António Vitorino (PS), António Lobo Xavier (CDS-PP) e Ângelo Correia (PSD) reconheceram quinta-feira à noite a dificuldade dos partidos se reformarem, lamentando que a doutrina partidária não tenha acompanhado as mudanças na sociedade, noticia a agência Lusa.
«É muito difícil os partidos auto-reformarem-se», afirmou o presidente da mesa do congresso do PSD Ângelo Correia, num debate realizado no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), sobre a tomada de posição da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), que em Fevereiro alertou para a «degradação da qualidade cívica» e a «degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários».
Concordando com a ideia de Ângelo Correia de que os partidos não são «auto-reformáveis», António Lobo Xavier foi mais longe, considerando que «o aparecimento de um novo partido também não terá nenhuma função regeneradora».
«O sistema partidário cristalizou-se. É inviável criar um novo partido em Portugal com o mínimo de aspiração a fazer parte do bloco governativo», acrescentou.
Por isso, continuou, a possibilidade de regeneração é quase nula.
«Não acredito que os partidos mudem», declarou.
O socialista António Vitorino alinhou igualmente na impossibilidade dos partidos se «auto-reformarem», alertando também para «o desfasamento entre as expectativas criadas nos discursos dos políticos» e a «efectiva capacidade de poder corresponder às expectativas criadas».
«Há um desfasamento entre o discurso de um candidato a primeiro-ministro e as suas capacidades reais. Há um enorme divórcio mitómano relativamente às suas capacidades, o que só afasta os cidadãos», corroborou o democrata-cristão António Lobo Xavier.
Ainda a propósito do divórcio entre os eleitores e a política, Lobo Xavier recordou as mudanças que foram acontecendo na sociedade nos últimos anos e que não foram sendo acompanhadas pelas forças partidárias.
«O que os partidos e os deputados significam mudou radicalmente mas os partidos mantiveram a mesma estrutura. Há um grande desfasamento entre o que os partidos significam e o que os cidadãos precisam», disse.
«A doutrina dos partidos não acompanhou a realidade», concordou o social-democrata Ângelo Correia.
Ângelo Correia levou ainda ao debate o problema da «rarefação de novas pessoas na vida política» e da «profissionalização da classe política».
Defendendo um regime de incompatibilidades menos apertado, Ângelo Correia lamentou que a classe política se esteja a «defender da maneira errada», ou seja, «inibindo pessoas válidas de participarem na vida política».
Contudo, acrescentou, «o não profissionalismo é insuficiente», sendo necessário que «a grande reforma dos partidos venha de cima», começando por trazer de volta as «pessoas de grande qualidade que se afastaram».
Políticos dizem que os partidos não mudam
- Portugal Diário
- 4 abr 2008, 08:13
António Vitorino (PS), António Lobo Xavier (CDS-PP) e Ângelo Correia (PSD) unânimes em criticar estruturas partidárias
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