Comissões arrancam com «alegria» e o fantasma da Moody's - TVI

Comissões arrancam com «alegria» e o fantasma da Moody's

Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República - JOSE SENA GOULAO / LUSA

Deputados tomaram posse na especialidade. Enquanto uns ainda se perdem nos corredores, outros discutem a descida do rating

A conversa de elevador no Parlamento hoje não é sobre o tempo. «Então e a Moody's?», atira um deputado a outro. Faltam dez minutos para começarem a tomar posse as 12 novas comissões parlamentares e o assunto do dia já está escolhido.

Nos corredores, um deputado pergunta: «A sala 6, onde é?». «É só seguir sempre em frente», responde pela enésima vez um funcionário da Assembleia da República.

Ao longe, já aí vem a nova presidente, Assunção Esteves, que pára para cumprimentar toda a gente. «Um dia ainda vou conseguir cumprimentar todos os funcionários do Parlamento», diz, sorridente. Na tal sala 6, esperam-na os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, a mesma que Assunção Esteves presidiu entre 2002 e 2004.

Admitindo que não se recorda de todos os «hábitos» parlamentares, a presidente começa a chamar os deputados pela folha de presença ainda com alguma dificuldade. «Alguns eu não conheço», admite. Segue-se o «ritual» de instalação da comissão, com Fernando Negrão (PSD) a ser eleito presidente sem necessidade de haver votação. «Desejo-vos boa vontade e alegria para aqui e lá fora sermos todos um pouco mais felizes», remata Assunção.

Negrão toma as rédeas com o discurso da praxe, entre elogios mútuos e promessas de «responsabilidade». As iniciativas legislativas - as novas, que já foram apresentadas, e as velhas, que transitaram da anterior legislatura - é que vão ter de esperar pela próxima semana, quando os trabalhos realmente arrancam.

Uma hora depois, tomam posse mais quatro comissões: Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, Defesa Nacional, Assuntos Europeus e uma das mais importantes, a de Orçamento, Finanças e Administração Pública. O socialista Eduardo Cabrita é eleito presidente desta última, alertando para o «trabalho intenso e pesado» que têm pela frente.

Talvez por isso, a sala é pequena para acolher tantos deputados. Principalmente à direita - sinais de outros tempos no Parlamento -, têm de sentar-se em locais improvisados. O ex-secretário de Estado Paulo Campos, por exemplo, chega atrasado e tem como «castigo» ficar longe dos restantes colegas do PS.

Ainda são 12h00 e já há mais quatro comissões a começar. «Vais tomar posse onde?», pergunta um deputado a uma colega. «Economia e Obras Públicas», responde a deputada. «Então não é aqui». Ainda há muitas caras novas perdidas, mas também há velhos conhecidos que agora conseguem percorrer os corredores calmamente. É o caso do ex-ministro Pedro Silva Pereira, que caminha sozinho, sem a multidão de jornalistas que normalmente o encurralava no Parlamento.

Comissão de Agricultura e Mar, Comissão de Saúde, Comissão de Educação, Ciência e Cultura, é impossível estar em todo o lado. Nesta última é necessário ir a votos para eleger Ribeiro e Castro (CDS) como presidente.

Como não estava à espera do escrutínio, a deputada Heloísa Apolónia teve de pedir emprestada uma caneta aos serviços da Assembleia para votar. Ribeiro e Castro até teve de ir buscar outro boletim, certamente para não se enganar ao votar em si próprio.

À tarde, Assunção Esteves regressa para dar posse à Comissão Eventual para Acompanhamento das Medidas do Programa de Assistência Financeira a Portugal, presidida por Vieira da Silva. E garante ter «treinado para ter menos hesitações». Ao mesmo tempo, a Comissão de Segurança Social e Trabalho, a Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local e a Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação atraem menos atenções.

No Salão Nobre, as fotos de família sucedem-se. O fotógrafo oficial dá indicações, as mulheres ficam à frente, os homens ficam atrás. «Já está», ouve-se. As comissões já podem começar a trabalhar.
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