O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou esta segunda-feira que a decisão do Reino Unido de retirar Portugal da lista segura de países a viajar é “humilhante” para os britânicos.
“Diria que a decisão é mais humilhante para a tradição britânica de decisões racionais”, disse Augusto Santos Silva após ser interrogado por Miguel Sousa Tavares sobre o timing da retirada do país da lista verde, dias após a final da Liga dos Campeões no Porto.
O governante explica que os argumentos que motivaram o Executivo de Boris Johnson a não considerar nenhum país da União Europeia “seguro para viajar” são “inválidos”. Isto porque, por um lado, a taxa de positividade em Portugal situa-se nos 1,2% - abaixo dos 4% que servem de limiar mínimo do Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças. Por outro, a presença da mutação nepalesa da estirpe indiana “não tem qualquer relevância estatística” - até ao momento, foram detetados 12 casos desta “mutação delta”.
No mesmo sentido, Santos Silva destaca que “não há nenhum estudo que demonstre que a vacinação não seja eficaz no combate a todas estas mutações” e recorre a uma história do Norte para sinalizar a decisão britânica: "Há aquela piada que se conta na nossa terra da mãe extremosa que, vendo o filho na recruta a marchar em sentido completamente contrário do resto do pelotão, diz que o pelotão está errado".
Questionado se alguma vez teve em estudo a decisão de fechar fronteiras com o Reino Unido, como França fez em janeiro, o ministro rejeita um movimento com pouca racionalidade e aponta para os critérios que ditam que nenhum cidadão estrangeiro entre em território português sem prova de que não está infetado com o novo coronavírus.
O que nós usamos é este critério. Depois, para países específicos, como a África do Sul, Índia e Brasil, por causa das variantes, exigimos, para além do teste, quarentena. Parece-nos que este critério é racional e parece-nos que numa altura como estas a racionalidade é o nosso melhor aliado".
Novas medidas na fronteira apanharam de surpresa os dois governos
Esta segunda-feira, Espanha passou a exigir a quem viajar de Portugal por via terrestre um teste negativo à covid-19, certificado de vacinação ou de recuperação da doença, segundo o Consulado Geral de Espanha em Portugal.
Naquilo que pode ser visto como algo que “dificulta a vida dos portugueses”, o ministro dos Negócios Estrangeiros sublinha que, se ele foi apanhado de surpresa, também o Executivo espanhol não tinha completo conhecimento antecipado da decisão.
Se se pode dizer que o ministro dos Negócios Estrangeiros foi apanhado de surpresa, também membros do governo de Espanha com quem falei foram apanhados de surpresa”, admite.
Santos Silva volta a ameaçar com medidas recíprocas e esclarece que aquilo que foi acordado com os parceiros vizinhos “era facilitar a entrada de estrangeiros em Espanha, não de dificultar a entrada pela fronteira terrestre”.
Assim, o ministro fala naquilo que é um “erro técnico” e sublinha que a nova alteração “não é conforme com a boa prática de gestão conjunta”.