No artigo da publicação, a advogada nunca refere nomes, mas o contexto não deixa dúvidas. Com o título «Vamos a um Supor», a advogada recorda a véspera da detenção de José Sócrates, dia em que os seus constituintes também foram detidos.
«Suponhamos que os cidadãos chegam ao aeroporto num voo proveniente de Paris pelas 18:00, que são presos sem mais, sem que lhes seja entregue um mandado de detenção, que lhes são retirados os telemóveis das mãos para que não possam fazer qualquer contato, que são levados sob forte escola (…) para a alfândega de Lisboa, onde são revistados e apreendidos todos os documentos que transportavam consigo sem que igualmente houvesse um mandado para o efeito.»
Neste exercício de suposição, a advogada vai mais longe.
A descrição segue com uma busca ao escritório não acompanhada.«Suponhamos ainda que uma das vítimas do sequestro ocorrido no dia 20 de novembro de 2014 era advogado.»
A lista de factos aparentemente irregulares não fica por aqui.«Suponhamos agora que, movidos pelo poder desmedido e adrenalina circulante (galvanizada pelo número de operacionais intervenientes, mais de 30, pela presença de um juiz de instrução e de um alto procurador da república) pelas 22:30 'agarram' literalmente no advogado, o levam para a sua própria casa e aí fazem busca não autorizada, apreendem documentação vária na presença da mulher, do filho de 5 anos e do bebé com dois meses, que assistem horrorizados à vioLência com que despejam gavetas e circulam em passo militar pela casa.»
«Suponhamos agora que os autos de busca (..) são falsos.»
«Suponhamos que os arguidos, durante os cinco dias que duraram as diligências de primeiro interrogatório (…) não tiveram sequer direito a tomar banho, a mudar de roupa, a apresentar-se condignamente perante o juiz que os vai interrogar.»
Paula Lourenço, que nunca refere nomes, deixa muitas dúvidas, várias inqueitações e uma pergunta sem resposta
«Como se compagina neste jogo do 'Vamos a um Supor' o direito de defesa?»