Marcelo é "boa esperança" para o país e Guterres é "excelente" para a ONU - TVI

Marcelo é "boa esperança" para o país e Guterres é "excelente" para a ONU

Declarações do ex-Presidente da República Jorge Sampaio à margem de uma conferência, em Lisboa

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio felicitou, esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa pela vitória nas eleições presidenciais, afirmando ter “boa esperança” em relação ao que ele pode fazer pelo país na Presidência da República.

“Os meus parabéns ao novo Presidente da República. Conheço bem do que se trata, nas circunstâncias atuais que são obviamente muito exigentes e muito difíceis, num país que está também em condições difíceis e muito exigentes”, frisou Jorge Sampaio, que falava à margem de uma conferência, em Lisboa.


Na opinião de Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa “ganhou e ganhou bem”, desejando que o agora eleito Presidente da República “tenha uma excelente presidência porque isso é importante para o sistema político português, para o sistema do Governo e para Portugal”.

Recusando fazer quaisquer avaliações pessoais, disse ter “uma boa esperança, sincera, em relação àquilo que o professor Rebelo de Sousa como Presidente da República pode fazer pelo país”, admitindo que ele pode ajudar a “sarar as feridas que existem”, usando uma expressão do próprio Marcelo.


“Uma pessoa com tantas capacidades tem agora esta grande ocasião de demonstrar que pode ser estadista numa situação que é difícil e em que o revigoramento da função presidencial vai estar na ordem do dia”, defendeu.

De acordo com a Lusa, Jorge Sampaio apontou que a eleição “decorreu com alto civismo e participação”, lembrando que se tratou de uma campanha “muito extensa” e muito próxima das eleições legislativas.

Sobre a forma como decorreram as eleições presidenciais para o Partido Socialista (PS), Jorge Sampaio começou por recusar fazer qualquer comentário, mas depois acabou por defender que é tempo de por o que aconteceu “para trás das costas” e que o PS tem que olhar em frente.

“As presidenciais encerraram-se, encerrou-se esse capítulo, o país precisa agora de um Governo ativo nas circunstâncias atuais que são difíceis e exigentes, sobretudo no contexto europeu que estamos a viver”, ressalvou.

Questionado sobre o facto de terem existido duas candidaturas (Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém) próximas do PS e de isso poder fraturar o partido, Jorge Sampaio foi perentório, afirmando que conhece bem o PS: “Não acho que isto mereça nenhuma fratura, nenhum protagonismo especial seja de quem for”.

“As funções estão encontradas, vamos ver o que se pode extrair delas. Acho que não se devia perder tempo com coisas que tem a ver com o passado”, concluiu.

 

Guterres é "excelente candidato" a secretário-geral da ONU


Jorge Sampaio disse, também esta quarta-feira, que António Guterres é um "excelente candidato" a secretário-geral das Nações Unidas e que é uma candidatura pela qual vale a pena lutar, mesmo não sendo um processo fácil.

Em declarações aos jornalistas, à margem da conferência internacional “Love Synapses – Building Strong Children, Families and Communities, que decorreu esta quarta-feira, em Lisboa, Jorge Sampaio congratulou-se com a candidatura do ex-Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados António Guterres a secretário-geral da ONU.

“Acho que era um passo que tem que ser dado. O engenheiro António Guterres é um excelente candidato por todas as razões que são conhecidas e ditas”, apontou Jorge Sampaio.


Jorge Sampaio lembrou que a candidatura “é um processo difícil”, defendendo, por isso, que haja um “empenhamento a sério” e lembrando que as “consequências estão obviamente dependentes de muitos fatores externos que Portugal não controla”.

“Se Portugal estiver devidamente empenhado e com o papel que tem tido internacionalmente, e que ele [António Guterres] tem tido internacionalmente, sobretudo, eu penso que é uma coisa pela qual vale a pena lutar e que prestigia Portugal, naturalmente”, defendeu o ex-Presidente da República.

Jorge Sampaio entende que “a possibilidade existe”, mas não deixou de alertar que “não vai ser nada fácil”, apontando que não vale a pena ter essa ilusão.

“É um excelente candidato e portanto é uma honra para Portugal ter este candidato e ter a possibilidade de vir a acontecer uma coisa deste género”, acrescentou.

Num comunicado divulgado na semana passada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Governo anunciou que vai apresentar a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas.

A candidatura do ex-primeiro-ministro António Guterres ao posto de secretário-geral das Nações Unidas junta-se a várias outras já oficialmente apoiadas pelos governos da Bulgária, Croácia, Macedónia ou Eslovénia.

Na Carta das Nações Unidas estabelece-se que o cargo de secretário-geral é designado pela Assembleia Geral da organização, depois de aprovado pelo Conselho de Segurança, onde tem que passar pelo crivo dos cinco países com assento permanente e poder de veto: Estados Unidos da América, Reino Unido, Rússia, França e China.

António Guterres foi alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados durante dez anos, tendo terminado o mandato em final de 2015.
 

Crise dos refugiados implica soluções europeias


O ex-Presidente da República Portuguesa afirmou ainda estar pessimista perante a crise dos refugiados e o “momento difícil que o mundo atravessa”, defendendo que se trata de um desafio que tem de ter soluções europeias.

Jorge Sampaio esteve em Lisboa, a encerrar a conferência internacional “Love Synapses – Building Strong Children, Families and Communities”, organizada pela Fundação Brazelton/Gomes-Pedro, que decorreu na Fundaçao Calouste Gulbenkian.

Antes da sua intervenção, em declarações aos jornalistas, e confrontado com a decisão do governo da Dinamarca em revistar e confiscar bens e valores de refugiados, disse estar muito preocupado e pessimista.

“Isto não é a Europa, isto não pode ser a Europa do futuro, não é aquilo que ajudámos a construir”, defendeu. Por outro lado, apontou que se trata de uma “deceção” que deve unir todos os países de uma forma efetiva. “Isto não tem soluções nacionais, isto não tem soluções xenófobas, tem soluções europeias e é esse desafio que está colocado perante nós”, defendeu. 


Na intervenção, que tinha como tema “Tolerância e Confrontações entre Culturas”, Jorge Sampaio voltou a confessar o seu pessimismo, apesar de admitir que se obriga “a nunca desistir de procurar razões para acreditar que a mudança é possível e que a esperança se constrói e se fortifica”.

“O meu sentimento é que o mundo atravessa um momento especialmente difícil, marcado pela acumulação de inúmeros problemas, de novas e velhas rivalidades e de um sem número de contradições, perante a crescente incapacidade da chamada comunidade internacional [em] reverter esta situação”, disse o ex-Presidente da República.

Na opinião de Jorge Sampaio, os impasses e as divergências começam a criar fraturas entre os vários Estados membros, o que ameaça “seriamente” o futuro do projeto europeu comum.
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