.

António Filipe intervinha no debate sobre uma proposta de lei para a transposição de diretivas europeias de regulação do acesso à informação administrativa e reutilização de documentos administrativos em matéria ambiental e informações do setor público, que foram hoje aprovadas no parlamento, com a abstenção do CDS-PP e o voto favorável dos restantes partidos.

O deputado comunista aludiu a notícias recentes em que era referida "a possibilidade de os documentos que estão na posse do Banco de Portugal relativos aos regimes especiais de regularização tributária poderem vir a ser destruídos em breve, na medida em que a legislação prevê que ao fim de dez anos a documentação relativa aos chamados perdões fiscais possa ser destruída.

O debate sobre a transposição das diretivas europeias ficou marcado pelas reservas manifestadas por todos os partidos relativamente à necessidade de acautelar a proteção de dados pessoais, sobretudo em matérias relativas a sigilo médico, bem como a disponibilidade para trabalhar na especialidade a concretização de soluções nesse sentido.

O deputado do CDS-PP Álvaro Castelo Branco anunciou que os centristas apresentarão propostas na especialidade, sublinhando que o "reconhecimento da necessidade de promover a transparência e garantir acesso dos cidadãos a informação administrativa relevante não pode colocar em causa outros princípios constitucionais e fundamentais como a proteção da reserva da intimidade da vida privada associada aos dados pessoais".

Pelo PSD, Sara Madruga da Costa aproveitou para sublinhar que a iniciativa legislativa do Governo é tão escassa que "quando acontece, dá-se logo por ela", apontando que o executivo não tem apresentado propostas de lei ao parlamento.

José Manuel Pureza, pelo BE, sublinhou a necessidade de ser acautelada a proteção de dados pessoais, por exemplo, relativas a opções políticas ou religiosas ou ao sigilo médico, bem como o contraste relativamente a outros sigilos: "Não se percebe que fique excluído da presente lei o acesso a documentos sujeitos a sigilo bancário ou fiscal e fique ao mesmo tempo incluído na previsão da lei documentos que sejam sujeitos a sigilo médico".

O socialista Pedro Delgado Alves considerou que esta poderá ser uma "oportunidade para revisitar" o regime das matérias classificadas.

Tivemos oportunidade de aprovar nova lei sobre o regime do segredo de Estado mas continua sem consagração na lei um regime solido, garantístico, de acesso a matérias classificadas, que aqui vem entroncar diretamente nesta proposta", argumentou.

O Governo fez-se representar pela ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuela Leitão Marques, que apresentou a proposta, que, sublinhou, segue os princípios da "administração aberta" e vem consagrar "um conteúdo mínimo de informações sujeitas a divulgação pela internet".

É o caso de "planos de atividades, orçamentos, composição orgânica e outros instrumentos de gestão, bem como de informação ambiental relativa a políticas, planos, estudos de impacto ambiental e acordos sobre o ambiente", apontou Manuela Leitão Marques.

A proposta estabelece ainda "que o acesso possa ser feito através de plataformas centralizadas, como o dados.gov, que procedem à referenciação da informação e consagra-se o princípio de que a reutilização dos dados disponibilizados na internet é permitida e pode ser feita de forma gratuita", de acordo com a ministra.

A proposta estabelece que os documentos administrativos são abrangidos pelo regime constitucional e europeu de proteção de dados pessoais, passando os documentos nominativos a ser alvo do seu exato nível de salvaguarda. Resolvem-se, assim, as dúvidas de constitucionalidade e a coerência entre o regime de acesso a documentos administrativos e o regime de proteção de dados pessoais", sustentou.

A ministra afirmou também que a proposta reforça "as garantias de privacidade dos utentes do Serviço Nacional de Saúde" e propõe uma limitação de mandatos aos membros da CADA.

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